Prof. Dr. Ricardo Pereira Cabral
Introdução
Em 23 de agosto de 1939, foi assinado o Pacto Ribbentrop-Molotov entre a Alemanha Nazista e a União Soviética. O pacto permitiu que os soviéticos ocupassem a Estônia, Lituânia e Letônia. A URSS então empreendeu uma violenta campanha de colonização com execução em massa de opositores, repressão aos resistentes e deportações. Propriedades foram confiscadas e as línguas locais foram reprimidas. Nestes estados ocupados o nacionalismo continuou. Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, os alemães inicialmente foram bem recebidos e várias revoltas locais restabeleceram os governo nacionais, além de um regime de colaboração com a ilusão que seriam de novo independentes. No entanto, os alemães tinham outros planos: anexar os países bálticos ao III Reich. No primeiro momento foram instituídos regimes de fachada controlados pelos nazistas que logo impuseram suas políticas raciais e contra os judeus. A Wehrmatch conseguiu recrutar grandes contingentes nos países bálticos para lutar contra os soviéticos, pois para a maioria dos lituanos, letões e estonianos, o domínio alemão era menos duro do que o domínio soviético. O Exército Vermelho também conseguiu recrutar naturais dos países bálticos, mas sem o mesmo sucesso dos alemães, devido à doutrinação forçada e o ressentimento causado pela ocupação soviética.
A XX Divisão de Granadeiros Waffen SS
A XX Divisão de Granadeiros Waffen da SS (1ª Estônia) foi uma divisão de infantaria estrangeira da Waffen-SS que combateu com os nazistas contra a URSS. No entanto, nunca fez parte formalmente da Wehrmacht. A divisão estava sob o comando geral do Reichsführer-SS Heinrich Himmler, mas não era parte integrante das SS (Schutzstaffel).
As Waffen-SS serviram como uma legião estrangeira para recrutar entre as populações locais aqueles simpatizantes da ideologia nazista ou opositores aos soviéticos, muitos voluntários, mas também existiam elementos recrutados “voluntariamente” pelos governos de ocupação nazistas.
Em 24 de janeiro de 1944, a divisão foi ativada. Muitos de seus combatentes eram membros da Legião da Estônia e/ou da 3ª Brigada de Voluntários SS, da Estônia, que lutavam como parte das forças alemãs desde agosto de 1942 e/ou outubro de 1943. Estas unidades participaram das lutas contra o Exército Vermelho na Ucrânia e no front norte, em Belarus e na Rússia, sofrendo pesadas perdas. Estas unidades recrutaram seu pessoal na Estônia ocupada pelos alemães. Pouco depois de sua ativação oficial, o recrutamento generalizado na Estônia foi instituído pelas autoridades de ocupação alemãs.
Em abril de 1944, a divisão tinha um efetivo de 16.135 homens. Entre março e setembro de 1944, cerca de 13.700 homens passaram por suas unidades de reserva e, em agosto de 1944, por volta de 10.400 foram mortos ou desaparecidos. A divisão lutou contra o Exército Vermelho na Frente Oriental e se rendeu em maio de 1945.
Um total de 38 mil homens foram recrutados na Estônia, e guarneceram não só a XX Divisão de Granadeiros, mas também outras unidades estonianas que faziam parte do Exército Alemão e do 200º Regimento de Infantaria Finlandês.
A ordem de batalha da divisão era:
• 45.º Regimento de Granadeiros Voluntários SS;
• 46.º Regimento de Granadeiros Voluntários SS;
• 47.º Regimento de Granadeiros Voluntários SS;
• 20.º Regimento de Artilharia SS;
• 20.º Batalhão de Fuzileiros SS;
• 20.º Batalhão Anti-tanque SS;
• 20.º Batalhão de Engenharia SS;
• 20.º Batalhão de Comunicações SS;
• 20.º Batalhão de Defesa Anti-aérea SS e
• 20.º Tropas de Abastecimentos SS
Em combate
A divisão lutou nas batalhas de Narva (2/2 a 10/8/1944), da Linha Tannenberg (25/7 a 10/8/19440 e Tartu (10/8 a 6/9/1944). Nestes conflitos, a divisão quase foi destruída. Recompletada e voltando para frente de batalha, nos combates ocorridos entre o final de 1944 e o início de 1945, quando então a divisão voltou a sofrer pesadas baixas. As unidades foram retiradas da linha de Frente. No centro de treinamento em Neuhammer, a divisão foi parcialmente reconstituída e voltou para a linha de frente em fevereiro, a fim de participar dos combates contra a ofensiva soviética que estava ocorrendo no Vístula-Oder. A divisão sofreu pesadas baixas e recuou. Não adiantou e foi cercada pelas forças soviéticas. Os remanescentes da divisão, agora, quando muito um regimento, conseguiu fugir em 19 de março de 1945, sem suas armas. Em abril, os remanescentes da divisão foram transferidos para o sul, para a área ao redor de Goldberg. Após a Ofensiva de Praga do Exército Vermelho, a divisão tentou romper a linha soviética para o oeste, a fim de se render aos Aliados ocidentais, não obtendo sucesso.
O que restou da divisão se rendeu as forças partisans tchecas. Os tchecos torturaram e assassinaram mais 500 prisioneiros de guerra, os que conseguiram fugir e se entregar aos Aliados Ocidentais, estes os devolveram aos soviéticos.
O Tribunal de Nuremberg decidiu que cerca de 30 mil estonianos que serviram nas Legiões Bálticas eram recrutas e não voluntários. Os juízes os definiram como “combatentes da liberdade”, que estavam protegendo suas terras natais da ocupação soviética e, como tal, não eram verdadeiros membros das SS, pois não receberam o treinamento e a doutrinação das Waffen SS.
Imagem de Destaque: https://pt.wikipedia.org/wiki/20.%C2%AA_Divis%C3%A3o_de_Granadeiros_Waffen_SS_%281.%C2%AA_Let%C3%A3%29
Fontes
https://en.wikipedia.org/wiki/20th_Waffen_Grenadier_Division_of_the_SS_(1st_Estonian)
https://en.wikipedia.org/wiki/Estonian_Legion
https://en.wikipedia.org/wiki/Estonian_Legion
https://militaryheritagetourism.info/en/military/topics/view/12
https://www.gf9.com/hobby.aspx?art_id=1288
Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.