Prof. Dr. Ricardo Pereira Cabral
Em 1 de agosto de 2008, os separatistas ossetas iniciaram um bombardeio contra as cidades georgianas no território contestado e na Geórgia propriamente dita. As forças de paz e tropas da Geórgia estacionadas na região, responderam ao fogo. Os georgianos deram início ao deslocamento de tropas em direção à fronteira com a Ossétia.
Durante a noite de 7 para 8 de agosto, a Geórgia lançou uma ofensiva militar em grande escala contra a Ossétia do Sul, em uma tentativa de recuperar o controle sobre território separatista. A justificativa georgiana era de que estava respondendo aos ataques contra suas forças de paz e cidades na Ossétia do Sul. Em poucas horas de ataque, a Geórgia capturou a maior parte de Tskhinvali.
Em 8 de agosto, a Rússia acusou a Geórgia de uma “agressão contra a Ossétia do Sul”, e lançou um grande ataque terrestre, aéreo e marítimo contra a Geórgia, incluindo a parte de seu território que não era motivo de disputa.
A Rússia desdobrou unidades do 58º Exército Russo e Tropas Aerotransportadas na Ossétia do Sul e um dia depois, lançou ataques aéreos contra as forças georgianas na Ossétia do Sul e alvos militares e logísticos na Geórgia.
A Rússia justificou sua intervenção afirmando que era uma intervenção humanitária com o objetivo de impor a paz entre georgianos e ossetas.
As forças russas e dos ossétios lutaram contra as tropas georgianas na Ossétia do Sul ao longo de quatro dias, os combates mais pesados ocorreram em Tskhinvali.
Em 9 de agosto, as forças navais russas bloquearam uma parte da costa da Geórgia e realizaram um assalto anfíbio na costa da Abecásia. A marinha georgiana tentou intervir, mas foi derrotada na batalha naval da costa da Abecásia. As forças russas e abecases e abriram uma segunda frente, atacando através do Vale do rio Kodori, ocupado pela Geórgia. As forças georgianas ofereceram uma resistência mínima.
As forças russas invadiram as bases militares na Geórgia Ocidental. Após cinco dias de intensos combates na Ossétia do Sul, as forças georgianas recuaram, permitindo que os russos entrassem no território da Geórgia e, ocuparam, temporariamente, as cidades de Poti, Gori, Senaki e Zugdidi.
As forças russas e dos ossétios lutaram contra os georgianos no interior e nas fronteiras da Ossétia do Sul por vários dias, até fazerem com que as forças georgianas recuassem. As forças russas e dos abkhazes abriram uma segunda frente atacando Kodori Gorge, mantido pela Geórgia. A Esquadra do Mar Negro russa bloqueou parte da costa georgiana do Mar Negro. A VKS (força aeroespacial russa) atacou alvos dentro e fora da zona de conflito.
Após negociações, intermediadas pela França, russos e georgianos chegaram a um acordo de cessar-fogo em 12 de agosto de 2008.
As forças russas mantiveram a ocupação das cidades georgianas de Zugdidi, Senaki, Poti e Gori, mantendo essas áreas, depois do acordo de cessar-fogo. Os ossétios do sul aproveitaram a situação e promoveram uma limpeza étnica nas cidades georgianas na Ossétia do Sul.
Em 26 de agosto de 2008, a Rússia reconheceu a independência da Abkhazia e da Ossétia do Sul da Geórgia, em retaliação Tiblissi cortou relações diplomáticas com a Rússia.
Em 8 de outubro de 2008, a Rússia retirou suas tropas do território georgiano.
Durante a Guerra Russo-Georgiana, Moscou realizou uma série de ataques cibernéticos desativando os sites de vários órgãos governamentais da Ossétia do Sul, Geórgia e Azerbaijão Antes e durante toda a guerra, hackers atacaram o governo georgiano, sites de notícias, empresas públicas e privadas, os servidores foram desativados. O ataque foi tão poderoso que a própria Rússia que não ficou imune. O interessante é que oss ataques cibernéticos começaram cerca de três semanas antes do início das operações militares. O ataque é considerado o primeiro coordenado no ciberespaço, sincronizado as operações de combate nas outras dimensões da guerra, em terra, mar (força de superfpicie e de submarinos), ar e espacial.
Lembro que em 2007, a Estônia foi alvo de um gigantesco ataque cibernético muito semelhante ao sofrido pela Geórgia. A diferença que na Geórgia a intensidade dos ataques foi aumentando com o passar dos dias. Já o ataque contra a Estônia foi de surpresa e praticamente desconectou o país, levando dias para a volta a normalidade. Tallinn acusou os russos de terem sido os autores.
Em 2021, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos decidiu que a Rússia mantinha “controle direto” sobre as regiões separatistas e foi responsável por graves violações dos direitos humanos que ocorreram.
Imagem de Destaque: https://www.peacelink.it/conflitti/a/31759.html
Sites consultados
https://www.limesonline.com/cartaceo/come-davvero-andata-la-guerra
https://www.peacelink.it/conflitti/a/31759.html
https://en.wikipedia.org/wiki/Russo-Georgian_War
https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Russo-Georgiana
Bibliografia
BERTONHA, João F. Rússia. Ascensão e Queda de um Império. Uma história Geopolítica e Militar da Rússia, dos Czares ao Século XXI. Curitiba: Juruá, 2009.
TRENIN, Dimitri. Russia. Politi Press: Cambrigde (UK), 2019.
Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.
Muito boa a explicação.
A Equipe do História Militar em Debate agradece o comentário.