Tolstói: Literatura e Guerra

de

Prof. Dr. Ricardo Pereira Cabral

As ligações entre Guerra e Literatura vem desde a invenção da escrita, com diversos autores que vem desde a Antiguidade até os dias de hoje abordando esse tema tão difícil.

Os objetivos eram os mais diversos: registrar os atos heroicos; exaltar as virtudes guerreiras do povo, servindo de modelo para as gerações futuras; criar laços com o passado; descrever as batalhas, o combate e si, as formações e manobras realizadas, a habilidade estratégica do comandante e dos guerreiros em combate entre outros tantos assuntos abordados.

Os autores são os mais diversos: participantes dos eventos e da sua memória, de testemunhas, muitas vezes os escritores tiveram acesso as fontes primárias ou recolheram os registros nos arquivos, bibliotecas, documentos oficiais, diários, memórias, imprensa, filmes, áudios etc.

Muitas das vezes os eventos descritos vem direto da mente criativa do autor e da licença poética que utiliza para descrever melhor ou dramatizar um determinado acontecimento dentro do quadro geral da batalha ou da guerra.

Um dos melhores exemplos da literatura da guerra (não exclusivamente dela) é do russo Liev Tolstói (1828-1910).

Tolstói escreveu duas obras que tinham a guerra como pano de fundo, os “Contos de Sebastopol” e o romance histórico “Guerra e Paz”.

Contos de Sebastopol (1855),

Tolstói atuou como segundo-tenente de artilharia durante a guerra, e a partir dessa experiência descreveu a guerra sob a ótica dos combatentes, detalhando suas reações diante de situações extremas. A obra é dividida em três partes: dezembro de 1854, maio de 1855 e agosto de 1855.

Sebastopol em dezembro

Tolstói nos apresenta como era a vida em Sevastopol, nos paresenta a vários lugares e se detém no hospital improvisado, onde estão os soldados feridos, amputados, alguns deles em camas de campanha, mas a maioria deles deitada no chão frio.

Sebastopol em maio

Nesta parte, Tolstói examina a falta de sentido e a vaidade da guerra. O conto examina muitos aspectos da psicologia da guerra, do heroísmo e a presença enganosa do humanismo nas tréguas. Mas por que enganosa? porque os países continuam entrando em guerra uns com os outros, apesar das tréguas. Tolstói conclui declarando que o único herói de sua história é a verdade.

Sebastopol em agosto

Neste conto, Tolstói retrata a conclusão do cerco de Sebastopol, a derrota e retirada das forças russas. A narrativa alterna entre seguir Mikhail e Vladimir Kozeltsov, dois irmãos que lutaram e morreram pelos russos no conflito.

Esses contos, foram verdadeiros esboços e formaram a base de muitos episódios de Guerra e paz.

Bem, Guerra e Paz é um romance histórico, publicado primeiramente na revista literária O Mensageiro Russo. Em 1865, antes de publicá-lo em brochura, Tolstói fez uma revisão. A obra é composta de 4 livros e um epílogo dividido em 2 partes, a primeira edição tinha 1.225 páginas Guerra e Paz apresenta características interessantes como o determinismo histórico, um descrição psicológica detalhada de seus personagens e dos eventos militares.

Primeira página de Guerra e Paz, da primeira edição, 1869 ( em russo)
https://en.wikipedia.org/wiki/War_and_Peace#/media/File:Tolstoy_-_War_and_Peace_-_first_edition,_1869.jpg

A essência da obra se concentre em determinados acontecimentos-chave ocorridos entre 1805-1820, ou seja, basicamente a guerra dos russos com os franceses: a Guerra da 3ª Coalizão, a Campanha de Ulm (1805), a Paz de Tilsit 1807), o Congresso de Erfurt (1808) e a Campanha da Rússia (1812). Guerra e Paz vai muito além das relações franco-russas daquela conjuntura e aborda temas da época, tais como a questão dos servos, as sociedades secretas e faz considerações acerca da História e da guerra propriamente dita.

