Prof. Dr. Ricardo Pereira Cabral
O Mar Cruel é um filme de guerra britânico e um dos melhores de todos os tempos. Lançado em 1953, estrelado por Jack Hawkins, Donald Sinden, Denholm Elliott, Stanley Baker, Liam Redmond, Virginia McKenna e Moira Lister. O flime foi dirigido por Charles Frend, produzido por Leslie Norman e roteiro de Eric Ambler. Este foi criticado por não ter incluído alguns momentos muito difíceis, da guerra no mar, retratados no livro.
O filme retrata as condições em que a Batalha do Atlântico foi travada entre a Marinha Real e os U-boats alemães, a partir do ponto de vista dos oficiais e marinheiros britânicos que serviram em escoltas de comboios.
O filme é baseado no best-seller (1951) do ex-oficial da Marinha Nicholas Monsarrat.
Nicholas Monsarrat, serviu na Royal Navy de 1940-1945, e embarcou em corvetas e fragatas no Atlântico Norte, durante a Batalha do Atlântico, na Segunda Guerra Mundial. O livro oferece um retrato realista, de homens comuns aprendendo a lutar e sobreviver em uma batalha longa, violenta e exaustiva contra os elementos e um inimigo implacável.
Monsarrat ainda escreveu outros romances navais, de boa vendagem e aceitação pela crítica. Até hoje essas obras são referências para a guerra naval.
O roteiro
O filme começa mostrando um mar bem encapelado e a voz do Tenente-Comandante George Ericson (Jack Hawkins) comandante da corveta HMS Compass Rose e da fragata HMS Saltash Castle, que declara: “Esta é a história da Batalha do Atlântico, a história de um oceano, dois navios e um punhado de homens. Os homens são os heróis; as heroínas são os navios. O único vilão é o mar, o mar cruel, que o homem tornou mais cruel.”
No final de 1939, assim que a guerra estourou, Ericson, um oficial da Marinha Mercante Britânica e da Reserva Naval Real, é convocado pela Marinha Real e recebe o comando da HMS Compass Rose, uma corveta da classe Flower, especializada na escolta de comboio e guerra anti-submarino. Seus Guardas-Marinha, Lockhart e Ferraby, são recém-convocados e sem experiência no mar. O 1º Tenente James Bennett (Stanley Baker), é um oficial grosseiro e abusivo. Apesar dessas desvantagens iniciais, a tripulação do navio ganha muita experiência e se torna uma unidade de combate eficaz. A princípio, seu pior inimigo são o mau tempo e as condições do mar, já que os submarinos alemães não têm alcance para atacar navios remotos no Atlântico. Com a queda da França, os portos franceses passaram a servir de base para os submarinos alemães poderem atacar comboios em qualquer parte do Atlântico Norte – tornando o mau tempo uma vantagem para os comboios. Para piorar a situação, o ditador espanhol Franco permite que os submarinos do Eixo usem os portos espanhóis para descanso das tripulações, reparos e reabastecimento, aumentando ainda mais a ameaça aos comboios Aliados. Após ser constatado que estava doente e impossibilitado de continuar a bordo o 1º Tenente Bennet é desembarcado. Nesta altura do filme, os oficiais subalternos amadureceram e a corveta já tinha cruzado o Atlântico muitas vezes escoltando comboios, muitas vezes em mau tempo. Ao longo do filme, a tripulação testemunha o naufrágio de muitos navios mercantes que estão encarregados de proteger e as trágicas mortes de tripulantes desses navios. Uma cena-chave envolve a decisão de Ericson de realizar um ataque com cargas de profundidade contra um U-boat, mesmo sabendo que as explosões matariam os marinheiros do navio afundado que estavam flutuando na água. Depois de quase três anos de serviço e ter afundado um submarino, no período noturo de uma escolta, a Compass Rose é torpedeada e sua tripulação forçada a abandonar o navio. A maior parte da tripulação é perdida. A bordo de um par de balsas salva-vidas, Ericson, Lockhart (Donald Sinden) e os poucos tripulantes restantes sobrevivem a noite e são resgatados no dia seguinte. Ericson é promovido a Comandante e, junto com Lockhart, também promovido a 1º Tenente e “Número Um” (imediato), assume o comando de uma fragata a HMS Saltash Castle, da classe Castle, um navio maior e com mais capacidades. Ericson passa a liderar um grupo de escolta anti-submarino. A fragata continuam com sua tarefa monótona, mas vital, de escolta de comboio. Nos meses derradeiros da guerra, enquanto escoltam um comboio no Ártico, a HMS Saltash Castlem persegue, obstinadamente, e afunda o submarino U-53, a única vitória da fragata. A cena final do filme, já com o término da guerra, mostra a fragata retornando ao porto, para guardar os submarinos alemães que se renderam.
Algumas considerações sobre o filme
Mar Cruel está classificado em 75º lugar na lista do British Film Institute dos 100 melhores filmes britânicos. Um clássico. O filme tem status de cult dentro da Marinha Real, com a tradição do “mess deck” de “Cruel Sea Night”, em que novos integrantes da tripulação assistem ao filme vestindo coletes salva-vidas e borrifados com cerveja sempre que HMS Compass Rose passa por um mar agitado ou certos acontecimentos como quando o alerta “Snorkers!” é dito. Este é um rito de passagem para muitos membros da Marinha Real.
O filme é bem realista para época, foi um grande sucesso no seu lançamento e conta com boas atuações de todo o elenco. Hawkins já era um ator de sucesso, foi veterano da Segunda Guera Mundial, em que serviu no Exército Britânico como tenente no Sudeste Asiático. Seu desempenho como Commander George Ericson o consolidou como um dos grandes atores britânicos da sua época.
Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.