Prof. Esp. Pedro Silva Drummond
Introdução
O Massacre de Chenogne, aconteceu no dia 1 de Janeiro de 1945, neste período os Aliados estavam avançando até a Alemanha, desde o dia que começou a Operação Overlord, conhecida como o “Dia D”, os Aliados vinham conquistando vitórias importantes sobre a Alemanha, e consequentemente, avançavam em direção ao território alemão e libertavam as terras que estavam sob domínio da Alemanha.
O Massacre, feito pelos norte-americanos, faz parte do contexto da ofensiva alemã nas Ardenas, no final de 1944, mesmo com as grandes perdas que os alemães vinham sofrendo durante o ano de 1944, a Alemanha ainda tentava “frear” os Aliados e voltar a conquistar vitórias importantes sobre os seus adversários.
Em dezembro de 1944, no início da Batalha de Bulge os alemães conseguiram capturar diversos soldados norte-americanos, muitos desses militares acabaram sendo assassinados no que ficou conhecido como o Massacre de Malmedy. O ocorrido no Massacre de Malmedy, contribuiu para o ocorrido em 1 de janeiro de 1945, no Massacre de Chenogne, quando os militares estadunidenses, provocaram as mesmas atitudes que os alemães dias atrás.
Os fatos ocorridos na ofensiva alemã nas Ardenas, não foram exceções durante a Segunda Guerra Mundial, ocorreram diversos massacres no período da Guerra, e a Convenção de Genebra, especialmente a que trata sobre os prisioneiros de guerra, foi desrespeitada em muitas ocasiões durante o conflito, por ambos os lados.
Os acontecimentos ocorridos no Massacre de Chenogne
Durante dezembro de 1944, teve início à ofensiva alemã nas Ardenas, durante o período que ocorreu as batalhas, massacres aconteceram de ambos os lados, neste artigo iremos analisar o Massacre de Chenogne, quando militares norte-americanos irão assassinar soldados alemães. O ocorrido ocorreu dias depois do Massacre de Malmedy, quando aconteceu justamente o inverso, militares da Alemanha assassinaram soldados dos EUA.
Chenogne era um pequeno vilarejo, localizado na região de Vaux-sur-Sûre, atualmente na Bélgica. No dia do Massacre que recebeu o nome do vilarejo, um grupo de soldados alemães das Waffen-SS, entre 60 a 80 soldados, estava se rendendo as tropas dos EUA, porém, mesmo com a rendição, os norte-americanos acabaram assassinando os militares alemães.
É importante salientar que, o artigo em nenhum momento está tentando justificar os atos praticados pelos norte-americanos, porém, as fontes que contribuíram para criação deste material, indicam que, o fato praticado pelos alemães inicialmente contribuíram para os atos dos norte-americanos: “Este acontecimento, que chocou a sociedade americana em geral e especialmente os militares presentes nas Ardenas, despertou um sentimento de ódio e vingança que logo se materializaria em Chenogne.” (https://www.eurasia1945.com/acontecimientos/crimenes/masacre-de-chenogne/)
Essa visão citada anteriormente é corroborada com uma nota emitida pelo Quartel-General da 328ª Infantaria, que relata o seguinte: “Nenhuma tropa da SS ou pára-quedista será feito prisioneiro , mas será fuzilado à vista.” (https://en-academic.com/dic.nsf/enwiki/2775121).
O pesquisador George Henry Bennett, ressaltou o seguinte sobre os acontecimentos: “é provável que as ordens dadas pelo 328º Regimento de Infantaria dos EUA para atirar em prisioneiros tenham sido executadas, e que outros regimentos dos EUA provavelmente foram dadas ordens semelhantes. Mas a matança de prisioneiros da SS havia se tornado rotina na época para algumas unidades. A 90ª Divisão de Infantariano Saar “executaram prisioneiros Waffen-SS de maneira tão sistemática no final de dezembro de 1944 que o quartel-general teve que emitir ordens expressas para capturar soldados Waffen-SS vivos para poder obter informações deles””. (https://en.wikipedia.org/wiki/Chenogne_massacre)
Martin Sorge, autor de livros sobre a Segunda Guerra Mundial, relata o seguinte, sobre o massacre: “Foi na esteira do incidente de Malmedy em Chegnogne que, no dia de Ano Novo de 1945, cerca de 60 prisioneiros de guerra alemães foram baleados a sangue frio por seus guardas americanos. Os culpados ficaram impunes. Sentiu-se que a base para sua ação foi ordens para que nenhum prisioneiro fosse feito.” (https://en-academic.com/dic.nsf/enwiki/2775121).
