Prof. Dr. Ricardo Pereira Cabral
O contexto
Em dezembro de 1806, o sultão otomano Selim III sentiu-se ameaçado pelas atividades russas associadas às guerra contra o imperador francês, Napoleão Bonaparte. Em consequência o sultão fechou o estreito de Dardanelos ao transporte russo e declarou guerra ao Império Russo (1806-1812).
Em 22 de maio de 1807, as marinhas russa e otomana travaram uma pequena batalha naval no mar Egeu, perto de Dardanelos. Após essa batalha, a marinha russa continuou a bloquear o estreito durante o mês de junho. Embora o bloqueio tenha servido a um importante propósito militar por si só, impedindo o fluxo de suprimentos e materiais para Constantinopla, a marinha russa, no Mar Egeu, procurou, principalmente, atrair a marinha otomana para fora do estreito para uma batalha decisiva em mar aberto. Embora a marinha otomana tivesse superioridade numérica, os turcos evitavam um confronto direto com a frota russa. Como resultado, a marinha otomana se abrigou no estreito e só saiu para atacar a base naval russa em Tenedos, quando as condições foram favoráveis.
Para atrair a marinha otomana para o mar Egeu, o vice-almirante russo, Dmitry Senyavin, realizou uma série de manobras com sua esquadra, muitas vezes reduzindo o número de navios que ele havia posicionado nas proximidades da entrada dos Dardanelos, a fim de atrair os otomanos para a batalha.
A Batalha
A batalha ocorreu nos dias 1 e 2 de julho de 1806, após uma série de manobras. Neste batalha, os 10 navios de linha russos do vice-almirante Dmitry Senyavin derrotaram 10 navios de linha, 5 fragatas, 3 chalupas de guerra e 2 brigues otomanos do Grande Almirante Seydi Ali Pasha.
Em 22 de junho, a esquadra russa deixou sua base no porto para Tenedos para caçar a marinha otomana, que havia saído de Dardanelos. A esquadra otomana era composta por 16 navios, incluindo 8 navios de linha e 5 fragatas, que posteriormente foram reforçadas. Depois de enfrentar o vento durante todo o dia, Seyid Ali ancorou sua frota perto de Imbros, a aproximadamente 12 milhas ao norte-noroeste dos Dardanelos. A frota otomana também se manteve em movimento durante esse período, buscando sempre manter aberta uma rota de fuga de volta para Dardanelos. Nesse meio tempo, a esquadra otomana bombardeou Tenedos e desembarcou fuzileiros navais para iniciar um cerco.
Às 8 h do dia 29 de junho, a esquadra de Seyid Ali avistou Senyavin e a frota russa se aproximando pelo norte. Os turcos cessaram o bombardeio de Tenedos, levantaram ancoras e fugiram para o oeste em direção a Lemnos.
Ao chegar a Tenedos, Senyavin usou os dois dias seguintes para reabastecer sua frota e caçar as embarcações turcas remanescentes nas proximidades. Senyavin sabia que a força-tarefa otomana havia tomado um rumo para oeste quando partiu de Tenedos.
Em 30 de junho, Senyavin navegou em direção ao norte, continuando a bloquear o acesso aos Dardanelos. No final do dia, a frota russa havia chegado a um ponto seis milhas ao norte de Lemnos. No início da manhã seguinte, Senyavin avistou a força-tarefa de Seyid Ali a oeste de Lemnos e imediatamente abriu as velas para atacar. Senyavin avistou a frota de Seydi navegando para o oeste em linha às 8 h de 1º de julho e se posicionou a barlavento. Senyavin sinalizou para a esquadra formar 2 colunas de 5 navios cada e navegou direto para as capitânias no meio da linha de Seydi. A coluna do contra-almirante Aleksey Greig atingiria as capitânias, enquanto que a coluna de Senyavin impediria que os outros navios de Seydi interferissem. A manobra ocorreu conforme mostrada abaixo.
O fogo otomano danificou gravemente a nau capitânea russa, a Rafail, de 84 canhões. Os navios russos atrás dela formaram pares. Eles viraram para o norte para trocar de lado com a linha de Seydi. Senyavin e outros 2 navios navegaram para atacar o navio da ponta da linha. Eles detruíram a fragata líder, forçando os navios atrás dela a manobrar e dimimuir as velas. Às 10 h, os ventos inconstantes permitiram que Seydi rompesse o contato e escapasse. Senyavin cessou a perseguição às 12 h. Seydi se reagrupou perto do Monte Athos.
A Sadd al-bahr, de 84 canhões, do almirante Bekir Bey foi gravemente danificado e rebocado. Sua escolta o abandonou quando Senyavin se aproximou e a capturou.
Em 2 de julho, Seydi se aproximou de Thasos. Três navios dispersos, a Bisharet, de 84 canhões, a fragata Nessim, de 50 canhões, e a chalupa de guerra Metelin, de 32 canhões, foram interceptadass e atacadas. Suas tripulações as encalharam e as queimaram. Em 4 de julho, Seydi foi visto afundando outro navio de linha e uma fragata. Em 5 de julho outra fragata e um brigue afundaram. Os outros navios otomanos escaparam.
Conclusão
A esquadra de Seynavin teve 78 mortos e 172 feridos. Seydi perdeu 1.000 mortos, 774 homens foram capturados, 3 navios de linha, 3 fragatas e 2 saveiros foram destruídas. Senyavin voltou para Tenedos. A força de cerco da marinha turca estava agora isolada em território hostil e logo se renderiam. Essa derrota devastadora destruiu a capacidade naval otomana, garantindo a supremacia naval russa.
Não houve mais batalhas navais entre os russos e os turcos na região dos Dardanelos durante a Guerra Russo-Turca. Em 7 de julho de 1807, os Tratados de Tilsit, assinados em entre Napoleão e o czar Alexandre, da Rússia, obrigaram que a esquadra russa de Senyavin fosse enviada de volta para o Mar Báltico. Outra consequência foi a Guerra entre a Rússia e a Grã-Bretanha (1807-1812).
Neste mesmo período, os britânicos começaram a negociar um tratado de paz com o Império Otomano e apoiaram sua posição com uma demonstração de força, trazendo a marinha britânica para o Mar Egeu.
Imagem de Destaque: https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Athos#/media/File:Battle_of_Athos_1807.jpg
Fontes
https://www.facebook.com/photo/?fbid=10158876657296367&set=gm.1368908393602329
https://en.topwar.ru/100228-v-teni-napoleonovskoy-epohi-sredizemnomorskaya-ekspediciya-admirala-senyavina.html
https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Athos
Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.
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