Ricardo Cabral e Alexandre Galante
Introdução
A Marinha dos Estados Unidos (US Navy ou USN) foi criada a partir da Marinha Continental em 13 de outubro de 1775, durante a Guerra de Independência. Sua missão é “proteger a América no mar. Ao lado de nossos aliados e parceiros, defendemos a liberdade, preservamos a prosperidade econômica e mantemos os mares abertos e livres. Nossa nação está engajada em uma competição de longo prazo. Para defender os interesses americanos em todo o mundo, a Marinha dos EUA deve permanecer preparada para desempenhar nosso papel atemporal, conforme orientado pelo Congresso e pelo Presidente”.
A US Navy considera que “doutrinariamente, o domínio marítimo é constituído pelos oceanos, mares, baías, estuários, ilhas, áreas costeiras e o espaço aéreo acima destes, incluindo os litorais. A complexidade do domínio, com confluências de água, ar e terra, assim como espaço e ciberespaço, é infinita em variação.”
A US Navy tem como suas tarefas básicas: controle do mar, projeção de poder, dissuasão, segurança marítima e transporte marítimo.
O domínio marítimo forma os atributos-chave da força naval norte-americana: mobilidade, capacidade expedicionária, agilidade, emprego “escalável” das suas capacidades, permanência (na ação) e versatilidade. A partir da leitura da Naval Doctrine Publication 1. Naval Warfare podemos deduzir que a estratégia da presença em todos os mares e oceanos visa “mostrar a bandeira” a fim de garantir suas linhas de comunicações marítimas (“liberdade de navegação”) para o comércio, para a exploração dos recursos marítimos e o deslocamento das forças norte-americanas.
Na visão da Marinha “os oceanos moldaram a jornada da humanidade desde o início da tempo registrado. Eles têm sido uma fonte de prosperidade e perigo, proteção e ameaça, oportunidade e opressão, tudo dependendo das aspirações daqueles que dominam o mar. A história demonstra que quando você perde o capacidade de contestar no mar, você perde o mar.”
A USN é a ponta de lança dos interesses nacionais e a primeira linha de defesa dos Estados Unidos. A prosperidade dos Estados Unidos está ligada diretamente as lides marítimas, ao comércio marítimo e a segurança fornecida pela Marinha.
Em termos organizacionais, o oficial de mais alta patente da Marinha é o Chefe de Operações Navais (Chief of Naval Operations) responsável pela parte operacional, enquanto que Secretário da Marinha é o encarregado das questões administrativas. O CNO e o Comandante do Corpo de Fuzileiros Navais são membros do Estado Maior Conjunto (Joint Chiefs of Staff).
As unidades da Marinha estão organizadas em Frotas que estão subordinadas aos Comandantes dos Comandos Combatentes Unificados (Unified Combatant Commands, CCMD). Tais Comandos são responsáveis pela condução de operações militares em uma determinada região geográfica (Area Of Responsability, AOR). Cada AOR tem uma série de instalações e unidades orgânicas e podem receber unidades de cada uma das Forças singulares para serem desdobradas em um determinado teatro de operações. A cadeia de comando para fins operacionais é: presidente, secretário de defesa e comandante do CCMD. Como verificamos, as Forças Armadas norte-americanas tem uma forte característica expedicionária.
Um dado interessante, a 10ª Frota, Comando Cibernético da Frota, ativada em 2010, trata-se de um comando funcional, localizada no Fort Mead, Maryland, está subordinada ao Comando Espacial e ao Comando Cibernético. A criação dessa frota demonstra que as Forças Armadas dos EUA adotaram uma abordagem sistêmica dessas novas dimenções estratégicas, ampliando a consciência situacional (Situational Awareness) do Comando (seja ele CCMD ou de TO) com capacidades de combate em múltiplos domínios e ampla integração da suas várias palataformas e capacidades combatentes, de C4ISR (Command, Control, Communications, Computers, Intelligence,Surveillance and Reconnaissance) e unidades I2CEWS (Intelligence, Information, Cyber, Eletrônic Warfare and Space)
https://www.heritage.org/military-strength/assessment-us-military-power/us-navy
Verifica-se no mapa acima, que as Forças Armadas norte-americanas concentraram muitos bases na região da Ásia-Pacífico, são 7 bases na área de maior interesse estratégico que é o Mar do Sul da China, que é o mesmo número de grandes bases nos Estados Unidos. Observe-se que em Singapura existe um centro logístico muito próximo ao Estreito de Malaca. As bases no exterior têm unidades fixas e/ou unidades e meios permanentes desdobrados em regimes temporários.
