Prof. Esp. Pedro Silva Drummond
Poucos meses após o início da Segunda Guerra Mundial, a costa da América do Sul se tornou palco de um dos conflitos entre duas potências marítimas do momento, Alemanha e a Grã-Bretanha. O Admiral Graf Spee que já vinha desde o início do conflito obtendo bons resultados contra seus adversários, se encontrava no Atlântico Sul, na costa do Uruguai, onde se deparou com navios britânicos, dando início a Batalha do Rio da Prata.
Nesse artigo, será analisado o início da Segunda Guerra Mundial, a construção do Graf Spee e o conflito na costa do Uruguai até o momento do seu afundamento.
Introdução
A Segunda Guerra Mundial teve início no dia 1 de Setembro de 1939, quando a Alemanha invadiu a Polônia. Até essa data, a Nação Alemã vinha promovendo diversas conquistas territoriais, sem que os seus adversários da Primeira Guerra Mundial tomassem alguma medida. Uma das primeiras ações tomadas pelos Países que seriam os rivais da Alemanha na Segunda Guerra Mundial foi a Conferência de Munique em 1938, quando se tentou pela diplomacia, resolver a questão do expansionismo alemão, no que ficou conhecido como a Política do Apaziguamento.
A invasão da Alemanha à Polônia foi somente o estopim de uma crise que se anunciava desde quando Hitler começou a romper com os artigos assinados pelos alemães no Tratado de Versalhes, e iniciou as anexações territoriais, o desenvolvimento industrial bélico e aumento no contingente militar.
O Admiral Graf Spee, chamado de “encouraçado de bolso”, entra para história dentro do contexto do desenvolvimento na indústria bélica. Em 1934 no estaleiro de Wilhelmshaven, foi lançando o navio Graf Spee, que teve esse nome em homenagem ao Vice-Almirante Maximiliano Juan Maria Huberto, o Conde von Spee. O navio de acordo com o pesquisador Richard Humble, tinha:
Em 1936 o Graf Spee se uniu à Esquadra Alemã, e no início da Segunda Guerra Mundial, estava pronto e em alto-mar para o inicio das operações de Guerra. O Graf Spee desde os primeiros dias da Guerra participou ativamente do conflito. Nos primeiros meses da Guerra, o navio esteve nos Oceanos Atlântico e Índico, conseguindo afundar diversos navios mercantes, com o objetivo de corso de superfície.
Nos primeiros dias de dezembro, o Graf Spee encontra-se no Atlântico Sul para reabastecimento e continuar sua finalidade de corsário de superfície na região platina. Nesse período, tem início os preparativos para a Batalha do Rio da Prata, como esclarece o pesquisador William Carmo Cesar,
O envio dos navios britânicos para o conflito contra o Graf Spee, teve como resultado a Batalha do Rio da Prata, no dia 13 de dezembro de 1939.
Batalha do Rio da Prata
O início do conflito aconteceu no litoral do Uruguai, quando os navios britânicos e o Graf Spee se encontraram. No início da manhã do dia 13 de dezembro, como relata o Capitão de Mar e Guerra William Carmo Cesar:
A chegada do Graf Spee ao Uruguai foi envolvida de discussões diplomáticas. No dia seguinte a chegada do navio alemão, o Representante alemão na Cidade de Montevidéu, pleiteou ao governo do Uruguai uma autorização de 15 a 30 dias para que o Graf Spee pudesse fazer todas as manutenções necessárias causadas no conflito.
A visão do representante da Grâ-Bretanha sobre a permanência do Graf Spee no porto de Montevidéu era diferente, como relatou Rafael Nascimento Gomes,
O objetivo dos representantes alemães eram ganhar tempo, para que os submarinos alemães pudessem chegar ao litoral do Uruguai e ajudassem a quebrar o bloqueio naval britânico, feito pelos encouraçados que tinham avariado o Graf Spee.
Apesar dos esforços alemães, o governo do Uruguai acatou a visão britânica, e após analise dos danos sofridos pelo Graf Spee, deu 72 horas para as reparações.
A tripulação do Graf Spee precisou esperar a ajuda de empresas argentinas, para tentar reparar o navio. No Uruguai, os alemães não conseguiram obter nenhum tipo de ajuda, provocando uma insatisfação do Comandante do encouraçado, que atribuía “as inteligentes atividades pessoais do ministro britânico Drake”, para que nenhuma empresa de manutenção naval contribuísse com qualquer tipo de auxílio.
