Guerra Sino-Japonesa: Atrocidades em Nanquim

de

Profº. Esp. Pedro Silva Drummond

Durante a Segunda Guerra Mundial aconteceram diversos crimes de guerra, existem diversos relatos sobre inúmeros massacres, esse texto irá analisar um deles, o Massacre de Nanquim. Esse acontecimento está dentro do contexto do expansionismo japonês na China, durante a Segunda Guerra Sino-Japonesa (1937-1945).

Introdução

Durante o século XIX, o Japão passou por grandes mudanças, a Nação iniciava um processo de modernização em diversos aspectos, conhecida como a Era Meiji, e uma dessas mudanças ocorreu na área militar. Essas transformações possibilitaram que o País se preparasse para o Imperialismo Europeu que ocorria no Continente Asiático e uma política expansionista na região, como: a Primeira Guerra Sino-Japonesa (1894-1895), Guerra Russo-Japonesa (1904-1905), Primeira Guerra Mundial (1914-1918), Invasão na Manchúria (1931), Segunda Guerra Sino-Japonesa (1937-1945) e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Durante a década de 1930, o expansionismo japoneses se desenvolveu através de uma política conhecida como Esfera de Co-Prosperidade da Grande Ásia Oriental, como explica a pesquisadora Alana Camoça Gonçalves de Oliveira, “Durante esse período, uma das estratégias geopolíticas do ocidente foi incorporada às estratégias japonesas pelas lideranças do período. Um dos pressupostos geopolíticos do Japão da década de 1930 foi feito durante o governo do primeiro-ministro Konoe Fuminaro (1937-1939/1940-1941) que defendeu ideias conhecidas como “The New Order in East Asia” (A Nova Ordem no Leste Asiático) que deram origem e serviram como base da política externa japonesa ainda no século XX conhecida como política da “Greater East Asia Co-Prosperity Sphere” ou “Esfera de Co-Prosperidade da Grande Ásia Oriental” (大東亞共榮圈). Tal política tinha como base ideológica o pensamento de unificar e organizar articulando de maneira múltipla questões militares, políticas, culturais e econômicas do Japão com os países da Ásia. A região era pensada enquanto um bloco de nações asiáticas liderados pelos japoneses e livre das potências ocidentais, a ideia de uma pan-região asiática liderada pelo Império japonês.” (OLIVEIRA, 2019, p.109)

Uma das Nações que mais sofreram com esse expansionismo, foi a China, que enfrentava diversas fragilidades internas. Durante a década de 1930, os chineses encaravam uma Guerra Civil entre os Nacionalistas, liderados por Chiang Kai-shek, contra os Comunistas, liderados por Mao-Tsé-tung.

Nesse contexto, o Japão conseguiu conquistar a Manchúria (1931) e diversas regiões da China, como Nanquim, local do massacre analisado abaixo.

Mapa das Regiões conquistadas pelo Japão (Década de 1930 e 1940)
https://br.pinterest.com/pin/768989705108864713/

Aqueles que desejam conhecer o Conceito de Crimes de Guerra, leiam o Artigo sobre o Massacre Nemmersdorf

Massacre

Nos primeiros anos da Segunda Guerra Sino-Japonesa, o Japão demonstrava toda sua superioridade militar em relação à China. Os japoneses obtiveram diversas vitórias e conquistas sobre os chineses e seus territórios, como explica a pesquisadora Alana Camoça Gonçalves de Oliveira: “A superioridade nipônica era indubitável e, por essa razão, avançou inicialmente com maior facilidade em direção aos territórios nas regiões Leste e Sul da China, conquistando de 1937 a 1938, sucessivamente Xangai, Suzhou, Nanquim, Qingdao, Cantão e Hainan, impelindo o exército chinês para Oeste.” (OLIVEIRA, 2019, p.111).

O massacre em Nanquim teve início desde o momento que as tropas japonesas chegaram na região, como retrata Beevor: “As tropas japonesas entraram na cidade com ordem de matar todos os prisioneiros. Uma unidade na 16ª Divisão executou sozinha 15 mil prisioneiros chineses e uma companhia degolou 1.300. Um diplomata alemão informou a Berlim que “além das execuções em massa com metralhadoras, outros métodos individuais também foram empregados, como despejar gasolina sobre a vítima e atear-lhe fogo.  Os edifícios da cidade foram saqueados e incendiados Para escapar dos assassinatos, estupros e destruição, civis tentaram se abrigar na zona de segurança internacional”… Em Nanquim, soldados chineses feridos eram mortos no chão à ponta de baionetas. Os oficiais faziam os prisioneiros se ajoelharem em filas e praticavam o degolamento com suas afiadas espadas de samurais. Os soldados também recebiam ordens de praticar com a baioneta em milhares de prisioneiros chineses atados ou amarrados em árvores… Os soldados mais antigos organizavam os estupros em massa, com mais de trinta homens por mulher, as quais eles costumavam matar depois de terem acabado com elas” (BEEVOR, 2015 p.65-67).