O planejamento da Marinha dos EUA para incorporação de novos meios de combate.
A USN na sua estimativa de custos na produção dos vários meios em especial aquisição de SSN(X) e DDG(X) ocorre quando a Marinha enfrenta vários anos de orçamentos nivelados indo para a década de 2030 e como vários grandes programas de aquisição competem por dinheiro dentro do serviço e com as prioridades do Gabinete do Secretário de Defesa.
Em vez de fornecer uma única perspectiva de 30 anos para o plano de construção naval da Marinha, o serviço emitiu três planos separados para o ano fiscal de 2023.
A USN elaborou um plano de baixo e alto nível com base em dois perfis de financiamento separados – Alternativa 1 e Alternativa 3. O Pentágono criou um terceiro perfil – Alternativa 2 – que enfatizou a construção de submarinos de ataque e o submarino de mísseis balísticos nucleares da classe Columbia.
Destróier DDG(X) pode custar até US$ 3,4 bilhões por casco, submarino de ataque SSN (X) até US$ 7,2 bilhões, diz relatório
As estimativas de custo da Marinha são de US$ 689 bilhões para a Alternativa 1, US$ 696 bilhões para a Alternativa 2 e US$ 763 bilhões para a Alternativa 3 (ou, em 30 anos, uma média de US$ 23,0 bilhões, US$ 23,2 bilhões e US$ 25,4 bilhões por ano, respectivamente).”
O Congressional Budget Office (CBO) descobriu que a Marinha subestimou o custo de seus planos de construção naval em US$ 4 a US$ 5 bilhões anualmente ao longo dos 30 anos de vida das propostas.
“O CBO estima que comprar apenas os novos navios especificados no plano de 2023 da Marinha custaria US$ 795 bilhões na Alternativa 1, US$ 834 bilhões na Alternativa 2 e US$ 881 bilhões na Alternativa 3 (ou, em 30 anos, uma média de US$ 26,5 bilhões, US$ 27,8 bilhões) e US$ 29,4 bilhões por ano, respectivamente – tudo em dólares de 2022).”
Resumindo, vai custar muito caro.
Cada alternativa propõe um número diferente de navios de cada tipo, sem levar em consideração meios de superfície e submersíveis não tripulados, para atingir um total de 316, 327 ou 367 navios, com previsão até ano 2052. Em contrapartida, as projeções indicam que a Marinha Chinesa (PLA Navy ou PLAN) deverá atingir o número de 400 navios em 2025 e 440 navios em 2030, como no gráfico abaixo.
https://www.heritage.org/military-strength/assessment-us-military-power/us-navy
Quais seriam as soluções para esse desafio estratégico? 1) Inicialmente a USN indica que vai estimular a capacidade de construção naval com novos estaleiros e ampliação dos existentes e 2) Incorporar sistemas autônomos de superfície (unmanned surface vessel, USV, de porte médio e o Large Unmanned Surface Vehicles, LUV), submersos (Extra Large Unmanned Underwater Vehicle, ELUUV) e aéreos (large UAV).
A partir dessas possibilidade a USN está instrumentalizando um novo projeto de força, como na tabela abaixo.
https://www.heritage.org/military-strength/assessment-us-military-power/us-navy
A USN acompanha de perto a evolução da incorporação de novos meios das suas principais concorrentes estratégicas, atualmente, as marinhas da China e da Rússia. Essas Marinhas representam desafios diferentes em termos estratégicos, de ameaças e de desdobramento de unidades em determinadas regiões. O atual cenário estratégico exige da USN uma presença constante em regiões como o Atlântico Norte, Mediterrâneo, Pacífico Norte e o Mar da China. A título de exemplo, a PLAN está expandido sua zona de ação para o Índico, Mar Vermelho, Golfo Pérsico e Atlântico Sul e recentemente começou a alongar as patrulhas dos seus SSBN, obrigando a US Navy a desdobrar meios para acompanhá-los. Para maiores informações acessar https://historiamilitaremdebate.com.br/a-intensificacao-das-patrulhas-submarinas-com-armas-nucleares-da-china-adiciona-complexidade-para-os-eua-e-aliados-2/ e https://www.naval.com.br/blog/2022/11/11/destroier-ddgx-pode-custar-ate-us-34-bilhoes-por-casco-submarino-de-ataque-ssn-x-ate-us-72-bilhoes-diz-relatorio/
Sendo assim, a pressão sobre a USN é enorme.