Além dos documentos que analisam os fatos ocorridos no Massacre, existem as informações dos próprios militares, como o relatado por John Fague da Companhia B, 21º Batalhão de Infantaria Blindada (da 11ª Divisão Blindada), que relata o seguinte. “Alguns dos meninos tinham prisioneiros alinhados. Eu sabia que eles iam atirar neles e odiei esse caso …. Eles levaram os prisioneiros morro acima para matá-los junto com o resto dos prisioneiros que prendemos naquela manhã…. Enquanto subíamos a colina para fora da cidade, eu conheço alguns dos nossos rapazes alinharam prisioneiros alemães nos campos de ambos os lados da estrada. Devia haver 25 ou 30 meninos alemães em cada grupo. Metralhadoras foram instaladas. Esses meninos seriam metralhados e assassinados. Estávamos cometendo os mesmos crimes de que agora acusávamos os japoneses e os alemães. Enquanto descia a estrada em direção à cidade, olhei para os campos onde os meninos alemães haviam sido mortos. Formas escuras e sem vida jaziam na neve. (https://www.ardenneswhitestar.be/images/pdf/crimesdeguerrecommisparlesforcesalliees. pdf).
Conclusão
Durante a Segunda Guerra Mundial aconteceram diversos crimes de guerra, o acontecido em 1 de Janeiro de 1945, foi somente mais um entre os massacres ocorridos no conflito.
Os eventos ocorridos naquele dia, assim como, a maioria dos crimes de guerra, principalmente, aqueles cometidos pelos Aliados, não tiveram punições e acabaram sendo encobertados após o fim da Segunda Guerra Mundial.
Oficialmente, o governo dos EUA afirmou o seguinte: “é provável que os alemães que tentaram se render nos dias imediatamente após o dia 17 corressem um risco maior” de serem mortos do que no início do ano, “não há evidências. .. que as tropas americanas se aproveitaram de ordens, implícitas ou explícitas, para matar seus prisioneiros da SS.” (https://en.wikipedia.org/wiki/Chenogne_massacre)
Ainda sobre a postura dos EUA sobre o Massacre, o pesquisador Chris Harland-Dunaway, investigou os acontecimentos e analisou um documento desclassificado, que descrevia o seguinte, após o soldado Max Cohen ter visto cerca de 70 prisioneiros alemães metralhados pela 11ª Divisão Blindada em Chenogne: “O Comandante Supremo da Força Expedicionária Aliada, General Dwight D. Eisenhower, exigiu uma investigação completa, mas o 11º Blindado não cooperou, dizendo “é tarde demais; a guerra acabou, as unidades foram dissolvidas”. Eisenhower nunca obteve uma investigação de Chenogne.” (https://en.wikipedia.org/wiki/Chenogne_massacre). O próprio advogado americano Ben Ferencz, que atuou como promotor no Tribunal de Nuremberg, afirmou o seguinte após analisar o relatório desclassificado: “me parece um acobertamento, é claro”. (https://en.wikipedia.org/wiki/Chenogne_massacre).
A história escrita pelos vencedores muitas vezes é mais difundida que aquelas feitas pelos perdedores, nesse sentido, muitas informações sobre eles não tem a mesma propagação daquelas ocorridas por aqueles que perderam os conflitos, como ocorre, com o Massacre de Chenogne.
Imagem de Destaque: Soldados norte-americanos fuzilando prisioneiros alemães nas Ardenas – https://www.eurasia1945.com/acontecimientos/crimenes/masacre-de-chenogne/
Bibliografia
– Crimes de guerra cometidos por forças aliadas. Disponível em: <https://www.ardenneswhitestar.be/images/pdf/crimesdeguerrecommisparlesforcesalliees. pdf>. Acessado em 07/04/2023.
– Masacre de Chenogne. Disponível em: <https://www.eurasia1945.com/acontecimientos/crimenes/masacre-de-chenogne/>. Acessado em 07/04/2023.
– Masacre de Chenogne. Disponível em: < https://en-academic.com/dic.nsf/enwiki/2775121>. Acessado em 07/04/2023.
– https://en.wikipedia.org/wiki/Chenogne_massacre
Especialização em História Militar pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), Graduação em História (Bacharel e Licenciatura) pela Universidade Gama Filho (UGF), autor de Artigos em História Militar.