Prisioneiro de guerra chinês prestes a ser decapitado por soldado japonês
https://pt.wikipedia.org/wiki/Massacre_de_Nanquim#/media/Ficheiro:Chinese_to_be_beheaded_in_Nanking_Massacre.jpg

John Rabe, executivo alemão da Siemens e que presidia o Conselho da Zona de Segurança de Nanquim, registrou em seu diário, o seguinte, em relação aos atos cometidos pelos japoneses em Nanquim: ““Estou totalmente desconcertado com a conduta dos japoneses. Por um lado, querem ser reconhecidos e tratados como uma grande potência semelhante às potências europeias; por outro, demonstram uma crueza, brutalidade e bestialidade comparável apenas às hordas de Gêngis Khan”. Doze dias depois, ele escreveu: “Não se consegue respirar devido à repugnância ao se deparar com os corpos de mulheres com varas de bambu enfiadas em suas vaginas. Até as mulheres com mais de 70 anos estão sendo constantemente estupradas.”” (BEEVOR, 2015 p.66-67).

As consequências do Massacre de Nanquim  são detalhados por Alana Camoça Gonçalves de Oliveira, da seguinte forma: “De 13 de dezembro de 1937 até 1 de março de 1938 estima-se que cerca de 20.000 mulheres foram violentadas, 30.000 soldados fugitivos e mais de 12.000 cidadãos foram mortos.” (OLIVEIRA, 2019, p.111).

Conclusão

O expansionismo japonês na China durante a Guerra Sino-Japonesa (1937-1945) fez parte de um contexto de desenvolvimento do País que teve início no século XIX, com a Era Meiji. Durante a Segunda Guerra Mundial, o Japão se expandiu pelo Pacifico, iniciando o que é chamado de Guerra do Pacífico. Essa política japonesa só teve fim, com o encerramento da Segunda Guerra Mundial.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, foram criados diversos tribunais para julgarem os crimes cometidos no conflito, em relação aos atos praticados pelos japoneses foi criado pelos Aliados, o Tribunal Internacional do Extremo Oriente. Em relação aos atos em Nanquim, o Tribunal chegou a seguinte conclusão, como relata Rodrigo Abrantes da Silva: “O Tribunal sentenciou sete dos acusados à morte. Dentre eles, estava Matsui Iwane, comandante das forças japonesas na China Central à época do massacre, por não ter feito nada para impedir as atrocidades”. (SILVA, 2011).

Tribunal do Extremo Oriente
https://www.theatlantic.com/photo/2011/10/world-war-ii-after-the-war/100180/

Durante a expansão japonesa na China, as relações entre as duas Nações só piorava, e até hoje por causa dos acontecimentos retratados no texto, causam diversas discordâncias.

Em pleno século XXI, os chineses ainda discordam do Japão sobre o que aconteceu no período, como exemplifica a pesquisadora Alana Camoça Gonçalves de Oliveira: “O Estupro de Nanquim causa discórdia entre a China e o Japão em pleno século XXI, posto que alguns historiadores japoneses insistem que a estimativas de mortes são menores do que o difundido pelos chineses. Com isso, os livros de história no Japão são constantemente criticados pelas autoridades chinesas que insistem em afirmar que o arquipélago nipônico relativiza ou nega o passado de atrocidades.” (OLIVEIRA, 2019, p.111).

Nos últimos anos o Massacre de Nanquim ainda causa divergência entre os dois Países. Em 2016, o Japão se recusou a realizar o pagamento que cabe ao País no financiamento da UNESCO. O motivo foi à inclusão de documentos do Massacre de Nanquim no Registro de Memória do Mundo.

O Massacre de Nanquim como já relatado foi um dos massacres cometidos na Segunda Guerra Mundial, porém, até hoje, esse acontecimento ainda causa divergências entre as Nações.

Bibliografia

– BEEVOR, Antony. A Segunda Guerra Mundial.1. ed. – Rio de Janeiro :Record, 2015.

– OLIVEIRA, Alana Camoça Gonçalves de. Entre o sol, a águia e o dragão: dinâmicas de poder e segurança entre Japão, EUA e China no leste asiático e o estudo de caso das ilhas senkaku/diaoyu no século XXI.  2019. Tese (Doutorado), Instituto de Economia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2019.

– SILVA, Rodrigo Abrantes da. O Massacre de Nanquim: Memória, História, Reconciliação, 2011. Monografia (Especialização), PUC-RS, 2011.

– Japão retém verba à Unesco após polêmica sobre massacre de Nanquim. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/brasil/japao-retem-verba-unesco-apos-polemica-sobre-massacre-de-nanquim-20287884#:~:text=T%C3%93QUIO%2C%20Jap%C3%A3o%20%2D%20O%20governo%20japon%C3%AAs,Registro%20da%20Mem%C3%B3ria%20do%20Mundo>. Acessado: 11/04/2022.

Especialização em História Militar pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), Graduação em História (Bacharel e Licenciatura) pela Universidade Gama Filho (UGF), autor de Artigos em História Militar.

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