U.S. Navy to Start Building Constellation-Class Frigate This Year
O projeto de força elaborado pela USN explicita as capacidades expedicionárias, de controle de área marítima e dissuasão, com muitos navios aeródromos, anfíbios, cruzadores e destroyers evidenciando que a USN deseja manter suas capacidades de controle de área maritima, projetar força militar sobre terra e de presença nas áreas de maior interesse estratégico dos Estados Unidos.
A questão da guerra de litoral é abordada pela construção de uma nova classe de fragatas e novas atualizações dos destroyers da classe Arleigh Burke. No entanto, verifica-se que o aumento do número de destróieres e a incorporação da 20 fragatas da classe “Constellation” (imagem acima) não serão suficientes, tendo em vista os múltiplos cenários de atuação. Lembrando que foram fabricadas 71 fragatas da classe Oliver Hazerd Perry (incluindo as de marinhas amigas). O programa DDG(X) também deve ser acelerado já que começaram a surgir na mídia especializada a concepção geral do navio, como vemos na imagem abaixo.
https://www.navalnews.com/event-news/sna-2023/2023/01/rand-comments-on-ddgx-u-s-navy-destroyer/#prettyPhoto/0/
O primeiro dos 42 destróieres Flight III da classe Arleigh Burke deve ser comissionado ainda em 2023 e não se sabe ainda se essa encomenda será mantida e se a USN vai construir um novo DDG(X). O certo que esse destróier tem menos capacidades que o Type 055 chinês (8 já comissionados, 1 em contrução e 7 encomendados).
Como verificamos, a USN elaborou um cenário onde a PLAN teria uma frota superior a 400 navios. O projeto de força da USN contempla recomendações da incorporação de 403 meios. Nos próximos anos importantes meios navais darão baixa, como os porta-aviões da classe Nimitz (que já tem substituto) e os cruzadores da classe Ticonderoga (sem substituto, já que o Programa DDGX ainda está na fase de modelagem), embora os destroyers Arleigh Burke Flight III sejam designados como substitutos temporário.
Nos último 20 anos, os programas de produção de novos meios têm se caracterizado pelo descumprimento de prazos, estouro do orçamento, desempenho operacional aquém do esperado e longas paradas de manutenção, diminuindo o tempo de prontidão e disponibilidade dos meios. Carlos del Toro, Secretário da US Navy, lamenta o estado atual da construção naval norte-americana: os chineses contam com 13 estaleiros capazes de construir navios de grande porte, enquanto os EUA possuem apenas 7. Apenas 1 estaleiro chinês tem uma capacidade produtiva maior do que os 7 norte-americanos. Atualmente a PLAN tem 340 navios de guerra, já a US Navy tem 280.
Na comparação entre a produção de navios mercantes e de carga transportada por navios de ambas as bandeiras a vantagem chinesa é ainda maior, a China construiu 44% da frota mercante mundial, a Coreia do Sul 32%, o Japão 17% e os EUA apenas 0,05%.
O cenário atual já desafiador para a US Navy, já que a PLAN mantém um ritmo de construção de mais ou menos 6 a 7 meios por ano (nos último 15 anos), enquanto o ritmo atual de construção naval dos EUA é de 2 ou 3 navios por ano. Aumentar o número de estaleiros, qualificar a mão de obra, reduzir os custos e projetos navais de melhor qualidade é apenas o começo.
