Guerra Cisplatina: Batalha Naval de Monte Santiago

de

Prof. Dr. Ricardo Pereira Cabral 

Na noite de 6 de abril de 1827, o Almirante William Brown liderando uma pequena esquadra composta de quatro navios: brigues República (capitânea), Congresso, Independência e a escuna Sarandi. O objetivo era fazer um cruzeiro atacando o comércio brasileiro na costa brasileira a fim de forçar o governo brasileiro a negociar em melhores termos.

A 2ª Divisão da Esquadra Imperial, comandada pelo almirante Norton, mantinha o bloqueio na saída de Buenos Aires estrangulando a economia das Províncias Unidas.

A divisão argentina navegou junto a costa até flanquear o bloqueio brasileiro, quando julgou tê-lo feito mudou de rumo. Por volta das 23 h, a corveta Maceió que estava de vigia deu o sinal de “navios à vista”, imediatamente o restante da 2ª Divisão manobrou para interceptar e cortar a retirada dos navios inimigos e abriu fogo tão logo entraram no alcance dos canhões.

Pressionados os navios argentinos República e Independência, encalharam em Punta Lara na entrada da enseada. A Sarandi, capitânia de Brown, e o Congresso, de menor calado, conseguiram se esquivar, apesar de muito atingidos. A Sarandi, fundeou perto dos navios encalhados para defende-los, enquanto tentavam se safar. Devido ao calado mais alto a Divisão brasileira continuou a bombardeá-los. O Almirante Norton, chamou a 3ª Divisão, fundeada em frente a Colônia do Sacramento, para definir a batalha. A 3ª Divisão possuía escunas mais adequadas à operação naquelas águas mais rasas. A 1ª Divisão, do Almirante Pinto Guedes, também entrou em ação por intermédio dos brigues Independência ou Morte, Pirajá e 29 de Agosto e as escunas Dona Paula, Conceição e Itaparica, todos navios de menos calado. No entanto, o mar arrebentando sobre os barcos não permitia uma aproximação maior e a abordagem. Os navios brasileiros continuaram a fustigar os argentinos, até que Pinto Guedes içou os sinais de “cessar fogo” e “vigiar de perto os navios inimigo”.

Durante toda a noite as guarnições argentinas tentavam desencalhar seus navios, mas eram fustigadas pelo fogo pela corveta Caboclo e a escuna Maria Teresa. Como os brigues não conseguiam desencalhar e nem recebia socorro, Brown ameaçava as tripulações portenhas com pena de morte caso se rendessem ou abandonassem as embarcações.

O dia 8 começou com um mar mais calmo e a Esquadra Imperial se preparava para finalizar a Divisão das Províncias Unidas. As escunas Dona Paula, Conceição, Itaparica, Maria Teresa e Rios, todas de baixo calado, formaram duas colunas, se aproximaram dos navios argentinos e abriram fogo. O combate foi duro, pois o fundo muito raso dificultava a ação dos atacantes. No final do dia o estado dos navios argentinos era deplorável, somente o Congresso conseguiu fugir. Norton decidiu abordá-los. Os escaleres foram baixados e seguiram para tomar os navios argentinos, enfrentado uma forte reação dos inimigos. O navio argentino República foi tomado, a Independência foi incendiada, sendo os sobreviventes embarcados na Sarandi, que muito alvejada se arrastava pelos bancos para escapar para Buenos Aires.

Monte Santiago marcou o fim da Esquadra das Províncias Unidas, dali em diante apenas pequenas escaramuças ocorreram e mesmo assim por parte dos corsários que partiam ou regressavam.

Aos argentinos só restou a guerra de corso, com base em Carmem de Patagones, que como escreveram Leôncio Martins e Alexandre Boiteux estava “imune ao ataque brasileiro”. A etapa naval da Guerra Cisplatina estava encerrada com a vitória da Marinha Imperial.

Para aqueles que gostaram e querem ler mais sobre o assunto recomendamos as seguintes obras:

– História Naval Brasileira. 3º Volume. Tomo 1. Marinha do Brasil. Rio de Janeiro: Serviço de documentação da Marinha, 2002.

– MAIA, João do Padro. A Marinha de Guerra do Brasil na Colônia e no Império.: tentativa de reconstituição histórica. Rio de Janeiro; Cátedra; Brasília: INL, 1975.

– Obras do Barão do Rio Branco VI: efemérides brasileiras. Rodolfo Garcia, organizador. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2012.

Quer saber mais sobre o Brasil no Século XIX, entre nas categorias do site.

Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.

9 comentários em “Guerra Cisplatina: Batalha Naval de Monte Santiago”

  1. Meu avô materno, DIDIO YRATIM AFFONSO DS COSTA, foi oficial da Marinha de Guerra do Brasil tendo galgado a posição de Almirante ao tempo de sua reforma. Foi historiador, autor de diversas obras retratando celebrados episódios navais e algumas das mais destacadas figuras da história de nossa marinha. Foi Diretor por muitos anos da Biblioteca da Marinha no Rio de Janeiro.

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  2. É um acontecimento fantástico, que comprova a esmagadora vitória naval do Império ao final de um conflito que se iniciou desfavorável. Mesmo assim, por forte pressão britânica, sua majestade imperial resolver conceder a independência à atual República Oriental do Uruguai

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  3. Parabéns! O texto ficou muito bom.

    O que achei mais interessante foi saber que, em 1827, já existia um navio da Armada Imperial com o nome de “Independência ou Morte”. Pq muitos dizem que o Grito do Ipiranga é uma fabulação histórica muito posterior ao 7 de Setembro de 1822, mas a existência desse brigue aponta justamente o contrário.

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