Operação Cartago: O ataque desastroso dos Britânicos na Dinamarca

de

Pedro Silva Drummond

Introdução

No ano de 1939, tem início a Segunda Guerra Mundial, durante os primeiros meses do conflito, a Alemanha conseguiu grandes avanços territoriais e a conquista de diversas Nações, uma delas foi à Dinamarca, em 1940, região onde ocorreu a Operação Cartago.

A Operação Cartago tinha como objetivo um ataque aéreo na Shell House, local utilizado pela Gestapo, para o armazenamento de arquivos e tortura de cidadãos dinamarqueses durante os interrogatórios.

Operação Cartago

A Dinamarca desde 1940 foi invadida e conquista pela Alemanha, no que ficou conhecido como a Operação Weserübung. No ano de 1944, a polícia secreta alemã, Gestapo, começou a utilizar o prédio da Shell como quartel-general.

Durante parte dos anos de 1944 e 1945, a resistência dinamarquesa solicitava aos britânicos um ataque aéreo no local. “No final de 1944, o movimento de resistência dinamarquês em Copenhaga corria o risco de ser exterminado pela Geheime Staatspolizei (Gestapo). Muitos dos seus líderes foram presos e muito material foi arquivado nos arquivos da Gestapo na Shell House (Shellhus em dinamarquês), localizada em Copenhaga. Para resolver esta situação, os principais membros do movimento de resistência solicitaram um ataque aéreo à Shell House através do SOE (Executivo de Operações Especiais) em Londres.” (People’s Mosquito)

No ano de 1945, a resistência dinamarquesa continuava esperando o ataque da RAF sobre a Shell House. “Em meados de Março a situação para o movimento de resistência tornou-se intolerável. Um telegrama desesperado foi enviado a Londres implorando por um ataque: se o movimento de resistência fosse de alguma forma importante, a RAF teria que atacar a todo custo.”  (Klaus Velschow)

No dia 21 de março, teve início a Operação Cartago, “às 08h55, 20 Mosquitos do nº. 2 grupos de bombardeiros leves, escoltados por 30 Mustangs do 11º grupo de caças, decolaram da RAF Fersfield em Norfolk. 18 dos bombardeiros eram Mosquito FB Mk. VI e 2 eram Mosquito B. Mk. IV da unidade de produção cinematográfica (FPU). Os bombardeiros carregavam bombas de 44 × 500 libras. Os Mustangs eram Mk III. A formação chegou a Tissoe, um lago no oeste da Zelândia, e se dividiu em três ondas: não. 1: 7 Mosquitos (um FPU) e 12 Mustangs, não. 2: 6 mosquitos e não. 3: 7 Mosquitos (uma FPU). Aparentemente, as três ondas seguiram rotas diferentes para Copenhague, embora todas tenham se aproximado de Copenhague pelo sudoeste. O plano era encontrar a cidade de Koge, cerca de 30 km (20 milhas) ao sul de Copenhague, depois virar e seguir a costa até Avedoere, onde virariam para o norte em direção à cervejaria Carlsberg, passando por ela no lado leste. O último posto de controle foi “Det Ny Teater”, um teatro no canto sudeste do mais ao sul dos quatro lagos. Do teatro de operações os aviões atacariam os Shellhus pelo Sul. Foi apenas a primeira vaga que seguiu a abordagem planeada. As duas ondas seguintes seguiram um curso mais direto para Copenhague. A terceira onda veio do oeste em vez do sul.” (Klaus Velschow)

Mosquitos voando baixo sobre Copenhague durante o ataque https://www.peoplesmosquito.org.uk/2013/12/06/operation-carthage-the-shell-house-raid-21st-march-1945/

No entanto, os ataques dos pilotos da RAF aconteceram da seguinte forma: “Quando a 1ª onda passou pela Estação Enghave, Mosquito SZ977, “T for Tommy”, com Pilot W/Cdr. Peter A Kleboe e o Navigator F/O Reginald JW Hall atingiram um poste de 30 metros e então a ponta da asa de seu Mosquito atingiu o telhado do nº 106 Sønder Boulevard. As duas bombas de 500 libras foram arrancadas e explodiram matando 12 pessoas. A aeronave caiu segundos depois em uma garagem perto da escola católica francesa Jeanne d`Arc, em Frederiksberg Alle. A seção dianteira, incluindo a cabine com os dois tripulantes, foi derrubada sobre o Dr. Priemes Vej e eles ficaram gravemente queimados. Piloto W/Cdr. Peter A. Kleboe e o navegador F/O Reginald JW Hall foram sepultados no cemitério København Bispebjerg em 28 de março de 1945. O resto da onda com Bateson, Carlisle, o vice-marechal da Força Aérea Basil Embry , Henderson, Hetherington e Moore encontraram e bombardearam com sucesso o quartel-general da Gestapo. Seis bombas explodiram na ala Oeste e dos nove prisioneiros desta parte do edifício, seis morreram instantaneamente e mais um morreu ao saltar do 5º andar para o chão. A 2ª onda ficou confusa com a fumaça e as chamas do Mosquito acidentado de Kleboe e tentou bombardear o local do acidente, mas W/Cdr. Iredale percebeu o erro antes de bombardear e se virou em direção à Shell House, mas dois dos Mosquitos da 2ª onda lançaram suas bombas na escola Jeanne d`Arc e apenas F/Lt. Smith foi capaz de bombardear a Shell House. C/Cdr. A terceira onda de Denton aproximou-se de Copenhague pelo Ocidente. Todos os Mosquitos, exceto um, lançaram suas bombas por engano na Escola Jeanne d`Arc, matando 86 crianças e 16 adultos de um total de 482 crianças e adultos, enquanto 67 crianças e 35 adultos ficaram feridos.” (People’s Mosquito)

