Profº. Esp. Pedro Silva Drummond
O apresamento do Marquês de Olinda e consequentemente o aprisionamento do Coronel Frederico Carneiro de Campos, estão situados no contexto do início do conflito entre o Império do Brasil e o Paraguai, que provocará a Guerra do Paraguai ou Guerra da Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai).
A captura do navio Marquês de Olinda, em 12 de novembro de 1864, pelo navio Tacuari, da Esquadra Paraguaia, foi o primeiro acontecimento de beligerância entre as duas nações (Brasil e Paraguai), que levou a guerra.
O episódio que levou a captura do navio brasileiro fazia parte de um contexto de muitas negociações de Paz entre Brasil e Paraguai e de ameaças de Solano Lopez nos meses anteriores. Os brasileiros tinham pleno conhecimento sobre a situação entre as duas nações, e mesmo assim, no dia 3 de novembro de 1864, o vapor Marquês de Olinda saiu de Buenos Aires levando o Presidente da Província de Mato Grosso, Coronel Frederico Carneiro de Campos.
Como explica Tasso Fragoso em seu livro: “(Brasil) manteve-se confiante na conservação da paz com o Paraguai, acreditando com a mais inexplicável ingenuidade que López não ousaria pôr em obra as suas ameaças. Só assim se explica ainda haver consentido que um navio brasileiro, o Marquês de Olinda, subisse o Paraguai levando a bordo o Coronel Frederico Carneiros de Campos, presidente nomeado para a Província de Mato Grosso.” (Fragosso, Augusto Tasso, 2009, p.217).
A viagem no qual, o Marquês de Olinda foi aprisionado tinha 42 tripulantes. “Entre os passageiros havia sete oficiais brasileiros, sendo dois do Exército e cinco da Marinha.” (Corrêa-Martins, Francisco José, 2020, p.99)
O pesquisador Francisco José Corrêa-Martins, detalha quem eram esses sete oficiais que estavam no Marquês de Olinda: “Um dos oficiais do Exército era o passageiro mais importante, o Coronel do Corpo de Engenheiros Frederico Carneiro de Campos. Natural de Salvador, contava então mais de 40 anos de serviço, tendo atuado em demarcações de limites e obras públicas, além de ter sido presidente da Província da Paraíba e deputado eleito várias vezes pelo Rio de Janeiro para a Assembleia do Império. Ele seguia para tomar posse de dois cargos, o de presidente e comandante de armas da Província do Mato Grosso, para os quais fora nomeado. O outro oficial do Exército era o Capitão Primeiro-Cirurgião Dr. Antonio Antunes da Luz… e já havia estado em campanha, na Guerra contra Oribe e Rosas, entre 1851 e 1852. Ele deixava a guarnição da Província do Rio Grande do Sul para assumir o cargo de Primeiro-Cirurgião no Hospital Militar de Cuiabá. Todos os cinco oficiais da Armada que seguiam como passageiros estavam nomeados para diversas funções na Província do Mato Grosso. O Primeiro-Tenente do Corpo da Armada Agnelo de Faria Pinto Mangabeira era paraibano, contava 27 anos de serviço e já fora condecorado por integrar a Esquadra que atuou na já mencionada Guerra contra Oribe e Rosas na região do Rio da Prata. Ele deixava o comando do Transporte Iguassu para assumir o do Vapor Cuiabá, pertencente à Estação Naval do Mato Grosso. O Escrivão extranumerário do Corpo de Oficiais da Fazenda da Armada João Coelho de Almeida era mato-grossense, estava na força há cerca de três anos, e fora mandado servir no vapor que o Primeiro-Tenente Mangabeira iria comandar. Os baianos João Clião Pereira Arouca e José Antonio Rodrigues Braga, ambos classificados como Sota Piloto pela aula de pilotagem da província da Bahia, haviam sido nomeados recentemente para a função de pilotos extranumerários da Armada, tendo como destino a Flotilha do Mato Grosso. E o Fiel de Segunda Classe do Corpo de Oficiais de Fazenda da Armada Antonio Joaquim de Paula Reis, que ingressara na força cerca de dois anos antes, e fora nomeado para servir como comissário a bordo do já mencionado Vapor Cuiabá.” (Corrêa-Martins, Francisco José, 2020, p.99).
No dia 10 de novembro, o Vapor chegou a Assunção, em uma viagem que até aquele momento não tinha havido nenhum problema em relação aos paraguaios. A situação começou a mudar, no dia 12 de novembro, quando “(Solano) López tomou a resolução de mandá-lo perseguir pelo Tacuarí, que era então o mais veloz dos navios que sulcavam aquelas águas. O Tacuarí alcançou-o algumas léguas a jusante de Concepción e trouxe-o escoltado à capital, onde López o deteve como boa presa, apossando-se dele e de toda a sua carga. Depois de fazer desembarcar o Coronel Carneiro de Campos, os passageiros restantes e toda a guarnição, tratou-os a todos como prisioneiros”. (Fragosso, Augusto Tasso, 2009, p.218)
Nos primeiros dias de aprisionamento da tripulação do Marquês de Olinda, os brasileiros tinham que responder as perguntas de uma comissão paraguaia, que perguntava o seguinte: ““1º Se não sabia do protesto de 30 de Agosto daquelle anno”; se “não sabia da entrada de forças brasileiras no Estado Oriental”; “Se levava alguma instrucção particular de meu governo”; e por fim, como se “atrevia a passar pelas aguas do Paraguay, sabendo destas cousas”; e se “não temia da guerra que estava declarada ao Brasil””. (Corrêa-Martins, Francisco José, 2020, p.101).
