Em 19 de março, o Washington Institute realizou um fórum virtual com especialistas para discutir os riscos e consequências de um ataque preventivo ao programa nuclear do Irã. Participaram Dana Stroul, Richard Nephew, Michael Eisenstadt e Holly Dagres, cujas análises revelam um cenário complexo, com opções militares e diplomáticas cada vez mais urgentes.
O Cenário Atual: Pressão Máxima e Relógio Correndo
Segundo Dana Stroul, as primeiras semanas do governo Trump já marcaram mudanças significativas na política em relação ao Irã. Uma ordem executiva reviveu a campanha de “pressão máxima”, enquanto declarações públicas oscilam entre a disposição para usar força militar e o desejo de negociar. Cartas trocadas entre Trump e o Líder Supremo Khamenei sugerem um jogo estratégico em curso.
O Irã está em uma posição vulnerável. Seus ativos regionais, incluindo redes de milícias como o Hezbollah, sofreram golpes significativos durante a guerra em Gaza. Ataques recentes no próprio território iraniano danificaram defesas aéreas estratégicas e outras infraestruturas críticas. Para muitos analistas em Washington e Tel Aviv, o tempo para uma ação militar mais ampla está se esgotando.
O acordo nuclear de 2015 (JCPOA) impôs limites ao programa iraniano em troca de alívio de sanções. No entanto, desde que Trump retirou os EUA do acordo em 2018, o Irã avançou gradualmente e hoje está muito mais próximo de produzir uma arma nuclear.
O Risco de “Breakout” Nuclear
Richard Nephew destacou que, nos últimos sete anos, desenvolvimentos técnicos aumentaram drasticamente o risco de o Irã conseguir uma bomba rapidamente. O ex-secretário de Estado Antony Blinken estimou que o regime poderia produzir urânio altamente enriquecido (UHE) suficiente para uma arma em apenas seis ou sete dias – e esse prazo pode ser ainda menor hoje.
Os principais fatores para essa aceleração incluem:
- Um estoque crescente de urânio enriquecido a 60% (próximo do nível necessário para armas, que é 90%).
- Centrífugas avançadas, três vezes mais eficientes que os modelos originais.
Embora a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) ainda tenha acesso limitado ao programa, a falta de transparência sobre o número real de centrífugas e possíveis locais secretos de enriquecimento preocupa. Sanções, por si só, não são mais suficientes para deter o avanço nuclear. Medidas mais duras – como pressionar a China a parar de comprar petróleo iraniano ou até mesmo interditar carregamentos à força – poderiam escalar o conflito, mas talvez forcem o Irã a voltar à mesa de negociações.
Diplomacia ou Ataque Preventivo?
Uma solução negociada ainda é vista como o caminho mais sustentável, mas o JCPOA original está obsoleto. Um novo acordo poderia incluir:
- Maior acesso da AIEA a locais suspeitos.
- Limites nos níveis de enriquecimento e estoques de urânio.
- Restrições à proliferação de drones e mísseis.
Em troca, o Irã exigiria alívio de sanções – possivelmente até a suspensão de partes do embargo americano. A ideia de acordos renováveis a cada cinco anos (proposta por Michael Singh) poderia ser uma alternativa viável.
No entanto, Michael Eisenstadt argumenta que um ataque preventivo pode ser necessário para ganhar tempo e minar a capacidade nuclear iraniana. Seu objetivo seria:
- Causar danos máximos ao programa.
- Criar espaço para renovar a diplomacia.
- Estabelecer mecanismos regionais para conter um Irã enfraquecido.
Mas um ataque não seria um evento isolado. O Irã certamente tentaria reconstruir seu programa, exigindo uma campanha prolongada com ações encobertas e novos ataques. Israel tem capacidades avançadas para atingir alvos subterrâneos, mas o apoio dos EUA seria crucial para inteligência e defesa contra retaliações.
A Crise Interna no Irã
Holly Dagres destacou que o sentimento anti-regime no Irã está em níveis sem precedentes. Diferentemente do passado, quando a população culpava o Ocidente pelas sanções, hoje a ira se volta contra o próprio governo. Protestos como “Mulher, Vida, Liberdade” (2022) mostraram o descontentamento generalizado, e muitos iranianos veem um novo acordo nuclear como um salva-vidas para um regime que rejeitam.
A economia iraniana está em colapso:
- 21 das 31 províncias enfrentam apagões.
- O rial perdeu metade de seu valor.
- O preço da batata subiu 217%.
Alguns no regime defendem avançar rumo à bomba, citando a saída dos EUA do JCPOA em 2018. Outros esperam um acordo para aliviar a crise econômica. Enquanto isso, a queda do regime sírio reacendeu esperanças entre opositores de que o governo teocrático possa ser derrubado.
Conclusão: Opções Perigosas, Tempo se Esgotando
- Diplomacia: Um novo acordo é possível, mas exigiria concessões mútuas e enfrenta resistência interna no Irã e nos EUA.
- Ação Militar: Um ataque retardaria o programa nuclear, mas desencadearia uma escalada prolongada.
- Pressão Interna: O desgaste do regime pode forçar mudanças, mas a repressão tende a aumentar.
Com o Irã à beira do “breakout” nuclear, as opções estão se estreitando – e o custo da inação pode ser catastrófico.
Conteúdo adaptado do artigo escrito pelos autores Dana Stroul, Richard Nephew, Michael Eisenstadt, Holly Dagres disponível em: https://www.washingtoninstitute.org/policy-analysis/bombing-irans-nuclear-program-implications-preventive-action