Para maiores informações, ler os artigos “Marinha dos EUA lamenta supremacia na construção naval da China” no link https://www.naval.com.br/blog/2023/02/28/marinha-dos-eua-lamenta-supremacia-na-construcao-naval-da-china/; “A Era do Domínio Naval norte-americano acabou” no link https://historiamilitaremdebate.com.br/a-era-do-dominio-naval-norte-americano-acabou/ e “O Plano de Construção Naval de Longo Prazo da Marinha norte-americana” no link https://historiamilitaremdebate.com.br/o-plano-de-construcao-naval-de-longo-prazo-da-marinha-norte-americana/
O quadro a seguir mostra o ritmo de construção das unidades de superfície da PLAN. Seta azul significa que a embarcação está (provavelmente) em serviço em abril de 2023, branca significa que ainda não está ou não está mais em serviço, mas pode já ter sido lançado.
Ordem de Batalha de Submarinos e Grandes Navios de Superfície da Marinha Chinesa
O Índice de Força Militar dos EUA em 2023 (2023 Index of U.S. Military Strength, https://www.heritage.org/military) ressalta a importância de acelerar a incorporação de novos meios e os programas visando manter a vantagem tecnológica existente em relação as outras Marinhas.
Sea Hawk (esquerda) e o Sea Hunter (direita) Medium-displacement unmanned vessel
https://www.defensenews.com/naval/2023/04/12/us-navy-aims-to-field-manned-unmanned-fleet-within-10-years/
Como nos referenciamos acima, a US Navy planeja aumentar rapidamente o número de meios de combate com a incorporação de um número de sistemas autônomos de superfície (unmanned surface vessel, USV, de porte médio e o Large Unmanned Surface Vehicles, LUV), submersos (Extra Large Unmanned Underwater Vehicle, ELUUV) e aéreos (large UAV) que já estão sendo testados.
Esse meios devem atuar em conjunto com meios tripulados com novas doutrinas de emprego a serem desenvolvidas. O potencial desses sistemas é muito grande, mas ainda existe um longo caminho até que estejam em condições de emprego operacional. A USN espera já estar com esses sistemas em contrução em 2025 e começar a incorporá-los a partir de 2027.
Orca (large autonomous submarine)
https://www.defensenews.com/naval/2023/04/12/us-navy-aims-to-field-manned-unmanned-fleet-within-10-years/
A questão é o aumento dos custos de produção por casco e a existência de vários programas (fragatas, destróieres, porta-aviões e submarinos) competindo por recursos cada vez mais limitados e em meio a isso tudo mudanças de prioridades, como o caso dos navios anfíbios, que não estão claras.
Os meios navais da Marinha dos EUA
Vamos listar abaixo apenas o que consideramos os principais meios da Marinha dos EUA.
TIPO | CLASSE | QTD | OBS |
Força de Submarinos | |||
SSBN | Ohio | 14 | Será substituído pela Classe Columbia |
Columbia | – | 1 em construção | |
SSGN | Ohio | 4 | |
SSN | Los Angeles | 28 | |
Seawolf | 3 | ||
Virginia | 21 | 6 em construção | |
Força de Superfície | |||
Porta-aviões | Nimitz | 10 | |
Gerald Ford | 1 | 1 em construção | |
Navios de Assalto Anfíbio | Wasp | 7 | 1 em construção |
America | 2 | ||
Navio de Comando Anfíbio (Amphibious Command Ships, LCC) | Blue Ridge | 2 | |
Navio de Desembarque Doca (Landing Platform Dock LPD) | San Antonio | 12 | 2 em construção |
Navio de Desembarque (Dock Landing Ship, LSD) | Whidbey Island | 6 | |
Harper Ferry | 4 | ||
Cruzadores de mísseis guiados | Ticonderoga | 22 | A serem substituídos pela DDG(X) |
Destróieres | Arleigh-Burke | 70 | 13 em construção |
Zumwalt | 2 | 1 em testes de mar | |
Fragatas | Constellation | – | 3 em construção |
Navios de Combate Litorâneos (Littoral Combat Ships, LCS) | Freedom | 10 | 5 em construção |
Independence | 12 | 5 em construção |
Aviação Naval
Aeronave | Função | Qtd | Obs |
F/1-18E/F Super Hornet | Caça | 566 | |
F-35 Lightning II | Caça | 13 | |
Airborne Early Warning and Control, AEW&C) | |||
E-2 Hawkeye | Alerta antecipado e controle aéreo | 97 | |
Guerra Eletrônica | |||
E-6 Mercury | TACAMO (Take Charge And Move Out) | 16 | |
EA-18G Growler | Suppression of Enemy Air Defenses (SEAD) e Radar jamming and deception | 153 | |
EP-3 Orion | Electronic signals intelligence (ELINT) e Signals intelligence (SIGINT) | 12 | |
Patrulha Marítima | |||
P-3 Orion | Anti-submarine warfare (ASW) | 40 | 12 em missões de ELINT |
P-8 Poseidon | Anti-submarine warfare (ASW) | 112 | |
Helicópteros | |||
CH-53E Super Stalion | Caça-minas e lança minas | 29 | |
SH-60 Seahawk | ASW, SAR e transporte | 508 | |
V-22 Osprey | Transporte | 12 |
Grupos de Batalha e Grupos de Ataque
As frotas são, normalmente, divididas em esquadras navais, cada uma das quais comandada por um oficial general subordinado. Por sua vez, as esquadras são, tradicionalmente, divididas em divisões. Na época da navegação à vela era tradicional uma frota estar dividida nas esquadras de vante, do centro e de ré. O mesmo ocorria com as esquadras atuando isoladas, podiam se dividir em esquadrões e estes em divisões.
