Batalhas de Independência do Brasil: Batalha de Pirajá e a sua importância para a Bahia

de

Prof. Esp. Pedro Silva Drummond

Introdução

No ano de 2022, se completará 200 anos da Independência do Brasil, e durante todos esses anos, existe ainda uma crença em boa parte da população que o processo de Independência ocorreu através da participação de pouquíssimos personagens e com uma aceitação por parte de todos os envolvidos.

Nas últimas décadas e anos, uma outra visão está surgindo. Novos materiais, documentos, livros, estão demonstrado como a Independência, principalmente em algumas regiões do País, como o Nordeste, precisaram ser conquistadas. A região Nordeste desde a chegada dos portugueses ao Brasil, sempre foi um local de forte presença lusa no País, durante o ano da Independência, não era diferente, muitos portugueses não queriam a separação com Portugal e resistiram as decisões tomadas pelo Príncipe Regente, D. Pedro I.

Nesse contexto, o ensaio analisará uma das batalhas da Independência, ocorrida na Bahia, a Batalha de Pirajá.

Quer conhecer outra Batalha da Independência: https://historiamilitaremdebate.com.br/batalha-do-jenipapo-1823-uma-das-batalhas-de-independencia-do-brasil/

Batalha de Pirajá

A Bahia desde a chegada dos portugueses ao Brasil foi uma região de grande concentração de portugueses, por muitos anos foi a Capital do Brasil e economicamente foi muito próspera. Na Bahia o início dos conflitos entre portugueses (vindos de Portugal) e brasileiros, teve início antes mesmo da Proclamação da República, fevereiro de 1822, quando foi nomeado o brigadeiro português Inácio Madeira de Melo para o cargo de Governador de Armas ao invés da manutenção do brigadeiro brasileiro Freitas Guimarães, que tinha o apoio das tropas e elite baiana.

Durante todos esses meses aconteceram diversos conflitos entre as tropas leais a Portugal e ao governo do Rio de Janeiro

Em Julho de 1822, saiu do Rio de Janeiro, o novo comandante do denominado Exército Pacificador, Pierre Labatut, francês com experiência nas campanhas napoleônicas e guerras de libertação da América Espanhola. Antes da chegada de Labatut à Salvador, o novo comandante, passou por Alagoas, Pernambuco e Sergipe, onde foram angariadas tropas que se juntaram ao exército de Labatut.

Panteão ao General Labatut
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Pante%C3%A3o_ao_General_Labatut_Piraj%C3%A1_
Salvador_Bahia_2019-0981.jpg

A chegada das tropas brasileiras fez com que Labatut reorganizasse as tropas, como explica o pesquisador Neto: “O chefe das forças brasileiras reorganizou as tropas em duas “divisões”: uma á direita, sobre a estrada das Boiadas, composta fundamentalmente pelas tropas baianas que estavam em Pirajá. Foi entregue, em 3 de Novembro de 1822, a Barros Falcão de Lacerda, promovido por Labatut a coronel. Lacerda assumiria a divisão três dias antes da Batalha do Pirajá. A divisão da esquerda, na área de Itapuã, foi entregue ao “pessoal da Torre”, sob o comando de Felisberto Caldeira.” (NETO, 2019, p.345)

No dia 08 de Novembro aconteceu a Batalha do Pirajá, como relata Hernani Donato: “Ao amanhecer, lanchões portugueses comboiados por duas canhoneiras conduziram 300 infantes de linha e 100 marinheiros para a costa de São Brás e Escada. Cruzando o Rio Cobre, dirigiram-se para o Cabrito, enquanto segunda coluna, ordenada pelo ten. cel. Vitorino José de Almeida Serrão, avançava pela Estrada das Boiadas, no rumo de Pirajá.” (DONATO, 1987, p.390).

