Unidade 731: o local dos maiores terrores cometidos pelo Japão na Segunda Guerra Sino-Japonesa

de

Prof. Esp. Pedro Silva Drummond

A Unidade 731 faz parte do contexto da Segunda Guerra Sino-Japonesa (1937-1945). O final do século XIX e início do século XX, foi um período de grandes transformações para o Japão, nesse período os japoneses iniciaram uma grande mudança no País, que ficou conhecida como a Era Meiji, provocando uma modernização tecnológica, industrial e militar.

No aspecto militar, essa modernização, contribuiu para o Japão participar de diversos conflitos até o fim da Segunda Guerra Mundial, como por exemplo: a Primeira Guerra Sino-Japonesa (1894-1895); Guerra Russo-Japonesa (1904-1905); Primeira Guerra Mundial (1914-1918); Invasão na Manchúria (1931); e finalmente a Segunda Guerra Sino-Japonesa (1937-1945), que somente teve fim com a Segunda Guerra Mundial, e a rendição dos japoneses.

Durante o século XX, o Japão teve na China, a sua principal adversária militar, somente na década de 1930, os japoneses e chineses participaram de dois conflitos, a Invasão Japonesa na Manchúria e a Segunda Guerra Sino-Japonesa. Durante esse período, no qual o Japão conseguirá conquistar alguns territórios chineses, surgirá na China a Unidade 731, na região de Harbin, nordeste da China.

Mapa da Região da China onde ficava a Unidade 731 (Harbin em destaque)

Muitos pesquisadores comparam a Unidade 731 utilizada pelos japoneses, com Auschwitz, campo de concentração alemão, na Polônia. Os dois locais serviram para o cometimento de diversos crimes, em nome do desenvolvimento da ciência, sendo cometidos diversos experimentos que causaram a morte de diversas pessoas.

A Unidade 731 era responsável por desenvolver pesquisas envolvendo seres humanos e para o desenvolvimento de armas, para uma possível guerra biológica e química. Um grande número de pessoas utilizadas nesses experimentos eram chineses. O General Shiro Ishii era o responsável pelas pesquisas e a Unidade era conhecida oficialmente como o Departamento de Prevenção de Epidemia e Purificação da Água.

General Shiro Ishii – Comandante pela Unidade 731

Inicialmente, a Unidade 731 foi construída como um centro de pesquisas para investigar doenças e ferimentos de soldados em combate. Os próprios soldados japoneses se voluntariavam para o estudo, porém, com o passar do tempo, os responsáveis pelo local começaram a usar os próprios prisioneiros. Durante os anos que a Unidade 731 esteve aberta, foram estudados atos de vivissecção (o ato de observar lesões e doenças em pacientes vivos) e diversas doenças. O local possibilitou a criação de armas químicas, biológicas e experimentos com o uso de armas convencionais.

O autor do livro A Segunda Guerra Mundial, Antony Beevor, detalha como era a Unidade 731: “O complexo gigantesco, chefiado pelo general Ishii Shiro, mais tarde empregou uma equipe de 3 mil cientistas e doutores de universidades e escolas de medicina no Japão, e um total de 20 mil funcionários nos estabelecimentos subsidiários. Eles prepararam armas para espalhar a peste negra, tifo, antrax e cólera, e as testaram em mais de 3 mil prisioneiros chineses. Também fizeram experiências com antrax, gás mostarda e enregelamento em outras vítimas, às quais se referiam como maruta ou “troncos”. As cobaias humanas, cerca de seiscentas por ano, tinham sido detidas pelo Kempeitai na Manchúria e enviadas para a unidade.” (BEEVOR, Antony, 2015, p. 796).

Os estudos e experimentos feitos na Unidade 731, não ficaram somente dentro do complexo, muito do que foi produzido no local, foi utilizado ou pelo menos tentando contra os inimigos japoneses.

“Em 1939, durante a batalha Nomonhan contra as forças do marechal Jukov, a unidade espalhou patógenos do tifo nos rios, mas o efeito não foi registrado. Em 1940 e 1941, cascas de algodão e arroz contaminadas com peste negra foram despejadas de avião no centro da China. Em março de 1942, o Exército Imperial japonês planejou usar moscas da praga contra americanos e filipinos na península de Bataan, mas a rendição ocorreu antes. Mais tarde naquele ano, patógenos de tifo, peste e cólera foram borrifados na província de Chekiang em retaliação pelo primeiro ataque americano com bomba no Japão. Aparentemente, 1.700 soldados japoneses morreram na área, além de centenas de chineses. Um batalhão de guerra biológica foi enviado a Saipan antes do desembarque americano, e a maioria dos seus integrantes foi evacuada a tempo, mas morreu afogada quando um submarino americano afundou o seu navio. Também havia planos, confiscados por fuzileiros navais em Kwajalein, de bombardear a Austrália e a Índia com armas biológicas, mas isto não chegou a ocorrer. Os japoneses também planejaram contaminar com cólera a ilha de Luzon, nas Filipinas, antes da invasão americana. A Marinha Imperial japonesa, em suas bases de Truk e Rabaul, fez experimentos com prisioneiros de guerra aliados, principalmente pilotos americanos, injetando-lhes sangue de vítimas de malária. Outros foram mortos em diferentes experimentos com injeções letais. Até abril de 1945, cerca de cem prisioneiros de guerra australianos — alguns doentes, outros sãos — foram usados em experiências com injeções desconhecidas. Na Manchúria, 1.485 prisioneiros americanos, britânicos, australianos e neozelandeses detidos em Mukden foram usados em uma variedade de experiências com patógenos.” (BEEVOR, Antony, 2015, p. 796-797).

Assim como, Auschwitz não foi o único campo de concentração Nazista cometer diversas atrocidades, a Unidade 731, não era o único complexo militar utilizado pelo Jampão com fins para estudos e experimentos.

Após a Segunda Guerra Mundial, muitos dos responsáveis pelo complexo acabaram não sendo responsabilizados pelos crimes cometidos, como explica Beevor: “Talvez o elemento mais chocante na história da Unidade 731 tenha sido a concordância de MacArthur, após a rendição japonesa, em fornecer imunidade a todos os envolvidos, inclusive o general Ishii. O acordo permitiu aos americanos obter os dados acumulados sobre os experimentos. Mesmo sabendo que prisioneiros aliados haviam morrido em virtude dos testes, MacArthur ordenou a suspensão das investigações.” (BEEVOR, Antony, 2015, p. 797).

Acontecimentos como esse e outros cometidos na Segunda Guerra Sino-Japonesa e em outras Guerras, ainda hoje causam estremecimentos nas relações entre os dois Países envolvidos.

Imagem de Capa – Entrada atual da Unidade 731

Bibliografia

– BEEVOR. Antony. A Segunda Guerra Mundial.1. ed. – Rio de Janeiro :Record, 2015.

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– GILBERT, Martin. A Segunda Guerra Mundial: os 2.174 dias que mudaram o mundo. 1. ed. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2014.

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– ALMEIDA, Victor Porfírio dos Santos. A Medicina nos campos de concentração de Auschwitz. Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Medicina da Bahia, Salvador, 2016.

– MARTINS, Hermínio. Biotecnologia tanatocrática. Novos estud. – CEBRAP. 2006, nº.74. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-33002006000100015&lng=pt&nrm=iso>. Acessado: 12/11/2021

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Especialização em História Militar pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), Graduação em História (Bacharel e Licenciatura) pela Universidade Gama Filho (UGF), autor de Artigos em História Militar.

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