Tolstói descreve com bastante precisão as batalhas de Schoengraben (sobre a qual não se tem uma descrição oficial, mas testemunhos, 1805), Austerlitz (1805), a Campanha da Rússia, dividida nas batalhas antes da ocupação de Moscou (e o incêncio provocado pelos próprios russos): Borodino (1812), Ostrovno (1812), do Reduto de Shevardino (1812 O romance continua com as batalhas de Tarutino (1812), de Maloyaroslavets(1812), de Vyazma (1812) e a de Krasnoi (1812). A última batalha descrita é a de Berezina (1812), após a qual os personagens, simbolicamente, seguem em frente com a reconstrução de Moscou e de suas vidas.

Para escrever o romance, Tolstói procedeu como um verdadeiro historiador, colheu testemunhos de várias pessoas que viveram durante a invasão francesa da Rússia, de 1812. Coletou parte considerável do material disponível em russo e francês sobre as Guerras Napoleônicas. Além disso, buscou cartas, jornais, biografias de Napoleão e de outros personagens-chave daquela época para oferecer ao leitor um quadro o mais preciso possível do período abordado no livro. Existem aproximadamente 160 pessoas reais nomeadas ou mencionadas em Guerra e Paz. Verificamos que Tolstói organizou, sistematizou e analisou com muita fonte primária. As secundárias foram os livros de história, textos de filosofia, biografias e outros romances históricos do período. O realismo de suas descrições se deve ao fato de que Tolstoi usou sua experiência como tenente de artilharia durante a Guerra da Crimeia para trazer detalhes vívidos e relatos de primeira mão de como o Exército Imperial Russo foi estruturado e combatia.

Tolstói criticava o estilo de se escrever história daquele período, em especial, a história militar. No início do terceiro volume do romance apresenta suas próprias opiniões sobre como a história deve ser escrita. Seu objetivo era confundir a linha entre ficção e história, para se aproximar da verdade, como ele afirma no Volume II   

Sites consultados:

https://resenhandoeandando.wordpress.com/2020/11/20/guerra-e-paz-o-livro-eterno-e-uma-biblia-da-literatura/

https://www.wikiwand.com/pt/Grande_Arm%C3%A9e

https://en.wikipedia.org/wiki/War_and_Peace

– SANTOS, Erick O. s. Uma análise da concepção de História em Guerra e Paz  (1863-1869) de Liev Tolstoi. Disponível no sítio eletrônico: file:///C:/Users/usuario/AppData/Local/Temp/19165-Texto%20do%20artigo-86712-1-10-20210131.pdf

Os livros

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Está sem tempo para ler o romance? então indicamos:

– o clássico de 1956, Guerra e Paz, dirigido King Vidor, com Henry Fonda e Audrey Hepburn. Disponível na Amazon: https://www.amazon.com.br/gp/product/B08HXBY7X4/ref=as_li_qf_asin_il_tl?ie=UTF8&tag=hmd2021-20&creative=9325&linkCode=as2&creativeASIN=B08HXBY7X4&linkId=4e85d70d98521874336b97668faa9060  

– tem uma versão feita pela BBC em 2016, dirigida por Tom Harper com roteiro de Andrew Davies. Disponível na Amazon:

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– tem uma outra versão, minha preferida diga-se de passagem, também produzida pela BBC, em 1972, dirigida por John Davies, com roteiro de Jack Pulman, com o elenco liderado pelo Anthony Hopkins. Disponível na Amazon: https://www.amazon.com.br/gp/product/B002VPVDKI/ref=as_li_qf_asin_il_tl?ie=UTF8&tag=hmd2021-20&creative=9325&linkCode=as2&creativeASIN=B002VPVDKI&linkId=4b844a783807f414d45631493e3cd339.

Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.

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