Profº. Dr. Ricardo Pereira Cabral
Entre 1821 e 1824, após a declaração de Independência proferida por D. Pedro, naquela altura dos acontecimentos Príncipe Regente do Brasil, dentro da estrutura política do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (1815) a ruptura, como não poderia deixar de ser, deu-se por forma violenta, já que as tropas leais à Lisboa resistiram a emancipação política da parcela do reino mais e rica e povoada.
Alguns historiadores afirmam que a guerra de independência começou com a expulsão das tropas portuguesas de Pernambuco (1821) relativo ao Movimento Constitucionalista, que é motivo de controvérsia, que não entraremos no mérito.
Os conflitos ocorreram onde existiam as maiores concentrações de tropas portuguesas, a saber: Cisplatina, Bahia, Piauí, Maranhão e Grão-Pará. No Rio de janeiro, a maioria das tropas aderiu a causa da independência, as recalcitrantes foram embarcadas de volta à Portugal.
O então governo provisório, liderado por José Bonifácio com o apoio do príncipe D. Pedro, da princesa D. Leopoldina, e da elite política da Corte, de São Paulo e Minas gerais, apoiaram a constituição de forças “nacionais”, compostas por brasileiros, portugueses e estrangeiros para a luta contra os portugueses.
Em 1821, quando retornava a Lisboa, seguindo as determinações das Cortes Constitucionais, D. João duplicou no Brasil grande parte da estrutura burocrática-administrativa que tinha vindo para o Rio de Janeiro (1808). O novo governo vai começar a partir dessa base.
Em 1822, Lisboa enviou uma força naval e tropas para reforças sua posição no Rio de Janeiro, mas não foi lhes permitido desembarcar e após ameaças de resistência, no caso, forçassem a entrada na cidade, se retiraram.
Com 7.500 km de costa e contando com poucas estradas que ligassem o litoral e o interior, e sem estradas interligando o país, a primeira providência do governo provisório foi criar a Marinha Imperial para poder deslocar tropas leais pelo litoral para expulsar os portugueses. Outra missão era impedir o desembarque de reforços vindos de Portugal ou o deslocamento das tropas lusas de uma província para outra. Os navios portugueses que aqui estavam foram tomados e aqueles em condições de serem aproveitados foram incorporados a Marinha Imperial. Contribuições populares foram fundamentais para a criação da Esquadra. O general Felisberto Caldeira Brant, posicionado como representante do novo governo em Londres, foi fundamental na contratação de mercenários e navios para a Marinha, já que não havia lealdade ao Brasil por uma parte dos marinheiros que “aderiram” à causa da Independência.
Quando D. João VI voltou para Portugal levou as principais tropas de linha de volta com ele, ficando no Brasil poucas unidades e as milícias. O Exército Imperial foi constituído a partir das tropas luso-brasileiras remanescentes que aderiram à causa da independência e o mesmo artifício de contratar mercenários foi utilizado. Os portugueses recalcitrantes forma embarcados e enviados para Portugal.
Em termo didáticos, podemos dividir a Guerra de Independência em uma série de campanhas:
– Campanha da Cisplatina: só terminou em 1824, com a retirada das tropas portuguesas sitiadas em Montevidéu
– Campanha da Bahia: ocorreram as batalhas de Cabrito e Pirajá (8/11/1822), onde os portugueses foram derrotados por forças locai, sob o comando do Major José de Barros e reforços enviados do Rio de Janeiro, comandado pelo General Pierre Labatut. Cercados por terra e mar, o Coronel Madeira de Mello se rendeu (2/7/1823) e retornou em transportes escoltados pelos navios brasileiros à Portugal. A Esquadra se apossou de vários navios portugueses que estavam no porto de Salvador.
– Campanha do Piauí: as tropas brasileiras foram derrotadas na Batalha de Jenipapo (13/3/1823), mas com a adesão de várias municipalidades à causa da Independência e a guerra de guerrilha promovida pelos patriotas levou os portugueses e seus mercenários a se retirarem do Piauí.
– Campanha do Maranhão: A ação conjunta de tropas do Exército e da Marinha travaram uma série de combates até conseguirem cercar São Luís, que foi obrigada a se render em 28/7/1823. – Campanha do Grão-Pará: desde 1/3/1823 estavam ocorrendo combates entre as tropas portuguesas e patriotas. Em agosto, D. Pedro enviou o tenente-comandante John Pascoe Grenfell para conquistar a província, o que foi feito mediante o uso da força.
A Guerra no Mar foi comandada pelo primeiro almirante da Esquadra imperial, Thomas Cochrane, que realizou uma série de operações combates visando expulsar a Marinha real do Brasil. Inicialmente a campanha foi prejudicada por oficiais e marinheiros desleais à causa da Independência, mas essas tripulações foram substituídas por brasileiros natos e mercenários (britânicos e norte-americanos). A guerra de corso contra a navegação portuguesa foi intensamente utilizada.
Após a expulsão das tropas portuguesas se iniciaram as negociações de paz e o reconhecimento da independência do Brasil com a assinatura do Tratado de Paz, Aliança e Amizade (ou do Rio de Janeiro) em 29/8/1825.
Imagem de Destaque: D. Pedro proclamando a independência do Brasil às margens do riacho Ipiranga, por Pedro Américo.
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Bibliografia
– NETO, Hélio F. Independência e Morte. Política e Guerra na Emancipação do Brasil. 1821-1823. Rio de Janeiro: Topbooks, 2019.
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Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.