Prof. Dr. Ricardo Pereira Cabral
Antecedentes
As relações nipo-americanas estavam bastante estremecidas como resultado da política expansionista japonesa na China (a partir de 1937). Essa situação piorou devido a invasão da Indochina Francesa (1940) com os norte-americanos proibindo a exportação de uma série de produtos pelos japoneses.
O Japão tinha projetos de conquistar uma série de colônias britânicas, francesas e holandesas que eram produtoras de commodities, consideradas fundamentais ao desenvolvimento econômico japonês, além de tornar estas áreas em centros consumidores de produtos nipônicos, deslocando a concorrência ocidental. Com relação aos Estados Unidos, os territórios cobiçados eram as regiões estratégicas como Filipinas, Guam e Wake. A liderança japonesa tinha receio que a continuidade das retaliações políticas e comerciais norte-americanas fossem estrangular ou limitar, consideravelmente, as capacidades econômicas e militares japonesas.
Em meio as tensões diplomáticas entre os dois países, estavam ocorrendo negociações diplomáticas, mas não avançavam. Estados Unidos e Japão estavam irredutíveis em suas posições. O Japão não aceitava devolver os territórios conquistados, por sua vez os norte-americanos exigiam sua retirada para o restabelecimento da normalidade nas relações internacionais. Existia a expectativa de guerra entre os dois países não era apenas entre a liderança política, mas também em relação a população.
A análise da situação militar
Em 1940, o Congresso norte-americano aprovou o Two-Ocean Navy Act que expandia em 70% a parte da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) cuja área de operação era o Pacífico. Veja bem, a expansão era em todos os níveis: força de superfície, força de submarinos, aviação embarcada, fuzileiros navais (US Marines) e logística. Neste mesmo ano, o presidente Franklin D. Roosevelt transferiu a sede da Esquadra do Pacífico de San Diego para Pearl Harbor, alvo de muitas críticas, por conta da vulnerabilidade militar do arquipélago.
Um ponto interessante, os norte-americanos, em seu planejamento militar, não consideravam a hipótese dos japoneses atacarem o Hawaii, tendo em vista a distância, as dificuldades logísticas, julgavam que os japoneses não tinham a capacidade técnica para uma operação de grande complexidade e havia a possibilidade de uma esquadra atacante ser detectada antes de realizarem um ataque. A ação ofensiva japoneses considerada mais provável era contra as Filipinas e para tal foram feitos planos de contingência.
Já os japoneses estavam planejando esse ataque há bastante tempo, analisaram profundamente o ataque britânico à base naval de Tarento, entre outras operações aeronavais, faziam rotineiramente treinamentos com a aviação embarcada nos porta-aviões, adaptavam suas armas e estavam trabalhando fortemente a inteligência infiltrando agentes no Hawaii e no território continental dos EUA.
O plano era: uma ação diversionária nas Aleutas e o ataque aeronaval principal em duas ondas a Base Naval de Pearl Harbor (Honolulu – Hawaii). O principal objetivo era destruir as unidades de superfície mais importantes (porta-aviões, encouraçados e cruzadores) e o campo de aviação. Havia previsão de um bombardeio naval.
O objetivo político era forçar os Estados Unidos a aceitar os termos de negociação japoneses ou retardar a reação norte-americana até que o Império Nipônico consolidasse suas conquistas. O objetivo estratégico-militar era destruir as principais unidades da Esquadra do Pacífico, a fim de que essa não pudesse interferir na conquista militar das colônias europeias no Sudeste Asiático, no Extremo Oriente e no Pacífico Sul e Central. Este plano apresentava um grande problema, inicialmente, não previa ataques as instalações logísticas, de comando e inteligência da base; e ignorava o sentimento popular ou a reação do governo norte-americano em relação a um ataque surpresa. Erros fatais, aos quais os japoneses pagariam muito caro. Com relação a declaração de guerra, as pesquisas mostram que tanto a Marinha Imperial, quanto o Exército Imperial não tinham intenção de declarar guerra antes do lançamento do ataque de surpresa ou preventivo, como queiram. Os japoneses já tinham adotado essa mesma estratégia, por ocasião do ataque a Base Naval de Port Arthur (1904) na Guerra Russo-Japonesa.