No livro Obras do Barão do Rio Branco VI: efemérides brasileiras, o dia da Batallha de Pirajá é explicado da seguinte forma: “Barros Falcão, protegido por algumas obras, repeliu três ataques do coronel João de Gouveia Osório, e ocasionou-lhe grandes perdas, incomodando vivamente a sua retirada. Com o coronel Gouveia Osório, estavam os 1o e 2o batalhões da legião constitucional lusitana, os 4o e 12o de infantaria, e um contingente da artilharia; Barros Falcão tinha sob o seu comando 1.300 homens dos corpos seguintes: batalhão de Pernambuco (major Joaquim José da Silva Santiago), a que estavam agregados os milicianos do Penedo; um batalhão de milicianos da cidade do Rio de Janeiro (capitão Guilherme José Lisboa); a legião de caçadores da Bahia (tenente Alexandre Gomes de Argolo Ferrão, depois general, e barão de Cajaíba); o corpo de Henrique Dias (major Manuel Gonçalves da Silva); meia companhia do 1o regimento de infantaria da Bahia (alferes Francisco de Faria Dutra) e uma bateria de artilharia do Rio de Janeiro.” (GARCIA, 2012, p.632).

O resultado da batalha foi uma vitória do exército pacificador, com os militares sob o comando de Labatut, lutando por “cerca de oito horas de combate, durante os quais operou-se em ambas as frentes um movimento decisivo e geral de ofensiva… eram de aproximadamente dois mil homens, que compunham forças baianas, pernambucanas e cariocas.” (NETO, 2019, p.348)

Quanto às perdas militares, existe uma imprecisão em relação aos números, como relata  Hernani Donato:  “Segundo o gen. Labatut, as dos vencedores subiram a 200 mortos (ofício do dia 8), mas em outro documento (ofício do dia 9) afirma haverem sido de “200 feridos e grande quantidade de mortos”. No jornal fluminense O Espelho, de 26.11., leu-se correspondência expedida da BA, narrando que os portugueses sofreram 375 mortos e feridos, entrando 221 para os hospitais. O cronista Acioly garante haver sido de 80 o número de baixas para ambos os lados. O jornal português da BA, Idade d’Ouro, noticiou para os reinóis 30 e poucos mortos; O Gen. Madeira referiu 64 mortos, feridos e extraviados. O Diário do Governo, de Lisboa, menciona 70 em total. Consequência principal do encontro: alevantamento do moral do exército do novo país e a certeza, para Madeira, de que não conseguiria alterar a situação por meios militares” (DONATO, 1987, p.390).

Entrada do Exército Libertador na Cidade de Salvador (02 de Julho de 1823)
http://lcfaco.blogspot.com/2015/12/presciliano-silva-um-dos-papas-de.html

Conclusão

As Guerras de Independência do Brasil acontecem em um contexto da História do Brasil, no qual, os militares portugueses tinham se acostumado a lutar pelos interesses de Portugal, desde a chegada da Corte Portuguesa, as tropas que estavam no País, lutaram na conquista da Cisplatina, Guiana Francesa e na Revolução Pernambucana. A visão de que a independência ocorreu ou ocorreria de uma forma pacifica indica a falta de observação do que eram os portugueses que viviam no Brasil.

Quanto a Batalha de Pirajá não foi à última batalha na Bahia, nem mesmo a decisiva na derrota dos portugueses, porém, a batalha foi importante para os brasileiros, levantando a moral dos militares vitoriosos, provocando uma diminuição nas tropas portuguesas da região, e um aumento das tropas brasileiras, com voluntários e aumento dos efetivos vindos de todo o País.

Após a Batalha de Pirajá o Exército Pacificador manteve sua luta contra as tropas portugueses que administravam a Bahia, até 2 de Julho de 1823, quando as tropas brasileiras entraram em Salvador e conseguiram uma vitória definitiva sobre Madeira de Melo e os portugueses na região.

Imagem de Destaque: Batalha de Pirajá – https://atarde.com.br/bahia/importante-episodio-da-independencia-da-bahia-batalha-de-piraja-completa-199-anos-1178260

Bibliografia

DA SILVA, Rayanne Gabrielle. O Processo de Independência Brasileiro na Bahia e no Piauí: Guerra, Resistência e Vitória (1822-1823). Revista Cantareira, ed. 29, 2018.

DONATO, Hernani. Dicionário das Batalhas Brasileiras: Dos Conflitos com os Indígenas às Guerrilhas Políticas Urbanas e Rurais. São Paulo: BRASA, 1987

GARCIA, Rodolfo (Org.). Obras do Barão do Rio Branco VI : efemérides brasileiras. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2012.

NETO, Hélio Franchini. Independência e Morte. Política e Guerra na Emancipação do Brasil 1821-1823. 1ª ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 2019.

Especialização em História Militar pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), Graduação em História (Bacharel e Licenciatura) pela Universidade Gama Filho (UGF), autor de Artigos em História Militar.

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