Geopolítica da Rússia

de

Prof. Dr. Ricardo Pereira Cabral

Hoje vamos falar sobre Geopolítica e apresentar algumas ideias sobre a Rússia, de Vladimir Putin.

Vamos apresentar alguns aspectos da geopolítica russa.

– Com o fim da URSS, a Rússia regrediu em todos os campos, sendo considerada ao longo da década de 1990, uma potência de segunda classe e um grande problema estratégico, devido ao fato de possuir milhares de armas atômicas e um enorme arsenal militar espalhado nas antigas repúblicas soviéticas e nos países satélites (grande parte dessas armas movimentou o tráfico de ilegal de armas nas décadas de 1990 e 2000);

– As reformas econômicas liberalizantes (promovidas por Boris Yeltsin) na Rússia, a quedas das democracias populares na Europa e a independência das republicas desorganizaram completamente a economia e provocaram uma profunda recessão econômica;

– No ambiente de desorganização econômica da década de 1990 (devido a uma desregulamentação sem precedentes e o fim da planificação econômica) um grupo de ex-funcionários e oportunistas aliados (ou não) a Yeltsin assumiu a direção de empresas-chave na economia, controlando setores importantes e criando monopólios. Os oligarcas (como são conhecidos) e sua clientela se comportam como máfias, tolerados pelo governo central;

– Em 1999, Vladimir Putin assume o governo e implementa uma série de reformas visando retomar o controle dos setores chave da economia e inicia o processo de recuperação das capacidades militares;

– O sucesso de Putin está ligado a recuperação econômica do país, a melhoria do padrão de vida, a centralização do poder do Estado em suas mãos, a imposição da autoridade estatal o sobre a oligarquia; combate às aos oligarcas, as gangues e o separatismo (a guerra contra os chechenos de 1999-2009 são um bom exemplo);

– Putin ao longo do seu período no poder, restabeleceu a influência russa em grande parte das antigas repúblicas soviéticas, que considera sua área de influência. As ex-repúblicas recalcitrantes (por exemplo Letônia, Lituânia, Estônia e Ucrânia) tem tentado se aproximar do Ocidente (EUA e UE) a fim de contrabalançar a pressão russo, o que tem provocado fortes reações russas e instabilidades, a anexação da Crimeia e a secessão na Ucrânia são uma demonstração dos objetivos russos;

– Turbulências no Cáucaso, a guerra entre Armênia e Azerbaijão, problemas em Belarus, na Moldávia, no Quirguistão, mostram os limites da influência russa, mas também sua persistência em manter o um certo nível de controle sobre o seu entorno;

– A Rússia mantêm disputas geopolíticas com os Estados Unidos, a União Europeia, a China e a Turquia (os dois últimos com altos e baixos). Até o momento Putin, como um bom estrategista, tem sustentado sua influência, por escolher em quais disputas entrar em cada momento, utilizando com grande eficiência seus recursos de poder;

– As relações com a Europa são tensas, por questões envolvendo as ações russas na Ucrânia, Belarus e no Cáucaso, e sua forte oposição a expansão à OTAN e UE. Os europeus, apesar de dependentes dos recursos energéticos russos, tem adotado uma atitude mais assertivas aquilo que considera violação do direito internacional. Até o momento a determinação de Moscou em atingir seus objetivos estratégicos: obter maior profundidade estratégica e buscar limitar a influência dos EUA/EU nas antigas repúblicas soviéticas (com sucesso parcial);

– Em nosso entendimento, Putin sustenta a concepção geopolítica do neoeuroasianismo, de Aleksandr Dugin, baseado na Teoria do Heartland, de Mackinder e das pan-regiões de Haushofer, ou seja, a posição geográfica, os recursos naturais, humanos e tecnológicos são os recursos básicos de poder que reforçam o papel central da Rússia, na Eurásia e no cenário político global. Uma Rússia forte é fundamental para o equilíbrio mundial. Dugin destaca a herança cultural eslava, o neoeuroasianismo é fortemente antiglobalista e antiamericano, rejeita o universalismo dos valores democráticos e a economia liberal, defende a multipolaridade, a diversidade étnica e religiosa, a diversidade de valores e um Estado forte contra o Universalismo Ocidental, patrocinado pelos EUA e seus aliados europeus;

– A Rússia é um estado multiétnico, cuja principal referência cultural é russa, de matriz europeia e ortodoxa. Existem minorias russas em todas as ex-repúblicas, pois permite influenciar a política interna desses Estados;

– Desde a assunção de Putin, a Rússia vem renovando seu arsenal militar (convencional e nuclear), criando novas unidades, reforçando sua presença militar no seu entorno estratégico (como no Ártico) e nas áreas de seu interesse (Síria, Líbia, na região do Cáucaso e na Venezuela por exemplo), seja por forças de paz, assessores militares, operadores de inteligência e atuação de comandos. A venda de armamento, além de ser importante para a balança comercial, permite a manutenção de centros de pesquisa e é um dos mais importantes instrumentos da política externa. Em vários conflitos a Rússia vem aplicando a Doutrina Gerisimov e guerra ambígua e não linear (utilização de forças de paz, forças irregulares, comandos, cyber war, media war, guerra psicológica etc.) em ações de não guerra e/ou em conflitos de baixa intensidade;

– Em termos de política internacional a Rússia tenta se impor como um grande jogador, apesar da fragilidade econômica e da decadência demográfica. Não aceitou a unipolaridade norte-americana e tem dado mostras que não aceita uma bipolaridade entre os Estados Unidos e a China, mas busca alianças com outros atores (como a Índia) para impor um multilateralismo;

– Os EUA tem mantido, de forma contínua à pressão política, econômica e militar sobre os russos de diversas formas: por intermédio da expansão da OTAN em direção ao Leste, fazendo alianças (e por vezes instalando bases) com as antigas repúblicas e Estados-satélites da Era Soviética; denunciando os tratados de controle de armas nucleares e impondo sanções econômicas e restrições à cooperação em vários campos. Putin vê nessa política agressões do Ocidente, a continuidade da Estratégia de Contenção e uma ameaça à Rússia. A assinatura do Novo Star veio com a denúncia do Tratado dos Céus Abertos, mostrando a insatisfação russa;

– Os russos, ao que parecem, partem do pressuposto que não haverá grandes mudanças nas relações com os EUA após a posse de Biden, mais diálogo, não significa melhora nas relações. Há meu ver estamos em uma Cold Peace;

– As relações com a China são marcadas por um certo nível de cooperação em temas bem específicos em meio a desconfianças sobre as reais intenções de Pequim e oposição a uma nova hegemonia mundial;

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Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.

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