Coronel Frederico Carneiro de Campos
Coronel Frederico Carneiro de Campos, como dito anteriormente foi um militar e político brasileiro, atuou como Coronel do Corpo de Engenheiros, participando do mapeamento das fronteiras do Império do Brasil, com a Guiana Inglesa. Como político Carneiro Campos foi Deputado pela Província do Rio de Janeiro e Presidente de Província da Paraíba na década de 1840.
No ano de 1864 foi indicado Presidente de Província do Mato Grosso (lembrando que a divisão do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, só aconteceu no século XX)
Carneiro Campos para tomar posse, embarcou no Vapor Marquês de Olinda seguindo o caminho daquela época até Mato Grosso, que era seguir para o sul do Brasil até o Uruguai, entrar no estuário do Rio da Prata, e subir o rio Paraná passando pelo Paraguai.
Durante a passagem pelo Paraguai o Marquês de Olinda foi aprisionado, como dito anteriormente, e todos os seus tripulantes, incluindo o Coronel Frederico Carneiro de Campos, acabaram presos e considerados prisioneiros de Guerra. Nesse período os tripulantes brasileiros, acabaram passando por diversos locais no Paraguai, como, o Quartel da Ribeira, Capela de São Joaquim, Prisão Vitella, Humaitá, Vila do Pilar, Posta do Boqueirão, Paso Pucú.
Durante a viagem para Humaitá, os prisioneiros acabaram sofrendo com os castigos impostos pelos paraguaios. No vapor que levaram os brasileiros, os paraguaios amarraram os pés dos seus prisioneiros, passaram fome e ficaram expostos no tempo.
Nesse período, os brasileiros continuaram viajando para outras prisões, e continuaram passando privações. Água potável e comida, com o passar do tempo começaram a ficar escassos. Em Paso Pucú, os prisioneiros eram obrigados a fazer trabalhos forçados e quase não recebiam alimentação.
Paso Pucú foi a última prisão da maioria dos prisioneiros do Marquês de Olinda, em pouco mais de dois meses, boa parte dos brasileiros acabaram mortos. O Coronel Frederico Carneiro de Campos foi um deles, falecendo no dia 3 de novembro 1867.
Depois da morte do Coronel Frederico Carneiro de Campos, os poucos prisioneiros que restaram do Marquês de Olinda, acabaram voltando para Humaitá, Timbó, San Fernando, Lomas Valentinas, Cerro León, Ascurra, Piribebuy, último local de prisão dos brasileiros. Dos oficiais que estavam no Marquês de Olinda, somente João Clião Pereira Arouca e João Coelho de Almeida, acabaram sobrevivendo às prisões.
Conclusão
A captura do Marquês de Olinda foi um dos fatores iniciais que desencadearam na Guerra do Paraguai ou Guerra da Tríplice Aliança. As motivações do apresamento pelos paraguaios aconteceram pelas seguintes situações: uma resposta de Solano Lopez, quanto à decisão do Império do Brasil em intervir no Uruguai e a suspeita de que o Vapor brasileiro transportava armamento.
Após a apreensão do Vapor e consequentemente da sua tripulação, os brasileiros, incluindo o Coronel Frederico Carneiro de Campos, acabaram passando por diversas prisões e privações, o tratamento com o tempo, piorava, havia restrições de acomodações e alimentos, levando-os a se alimentarem do que conseguiam obter.
Os tripulantes do Marquês de Olinda, em sua grande maioria, acabaram mortos, como o Coronel Frederico Carneiro de Campos, que não conseguiu resistir as condições precárias que eram submetidos.
Imagem de Destaque: Pauquet & Cosson-Smeeton – L’illustration: journal universel, Vol. XLVII, nº 1.199 (17/02/1866). https://pt.wikipedia.org/wiki/Frederico_Carneiro_de_Campos#/media/Ficheiro:Le_coronel_F._Carneiro_de_Campos,_pr%C3%A9sident_de_la_province_br%C3%A9silienne_de_Mato_Grosso,_et_prisionnier_du_dictateur_Lopez.jpg
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Bibliografia
– Fragosso, Augusto Tasso. História da guerra entre a Tríplice Aliança e o Paraguai. Rio de Janeiro: BIBLIEX, Vol.1, 2009.
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– Doratioto, Francisco. Maldita guerra: Nova História da Guerra do Paraguai. São Paulo: Companhia das Letras, 2002
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– Pederneiras, Innocencio Vellozo. Documentos Fé de Ofício do Coronel Frederico Carneiro de Campos. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Rio de Janeiro, Vol. 272, p. 301-310, 1966.
– Corrêa-Martins, Francisco José. O fim, o início e o meio: o apresamento do Marquês de Olinda e o cativeiro dos primeiros prisioneiros de guerra brasileiros a partir das memórias dos sobreviventes. Revista Navigator. Rio de Janeiro, V. 16, nº 31, p. 97-120, 2020.
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Especialização em História Militar pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), Graduação em História (Bacharel e Licenciatura) pela Universidade Gama Filho (UGF), autor de Artigos em História Militar.
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