As forças em luta
A força-tarefa japonesa era constituída de 6 porta-aviões, 2 encouraçados, 2 cruzadores pesados, 1 cruzador leve, 9 contratorpedeiros, 23 submarinos, 5 minissubmarinos, 414 aviões e 8 petroleiros. O comandante da FT era o almirante Chüichi Nagumo e o componente aéreo contava a liderança dos pilotos Capitão Mitsuo Fushida e Capitão Minoru Genda
Ancorados na Base estavam 8 encouraçados, 8 cruzadores, 30 contratorpedeiros, 4 submarinos, cerca de 47 navios de diversos tipos e 390 aviões. As principais unidades da Esquadra do Pacífico, os porta-aviões USS Enterprise, USS Lexington e USS Saratoga estavam no mar fazendo exercícios, os japoneses sabiam e mesmo assim atacaram Pearl Habor, mas não saíram a caça dos porta-aviões norte-americanos.
O ataque
A 1ª Onda do ataque teve início às 7:48 H do dia 7 de dezembro de 1941, com 183 aviões divididos em 3 grupos: o 1º tinha como objetivo as unidades de superfície, o 2º iria atacar a ilha Ford e Wheeler e o 3º Grupo os aviões baseados na ilha Ford, na Base Aérea de Hickam, Wheeler, Barber´s Point e Kaneohe.
A 2ª Onda, com 171 aviões, também divididos em três grupos: o 1º Grupo atacou os aviões baseados na ilha Ford, na Basea Aérea de Hickam, Wheeler, Barber´s Point e Kaneohe; o 2º Grupo teve como alvo as unidades de superfície e o 3º Grupo deveria atacar os mesmo alvos do 1º Grupo.
As baixas
O ataque durou cerca de noventa minutos e provocou as seguintes baixas entre os norte-americanos: marinheiros 2 008 mortes e 710 feridos; Exército: mortos 218 soldados e aviadores (Aviação do Exército) e 364 feridos; Fuzileiros Navais, foram mortos 109 e 69 feridos; Civis 68 mortos e 35 feridos. No total, 2 403 americanos foram mortos e 1 143 foram feridos. 18 navios afundaram ou encalharam, incluindo 5 encouraçados. A maioria das baixas ocorreu no USS Arizona que explodiu.
Já os japoneses tiveram 59 aviadores e 9 submarinistas mortos e foi feito um prisioneiro. Participaram do ataque 350 aviões, foram perdidos 29: 9 na primeira onda (3 caças, 3 bombardeiro de mergulho e 5 bombardeiros de torpedo) e 20 na segunda onda (6 caças e 14 bombardeiros de mergulho), 74 foram danificados pelo fogo antiaéreo.
Considerações Finais
Sempre que se analisa o ataque a Pearl Habor se levanta a questão com relação a possibilidade de uma terceira onda de ataque japonês, mas essa tinha uma série de perigos que foram levados em consideração pelo Almirante Nagumo: a exposição da força-tarefa aos ataques norte-americanos, o paradeiro desconhecido dos porta-aviões, as limitações logísticas, a melhora da defesa antiaérea, a necessidade realizar o pouso de aeronaves a noite que exporia os porta-aviões e os pilotos em uma operação ao qual não estavam treinados e a falta de informação quanto a capacidade norte-americana de contra-atacar, caso permanecem mais tempo na área para lançar um nova onda de ataque. No entanto, um novo ataque dessa vez concentrado nas instalações de logística e de comando provou ser necessário, pois em poucos meses Pearl Habor voltou a operar em plena capacidade e foi fundamental para o restante da Campanha do Pacífico.
Na investigação do Congresso feita posteriormente descobriu que a Inteligência norte-americana tinha alertado sobre a possibilidade de um ataque japonês à Pearl Harbor. Antes do ataque, ocorreram vários incidentes que indicavam a possibilidade de um ataque iminente, mas nenhum desses incidentes chegou ao comando ou foram tomadas providências pelos escalões envolvidos. A possibilidade de uma ataque japonês era considerada mínima, por isso a base não foi colocada em estado de alerta ou de prontidão. A Marinha norte-americana fez, pelo menos, dois jogos de guerra, tendo como tema um ataque aeronaval a base no Hawaii, mas não tomaram medidas preventivas. Tais fatos até hoje suscitam teorias a respeito do conhecimento ou não do ataque japonês pelo governo norte-americano e de instrumentalizar o ataque para poder levar os EUA a entrar na guerra, como de fato ocorreu.
Imagem de Destaque: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/chamando-pra-briga-78-anos-do-ataque-pearl-harbor.phtml
Bibliografia
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Com relação aos filmes indico esse clássico:
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Sites consultados:
– https://www.greelane.com/pt/humanidades/hist%c3%b3ria–cultura/battle-of-taranto-2361438/
– https://en.wikipedia.org/wiki/Attack_on_Pearl_Harbor
– https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Taranto
Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.