Após o prazo final dado pelo governo do Uruguai, o Graf Spee tinha a sua navegabilidade funcionando, porém, o poderio bélico estava quase que totalmente destruído, o que provocou uma ordem direta do governo alemão, como menciona Rafael Nascimento Gomes:
Nesse mesmo dia, o Graf Spee deixou o porto de Montevidéu, na companhia do navio mercante Tacoma, onde boa parte da tripulação do encouraçado já tinha sido transferida. Após navegar para fora das aguas territoriais do Uruguai, como explica o pesquisador William Carmo Cesar, o Comandante Langsdorff, ordenou
Em seguida o afundamento do Graf Spee, o Comandante Hans Langsdorff, partiu para Buenos Aires, onde acabou cometendo suicídio, enrolado na bandeira da Marinha Imperial Alemã, sob a qual fizera parte na Primeira Guerra Mundial.
Conclusão
A Batalha do Rio da Prata foi um dos primeiros conflitos navais da Segunda Guerra Mundial. Pouco mais de dois meses após o início da Guerra, as principais nações envolvidas na Guerra estavam na costa do Continente Americano, participando de um conflito bélico.
O Graf Spee, um dos atores principais do conflito, teve inicialmente um grande sucesso nos seus objetivos de corso de superfície por onde passava, mas foi na costa do Uruguai, que teve um dos seus grandes desafios, contra os navios do Reino Unido.
Com os danos causados na Batalha, houve a necessidade de reparar os prejuízos e o Porto do Uruguai foi o local escolhido. Mas após a chegada a região, iniciou-se um processo de discussões diplomáticas sobre o tempo que o navio deveria ficar no porto.
As nações envolvidas no conflito, Inglaterra, Alemanha, Uruguai e as nações do Continente Americano, estavam envolvidas em discutir a situação. Os alemães desejavam o tempo necessário para reparação total do navio, os britânicos desejavam que o Graf Spee fosse aprisionado, junto com a tripulação até o final da Guerra.
Todo o Continente Americano nesse período era uma região neutra na Segunda Guerra Mundial, e desejava permanecer nessas condições, o que possibilitou uma união entre as nações do Continente para se discutir a solução do problema, como comenta Camila Cabral de Mello Viero,
Essa solução fortaleceu a união dos Países do Continente e a decisão de neutralidade sobre o conflito, como analisa Camila Cabral de Mello Viero,
A decisão do Uruguai de conceder o prazo de 72 horas para a manutenção do Graf Spee no Uruguai foi decisivo para as ações finais do navio. Como o encouraçado ainda não tinha condições de enfrentar os navios britânicos, o Capitão preferiu afundar o navio para que a sua tecnologia não caísse nas mãos dos seus inimigos.
Após um período de sucesso nos Oceanos, onde “cerca de nove mercantes foram afundados pelo corsário alemão, totalizando aproximadamente 50.000 toneladas, sem que nenhum tripulante tenha sido morto”, o Graf Spee acabou tendo como destino o fundo do mar.
[3] Disponível em: <https://tripifyapp.com/venue/montevideo-montevideo-uruguay/museo-naval-de-montevideo/f46a2fc3-dd7f-45f4-b06b-3cf6491d2f88>. Acessado em: 30/07/2021
Nos dias de hoje, em período de maré baixa, partes do encouraçado podem ser visualizados no local onde ele foi afundado e outras peças podem ser visitadas no Museu Naval de Montevidéu.
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Bibliografia
Livros
– BEEVOR. Antony. A Segunda Guerra Mundial.1. ed. – Rio de Janeiro :Record, 2015.
– GILBERT, Martin. A Segunda Guerra Mundial: os 2.174 dias que mudaram o mundo. 1. ed. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2014.
– SALINAS, Juan e NÁPOLI, Carlos de. Ultramar Sul: a última operação secreta do Terceiro Reich: A última operação secreta do Terceiro Reich – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.
Monografia
– VIERO, Camila Cabral de Mello. Graf Spee: a cobertura da Folha da Tarde na
batalha do Rio da Prata. Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2016.
Artigo
– CESAR, William Carmo. Graf Von Spee: Uma Tragédia em dois Atos. Revista Villegagnon, ano 14, nº14, p.24-31, 2019.
– GOMES, Rafael Nascimento. A II Guerra Mundial chega à América do Sul: A “Batalha do Rio da Prata” e as Relações Diplomáticas entre Brasil e o Uruguai (1939-1945). Revista Historae, v. 11, n. 2, p. 108-126, 2020.
Especialização em História Militar pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), Graduação em História (Bacharel e Licenciatura) pela Universidade Gama Filho (UGF), autor de Artigos em História Militar.