A Guerra dos Cem Anos de Lijar

de

Prof. Esp. Pedro Silva Drummond

Inicialmente, é necessário conhecer a localização de Lijar, que atualmente, é um município espanhol da província de Almeria, na Andaluzia.

Na década de 1870, aconteceu a Guerra Franco-Prussiana, que teve como consequência a derrota dos franceses e vitória da Prússia e a criação do Estado da Alemanha. A derrota francesa causou grande prejuízo ao País, aconteceram muitas mortes e perda territorial (Alsácia e Lorena).

Nesse contexto, surgirá a Guerra de Lijar, em 1883, quando o rei da Espanha, Alfonso XII, viajou por diversos Países, como, França, Alemanha, Áustria e Bélgica.

Durante sua viagem pela Alemanha, o Rei da Espanha, foi muito bem recebido pelo povo e governo alemão e retribuiu a boa relação. Alfonso XII, durante a permanência na Alemanha, foi escolhido como coronel do regimento da guarnição de Estrasburgo, Alsácia.

Alfonso XII, após a sua estadia na Alemanha, passou pela França, e foi recebido da seguinte forma pelos cidadãos franceses, segundo o pesquisador Alfredo Escobar: “Os milhares de indivíduos aglomerados na praça uivavam como feras, assobiando para todas as carruagens que pareciam fazer parte da comitiva real; os oficiais espanhóis uniformizados foram insultados”. Os gritos mais comuns eram “Abaixo o humano! Viva a República! As pessoas subiram em árvores, carros e até telhados. Alguns chegaram a jogar objetos na carruagem, como pedaços de repolho… tudo isso ocorreu sob a impassibilidade das autoridades francesas que pareciam gostar do espetáculo.” (ESCOBAR apud FERNANDEZ) Nessa ocasião o Rei Espanhol estava trajado com o uniforme prussiano.

Após os acontecimentos com o Rei da Espanha, o governo da França ainda tentou amenizar a situação, enviando uma nota a imprensa, com as seguintes palavras: “O Presidente da República deslocou-se às cinco da tarde à embaixada de Espanha para visitar o rei D. Afonso e manifestar o seu profundo pesar pelos acontecimentos de ontem. M. Grevy disse que a França não poderia ser confundida com os autores de manifestações hostis a Sua Majestade, e implorou ao Rei para dar a esta nação uma nova prova de simpatia aceitando o banquete que havia sido oferecido para a noite no Élysée” (ESCOBAR apud FERNANDEZ)

Lijar, atualmente
https://elretohistorico.com/almeria-guerra-francia/

Muitos espanhóis não gostaram de como o seu Rei foi recebido na França, e um desses grupos de espanhóis insatisfeitos, foi a Câmara Municipal de Líjar, que decidiu proclamar o seguinte:

“[…] O Presidente comunicou à Câmara Municipal que, ao passar pela Cidade de Paris, o Rei D. Afonso, ao regressar de viagem no dia vinte e nove do passado mês de Setembro, foi insultado, apedrejado e covardemente ofendido por miseráveis mobs, pertencentes à Nação Francesa.Que o povo mais insignificante da Sierra de los Filabres deve protestar contra tal ataque, e fazer presente, lembrar e publicar, que apenas uma velha e enferma, mas uma filha da Espanha, massacrou por si mesma trinta franceses que abrigavam, quando o invasão do oitavo ano, em sua casa. Que este exemplo por si só já é suficiente para os habitantes do Território Francês saberem que a cidade de Líjar, composta apenas por trezentos vizinhos e seiscentos homens úteis, está disposta a declarar guerra a toda a França, computando para cada dez mil franceses um habitante desta cidade. Bem, é preciso que você conheça o Território Francês, que a Espanha ostenta em seu brasão, a insígnia mais valiosa que a primeira nação do mundo pode ostentar. Não tem nada menos que um Leão nele. Conta a História Espanhola, Que um Carlos I de Espanha, soube fazer prisioneiro um rei francês, e quando o manteve em Castela, com todas as considerações que só se guardam em arcas espanholas, soube atravessar a França, aterrorizando o Mundo com a sua figura . Que houve também um Felipe Segundo, que no seu reinado soube ir de um extremo ao outro da Terra e que agora, quando o Povo de Espanha, não tem um Gonzalo de Córdoba, nem um D. Juan Chacón, nem um Conde de Gabia, nem uma Dureña Ponce, ainda há vergonha e coragem de fazer desaparecer do mapa dos Continentes a Covarde Nação Francesa. A Câmara Municipal, tendo em conta o que foi declarado pelo Presidente da Câmara, concorda por unanimidade em declarar Guerra à Nação Francesa, dirigindo um comunicado devidamente comunicado directamente ao Presidente da República Francesa, comunicando previamente esta Resolução ao Governo de Espanha. Nada mais havendo a acordar, foi encerrada a Sessão, lavrando-se a presente ata, que vai assinada pelos que souberam e pelos que não assinaram, que eu, Secretário, certifico.