Shell House após o ataque https://www.peoplesmosquito.org.uk/2013/12/06/operation-carthage-the-shell-house-raid-21st-march-1945/

As aeronaves que integraram o ataque foram:

“Esquadrão Nº 487

– RS570 ‘X’ Gp Capitão RN Bateson / Sqn Ldr E B Sismore (líder de ataque)

– PZ402 ‘A’ Wg Cdr F M Denton / Fg Off A J Coe (danificado, barriga apoiada na base)

– PZ462 ‘J’ Flt Lt R J Dempsey / Flt Sgt E J Paige (atingido por flak, 1 motor u/s, retornou com segurança)

– PZ339 ‘T’ Sqn Ldr W P Kemp / Flt Lt R Peel

– SZ985 ‘M’ Fg Off GL Peet / Fg Off L A Graham

– NT123 ‘Z’ Flt Lt D V Pattison / Flt Sgt F Pygram (ausente)

Esquadrão Nº 464

– PZ353 Flt Lt W K Shrimpton RAAF (Piloto) / Fg Off P R Lake RAAF

– PZ463 Flt Tenente CB Thompson / Sargento H D Carter

– PZ309 Flt Lt A J Smith RAAF / Flt Sgt H L Green RAAF                       

– SZ999 Fg Off HG Dawson RAAF / Fg Off PT Murray (desaparecido)

– RS609 Fg Off JH Palmer RAAF / 2º Ten H H Becker RNoAF (desaparecido)

– SZ968 Wg Cdr Iredale RAAF / Fg Off Johnson

Todas as aeronaves decolaram às 08h40; o último retorno pousou em 14h05.

Esquadrão Nº 21

– SZ977 Wg Cdr PA Kleboe / Fg Off K Hall (ausente)

– PZ306 Sqn Ldr AF Carlisle / Flt Lt N J Ingram

– LR388 Sqn Ldr AC Henderson / Flt Tenente W A Moore

– HR162 Flt Lt M Hetherington / Fg Off J K Bell

Os registros do Esquadrão Nº 21 listam apenas as quatro aeronaves e tripulações acima como participantes desta operação.

Todas as aeronaves decolaram às 08h35; os três que retornaram o fizeram em 13h55.”

(https://web.archive.org/web/20180101135429/https://www.raf.mod.uk/history/bombercommandattackongestapoheadquarterscopenhagen.cfm)

Aeronave de ataque mosquito da RAF
https://northernhistorian.weebly.com/operation-carthage.html

Conclusão

O ataque ao prédio da Shell, sempre foi uma questão controversa, em relação ao objetivo da operação, ela foi um sucesso, conseguindo destruir o prédio utilizado pela Gestapo, porém, os danos provocados na escola católica francesa Jeanne d`Arc, principalmente com a morte de crianças, causou uma propaganda negativa aos Aliados, principalmente utilizada pelos Alemães.

Escola Católica Francesa Jeanne d`Arc
https://dirkdeklein.net/2017/03/21/operation-carthage/

Outro motivo para se acreditar que a operação foi um sucesso, ocorreu pelo pequeno número de mortos da resistência dinamarquesa que estavam no prédio e de pilotos da RAF: “Todos os quatorze prisioneiros da ala sul da Shell House sobreviveram, pois esta parte do edifício não foi bombardeada. Os três prisioneiros restantes foram interrogados no 5º andar, um dos quais morreu. 18 dos 26 prisioneiros sobreviveram ao ataque bombista.”… A perda no ataque da RAF foi o seguinte: “Um total de quatro Mosquito Mk.VIs e dois Mustang Mk. IIIs foram perdidos com 9 tripulantes KIA e 1 POW.” (People’s Mosquito)

O Museu da Resistência em Compenhague exibe uma das maquetes da cidade construídas e utilizadas pela RAF para o planejamento do ataque.

Hoje, o prédio da Shell é a sede da Shell Oil Company na Dinamarca. Na parede do prédio está um molde de bronze de uma hélice de um dos bombardeiros Mosquito que caíram. Abaixo da hélice há uma placa com os nomes dos tripulantes da RAF que morreram no ataque.

A Operação Cartago serviu de pano de fundo para o filme O Bombardeio, lançado em 2021, pela Netflix. (https://historiamilitaremdebate.com.br/filme-o-bombardeio/)

Imagem em Destaque: Shell House antes do ataque – https://www.peoplesmosquito.org.uk/2013/12/06/operation-carthage-the-shell-house-raid-21st-march-1945/

Bibliografia

MOSQUITO, People’s. Operação Cartago – The Shell House Raid – 21 de março de 1945. Disponível em: <https://www.peoplesmosquito.org.uk/2013/12/06/operation-carthage-the-shell-house-raid-21st-march-1945/>. Acessado em: 11/11/2023

VELSCHOW, Klaus. O bombardeio dos Shellhus. Disponível em: <https://milhist.dk/the-bombing-of-the-shellhus/#!/>. Acessado em: 11/11/2023

Ataque à sede da Gestapo. Disponível em: <https://web.archive.org/web/20180101135429/https://www.raf.mod.uk/history/bombercommandattackongestapoheadquarterscopenhagen.cfm>.

https://en.wikipedia.org/wiki/Operation_Carthage

Especialização em História Militar pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), Graduação em História (Bacharel e Licenciatura) pela Universidade Gama Filho (UGF), autor de Artigos em História Militar.

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