O contexto
Em 2011, teve início uma série de movimentos populares conhecidos como Primavera Árabe. Tais movimentos tinham como objetivo exigir dos governantes uma melhor qualidade de vida para a população. Os Estados Unidos e a União Europeia apoiaram tais movimentos populares com o objetivo e derrubar os governos ditatoriais que não lhes favoráveis ou confiáveis.
A Primavera Árabe conseguiu alguns de seus objetivos, surtindo efeito na Tunísia, Egito e Líbano, derrubando seus respectivos líderes. Assim, esse movimento chegou no Iêmen e o presidente Ali Abdullah Saleh foi deposto.
O governo do Iêmen foi para o vice-presidente, Abd Rabbuh Mansur Al-Hadi, sunita, apoiado pela Arábia Saudita. Durante seu começaram a ocorrer atritos com os xiitas. Desse modo, a minoria Xiita, que se auto intitula Houthis, deram início a série de manifestações populares contra o atual presidente Al-Hadi visando derrubá-lo.
Em Setembro de 2014, os Huthis após uma série de protesto e uma ofensiva militar assumiram o controle da cidade de Sana’a.
Em 20 de janeiro de 2015, após novos combates, os Hutis se apoderam do Palácio Presidencial em Sana’a e cercam a residência do presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi. O presidente então foge para Ádem, no Sul do Iêmen. Os Huthis assumiram o controle do governo. Em meio a instabilidade política, protestos e combates entres os huthios e tropas leais ao governo, a Al-Qaeda da Península Arábica realiza uma série de atentados terroristas e tentam assumir o controle de parte do território.
A guerra civil se torna ainda mais violenta quando o Irã passou a apoiar os Houthis, por serem Xiitas, e a Arábia Saudita, vizinha do Iêmen, passou a apoiar os Sunitas, vertente majoritária no Iêmen. Os sauditas então intervêm diretamente na guerra civil. ´
A Eritreia seria o intermediário apara a entrega de armas iranianas para os Houthis, que também compraram material bélico da Coreia do Norte.
Intervenção externa na Guerra Civil Iemenita
No dia 26 de Março de 2015, a Arábia Saudita forma uma coalizão de países compostos pelos Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Bahrein, Sudão, Egito, Jordânia, Marrocos e o Catar (até 2017) para intervir na guerra civil ieminita.
A coalizão então lançou a Operação Tempestade Decisiva que tinha como objetivos contem a ofensiva dos houthis sobre Adêm, centro da resistência do governo do Abd Rabo Mansur Hadi. A ofensiva da coalizão por meio de ataques aéreos e bloqueios navais deteve o avanço dos houthis. Esse tem sido o padrão de atuação da coalizão, com ataques pontuais e temporários com tropas da coalizão no terreno, nos momentos de crise, deixando a tarefa principal de combate ao houthis para as forças iemenitas.
Os norte-americanos lançam uma campanha aérea com drones a fim de eliminar a liderança e militantes terroristas da Al-Qaeda. Os ataques provocam mortes de civis, a princípio, inocentes, provocando protestos, mas sem maiores consequências para os norte-americanos que continuam com os ataques.
Além da Arábia Saudita e seus aliados, o governo do Iêmen tem recebido armas e recursos dos Estados Unidos não só para combater os houthis, mais também a Al-Qaeda e o Estados Islâmico.
Os Houthis responderam com ataques de mísseis contra Riad, capital da Arábia Saudita. Os sauditas, em uma operação aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU, fizeram um bloqueio naval, terrestre e aéreo do Iêmen.
O bloqueio naval se estendeu os portos controlados pelos Hutis, agravando a crise humanitária no Iêmen. Os sauditas restringiam, inclusive, os carregamentos com ajuda humanitária da ONU. Após intensa crítica internacional, a Arábia Saudita levantou o bloqueio no final de 2017, o que deu um alívio a crise humanitária, mas não mudou os critérios para a concessão da permissão do tráfego comercial e humanitário.
Desde 2017, operadores de operações especiais dos SEALs e da Força Delta, conjuntamente com a continuidade dos ataques com drones, atacando as bases e lideranças da Al-Qaeda e do Estado Islâmico. Os sauditas e seus aliados realizaram, nte, ataques aéreos e com armas de precisão, e ataques terrestres contra os houthis e os terroristas fundamentalistas ganhando terreno e provocando um grande número de baixas. No entanto, não conseguiram dobrar a resistência dos houthis.
De 2018 até o início de 2022, a guerra civil iemenita prossegue, sem que um dos lados consiga prevalecer. Os houthis, apoiados pelo Irã, resistem as forças governamentais e da Coalizão, liderada pela Arábia Saudita. Os ataques aéreos sauditas estão destruindo toda a infraestrutura de apoio dos houthis, mas provocam um grande número de baixas entre os civis, pois os houthis combatem nas cidades e tem muitos simpatizantes entre a população. Desde o final de 2021, a Coalizão tem realizado ataques aéreos, com foguetes de precisão e com forças blindadas, que tem conseguido avançar lentamente, no território ocupado pelo houthis, apesar da resistência feroz, de elevado número de baixas e baixas entre os combatentes. Em 2022, os houthis lançaram foguetes e ataques com drones contra refinarias e cidades sauditas, além de atacaram instalações petrolíferas em resposta aos ataques da coalizão.
Verificamos que os sauditas, que possuem as Forças Armadas mais bem equipadas e treinadas (por britânicos e norte-americanos), entre os Estados muçulmanos do Oriente Médio, não conseguem levar vantagem sobre os houthis. Lembro que os sauditas tem acesso a dados de inteligência dos EUA e do Reino Unido, e, eventualmente, são surpreendidos pelos houthis.
As várias tentativas de se firmar um acordo de cessar fogo e de paz para dar um fim à guerra civil tem fracassado. O número de mortos passa dos cem mil, o número de deslocado passa de dois milhões, a crise humanitária atinge cerca de 80% da população de uma população estimada de 30 milhões. Trata-se da maior crise humanitária do tempo presente.
A situação no país é de desastre humanitário, com milhões de pessoas com desnutrição, morrendo por doenças e em ataques aéreos e de artilharia. Denúncias de torturas e execuções sumárias foram feitas à ambas as partes envolvidas no conflito. Existem milhares de refugiados vivendo em campos, nos países em torno do Yêmen, vivendo em condições precárias, com parte da ajuda enviada pela ONU e outros países sendo desviadas para atender as populações locais ou vendidas no mercado. Apesar dos embargos e das leis proibindo a venda de armas, esta prossegue por parte dos Estados Unidos e da União Europeia, por outro lado o Irã e seus aliados continuam a fornecer armas para os houthis.
Os Estados do Golfo, a ONU e as grandes potências mundiais esqueceram ou não querem ver o que está acontecendo no Yêmen.
Imagem de Destaque: https://www.swp-berlin.org/en/publication/three-scenarios-for-the-yemen-war
Sites consultados
https://www.politize.com.br/crise-no-iemen/
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-60758741
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-46322964
https://www.swp-berlin.org/en/publication/three-scenarios-for-the-yemen-war
https://www.aljazeera.com/news/2022/2/9/yemens-war-explained-in-maps-and-charts-interactive
https://unric.org/pt/iemen-a-maior-crise-humanitaria-do-mundo/
https://en.wikipedia.org/wiki/Yemeni_Civil_War_(2014%E2%80%93present)
Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.