Devastações da Segunda Guerra Mundial: A Cidade Fantasma Francesa

de

Profº. Esp. Pedro Silva Drummond

Em momentos de conflitos, infelizmente, crimes de guerra acontecem em uma grande quantidade, são encontrados diversos exemplos. Na Segunda Guerra Mundial não foi diferente, e muitos inocentes foram mortos, muitas cidades foram destruídas.

Uma dessas regiões arrasadas pela Guerra foi Oradour sur Glane, localizada na região da Nova Aquitânia (em francês, Nouvelle-Aquitaine) e que atualmente, tem um pouco mais de 2000 habitantes.

Mapa da Região de Oradiur sur Glane (localizado no alto da imagem)

A região surge no caminho dos Nazistas, após os acontecimentos que ficaram marcados na história como o “Dia-D”. No dia 6 de Junho de 1944, as tropas aliadas preparam um dos grandes ataques aos países do Eixo, através da região da Normandia. A invasão contou com aproximadamente 150 mil soldados dos países Aliados, somente no primeiro dia da invasão.

Os Nazistas que não esperavam o ataque nas praias da Normandia precisaram, nos dias seguintes, enviar reforços para o local. Foi nesse momento que o vilarejo de Oradour sur Glane será massacrado pelas tropas alemãs.

No dia 10 de Junho de 1944, quatro dias após a invasão na Normandia, a 2ª Divisão Panzer-SS Das Reich, entrou no vilarejo e massacrou os habitantes locais. Ao todo foram mortas 642 pessoas, sendo que aproximadamente 250 eram mulheres e 200 crianças. A estimativa da época era que viviam no vilarejo cerca de 1000 pessoas. Entre as pessoas que estavam no local, menos de 10 pessoas conseguiram sobreviver.

A 2ª Divisão Panzer-SS Das Reich já tinha nos dias anteriores ao que aconteceu em Oradour-sur-Glane, feito um outro extermínio, conhecido como o Massacre de Tulle, também na França, onde morreram cerca de 100 pessoas. Aproximadamente 150 pessoas acabaram sendo enviadas para o Campo de Concentração de Dachau, onde mais de 100 pessoas chegaram ao óbito.

No momento que as tropas alemãs chegaram a Oradour-sur-Glane, logo as pessoas foram divididas. As mulheres e crianças foram levadas para uma igreja, que acabou sendo incendiada, enquanto os homens foram sendo enviados para um celeiro. Todos que tentassem fugir acabavam sendo alvejados por tiros. Após o massacre, o vilarejo acabou sendo incendiado, antes da saída dos alemães do local.

Vilarejo destruído pelos alemães 

Os motivos para as ações ocorridas no local são até hoje desconhecidas. Uma das versões mais aceitas, é que o exército alemão massacrou a população local como uma forma de retaliação à resistência francesa que estava com um militar alemão.

Após a Segunda Guerra Mundial, Charles de Gaulle determinou que as ruínas do vilarejo continuassem intactas, sendo uma das poucas regiões que não foram reconstruídas após a Guerra, conhecida atualmente como uma “cidade mártir”.

Em um discurso em Março de 1945, Charles de Gaulle diz “Oradour-sur-Glane é o símbolo das desgraças da pátria. É conveniente preservar a sua memória, pois é necessário que nunca mais tal tragédia se reproduza”.

A nova Oradour-sur-Glane foi reconstruída próxima ao local que permaneceu em ruínas e transformado por lei como Monumento Histórico. Posteriormente, foi construído um memorial em lembranças dos atos cometidos durante a Segunda Guerra Mundial.

Memorial de Oradour-sur-Glane

Após a Segunda Guerra Mundial, muitos integrantes do Nazismo foram levados a julgamento. O tribunal mais importante em relação aos alemães aconteceu logo após a Guerra, o Tribunal de Nuremberg. Alguns dos responsáveis por Oradour-sur-Glane acabaram sendo processados, mas muitos ficaram impunes.  

Em 1953, foi instaurado um tribunal em Bordeaux, onde foram acusados mais de 60 militares alemães que participaram das mortes em 1944. Alguns desses militares, foram presos, porém, anos depois foram soltos. Em 1983, um tribunal em Berlim Oriental, condenou um oficial da SS (Organização Paramilitar ligada ao Partido Nazista).

Recentemente, em 2014, um tribunal em Colônia, na Alemanha, acusou um ex-integrante da SS que estava envolvido nos atos, mas o julgamento não foi adiante por falta de testemunhas.

Na reportagem de Beate Lakotta, publicada pela revista Del Spiegel no período do julgamento, Werner Christukatm, acusado pelo Tribunal relatava: “Não passa uma noite sem que não pense em Oradour. Diante de mim, eu ainda posso ver a igreja por entre a copa das árvores. Eu ouço uma explosão e então o grito de mulheres e crianças. (…) Eu não consigo tirar isso da minha mente. Eu lamento muito por eles.”

Stefan Willms, chefe da unidade de investigação de crimes nazistas da polícia criminal estadual de Renânia do Norte-Vestfália em 2014, explica como são as investigações, comparando com um quebra-cabeça: “Ele estaria completo em 1945. Mas agora, uma peça desaparece a cada dia, porque outra pessoa morre”. As investigações continuam ocorrendo até hoje, e se o acusado não tiver nenhuma doença séria, ele pode ainda ser levado a julgamento.

Adolf Diekmann, um dos oficiais responsáveis pelos crimes cometidos no local, nunca foi julgado pelos seus atos. Ele acabou morrendo dias depois nos confrontos na Normandia.

Oradour-sur-Glane, por muito tempo, foi um acontecimento no qual o governo alemão preferia não comentar, mas em 2004, o Primeiro Ministro da Alemanha, participou de cerimônias sobre o “Dia D” na França, prometeu: “Alemanha jamais esqueceria as atrocidades nazistas,… especificamente Oradour-sur-Glane”

Em 2013, o presidente alemão Joachim Gauck visitou o vilarejo com o presidente francês François Hollande. Esse evento foi um grande marco nas relações dos dois países quando se trata de Segunda Guerra Mundial, pois foi à primeira visita de um governante alemão ao local. Os dois governantes visitaram os locais onde aconteceram os assassinatos da população.

Em 2019, aconteceu o último grande evento no local. A Secretária de Estado do Ministério das Forças Armadas, Genevieve Darrieussecq, homenageou os mortos e visitou as ruínas do antigo vilarejo.

Oradour-sur-Glane foi uma das regiões devastadas pela Guerra. Os extermínios de regiões no conflito aconteceram em diversos locais e por ambos os lados (Aliados e Eixo), como as regiões de Katyn, Lidice, Nemmersdorf e já citada Tulle, entre outros.

Bibliografia

http://www.ihu.unisinos.br/noticias/529637-setenta-anos-depois-ex-soldado-da-ss-se-diz-inocente-por-massacre

https://www.dw.com/pt-br/pior-massacre-nazista-contra-civis-na-fran%C3%A7a-completa-75-anos/a-49130268

https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/conheca-oradour-sur-glane-a-vila-fantasma-da-segunda-guerra/

http://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/09/hollande-e-gauck-apertam-a-mao-de-um-sobrevivente-de-povoado-martir-do-nazismo.html

https://www.bbc.com/news/world-europe-53875150

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Especialização em História Militar pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), Graduação em História (Bacharel e Licenciatura) pela Universidade Gama Filho (UGF), autor de Artigos em História Militar.

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