Sessão Ordinária da Câmara Municipal. 14 de outubro de 1883

https://es.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADjar

Fragmento da Declaração de Guerra feito pela cidade de Lijar à França
https://elretohistorico.com/almeria-guerra-francia/

Durante todo o período de guerra (1883-1983), nunca houve um incidente entre Lijar e a França, e após cem anos de guerra declarada, a paz foi assinada entre Líjar e a França. O representante  em nome de Lijar foi o, prefeito Diego Sánchez Cortés, em nome da França, as autoridades foram, o cônsul e vice-cônsul francês em Málaga e Almeria. O acordo de paz foi assinado, através dos seguinte anúncio:

Na localidade de Líjar, província de Almeria, sendo doze horas do dia trinta de outubro de mil novecentos e oitenta e três. Reunidos na praça pública desta cidade, por um lado, os representantes da Nação Francesa, na pessoa do cônsul e vice-cônsul de Málaga e Almería, e do outro, a Corporação Municipal da Câmara Municipal de Líjar, presidida por seu Prefeito D. Diego Sánchez Cortés, sendo testemunhas de exceção as autoridades civis e militares da província. Acorda-se a assinatura da Paz entre Líjar e a França, após cem anos de guerra sem sangue, declarada por esta Câmara Municipal em 14 de outubro de 1883. E para constar, os representantes do Estado francês assinam por um lado, e por outro a Corporação Municipal da Câmara Municipal de Líjar, assinando como testemunhas de exceção autoridades civis e militares da província e toda a população de Líjar, de qual eu certifico secretário.

(https://es.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADjar)

Tratado de Paz de 1983
https://www.niusdiario.es/espana/andalucia/guerra-100-anos-lijar-pueblo-almeria-reto-francia-ofensa-alfonso-xii_18_3225349111.html

Durante vários dias celebrou-se o que se convencionou chamar de semana da paz , que culminou com uma placa que ainda hoje se conserva em Líjar para que todos se lembrem que até cem anos de guerra podem terminar em paz.

Imagem de Destaque: Visita do Rei da Espanha à Paris – https://elretohistorico.com/almeria-guerra-francia/

Bibliografia

– FERNANDEZ, Laura. Líjar, a cidade que declarou guerra à França por 100 anos. Disponível em: <https://www.escapadarural.com/blog/lijar-el-pueblo-que-le-declaro-la-guerra-a-francia-durante-100-anos/>. Acessado em: 26/07/2023.

– PADILHA, Javier García. A Guerra dos Cem Anos de Lijar, a cidade de Almería que desafiou a França por uma ofensa contra Alfonso XII. Disponível em: <https://www.niusdiario.es/espana/andalucia/guerra-100-anos-lijar-pueblo-almeria-reto-francia-ofensa-alfonso-xii_18_3225349111.html>. Acessado em: 26/07/2023.

– FERREIRO, Miguel Ángel. O dia em que uma cidade de Almeria declarou guerra à França. Disponível em: <https://elretohistorico.com/almeria-guerra-francia/>. Acessado em: 26/07/2023.

– https://es.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADjar

– https://www.curistoria.com/2018/09/lijar-pueblo-guerra-francia.html

Especialização em História Militar pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), Graduação em História (Bacharel e Licenciatura) pela Universidade Gama Filho (UGF), autor de Artigos em História Militar.

1 comentário em “A Guerra dos Cem Anos de Lijar”

  1. Excelente e delicioso texto. Lijar, uma curiosidade histórica que só viemos a conhecer através de especialistas na matéria. Parabéns a vocês pelo site, com um design muitíssimo interessante e adequado ao assunto; vocês trabalham magnificamente a comunicação visual, dando ao História Militar em Debate a apresentação devidamente adequada e transportando o modelo de design de livros desta área para um media mais moderno – em questão de cronologia – embora não maior do que as bibliotecas de informação militar. E falar dos textos, claros e informativos, é até covardia diante de outros que se apresentam por aí. Enfim, vocês são verdadeiramente incríveis!

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