A organização em frotas é administrativa, quando os meios são disponibilizados para uma frota, eles se organizam em grupos de batalha. Os esquadrões (destróieres, fragatas, LCS etc) são estruturas ao mesmo tempo táticas e administrativas e seguem a mesma lógica de distribuição de meios para a composição dos grupos de batalha.
https://www.quora.com/What-is-the-difference-between-a-battle-group-and-a-strike-group-in-the-US-Navy
Um grupo de batalha refere-se a um grupo de navios organizados e treinados para operar juntos como uma unidade a fim de cumprir uma determinada missão e por um determinado tempo de desdobramento. Este grupo normalmente inclui um porta-aviões, bem como uma variedade de outros navios, como cruzadores, destróieres e submarinos. O objetivo de um grupo de batalha é projetar poder naval e fornecer uma forte dissuasão contra adversários em potencial.
Um grupo de ataque, por outro lado, é um grupo menor de navios que são organizados e treinados para conduzir operações ofensivas. Este grupo normalmente inclui um porta-aviões, bem como um número menor de cruzadores, destróieres e submarinos. O objetivo de um grupo de ataque é conduzir operações como ataques aéreos e apoiar operações anfíbias. Existem ainda os esquadrões que podem ser compostos por cruzadores, destróieres e fragatas que podem conduzir operações no mar e anfíbias. Quantos navios compõem um grupo de batalha da USN? Depende da missão recebida. Um “grupo de ataque de porta-aviões” (Carrier Strike Group, CSG) pode incluir um porta-aviões (CVN) com suas ala aérea embarcada (CAW), escoltado por um ou dois cruzadores de mísseis guiados (CG), dois ou três destróieres de mísseis guiados (DDG), um ou dois submarinos de ataque (SSN) e apoiado por um navio de reabastecimento de frota ou um navio logísitico (T-AO)
A USN possui também um efetvo, algo ente 8 mil e 9 mil, operadores de forças especiais conhecidos como Navy SEALs (The United States Navy Sea, Air and Land Teams, SEALs).
Os “times” que compõe essa força especial tem capacidade de operar em vários tipos de ambientes e realizar uma ampla gama de missões tais como: operações de inteligência, neutralização e/ou captura de inimigos, sabotagem, reconhecimento, destruições, treinamento, conselheiros militares entre outras. Os SEALs utilizam diversos meios para infiltração e exfiltração, não se limitando aos meios navais.
Os SEALs estão organizados em 6 Grupos Especiais de Guerra Naval com cada grupo contando com equipes SEALs de número variável e equipamentos específicos. Estão subordinados ao CNO e podem ser empenhados pelo JSOC. Existe um grupo que tem organização diferenciada e está diretamente subordinado ao Joint Special Command (JSOC) componente do US Special Operations Command (USSOCOM), o Naval Special Warfare Development Group, conhecido como DEVGRU ou SEAL Team 6.
https://en.wikipedia.org/wiki/I_Marine_Expeditionary_Force#/media/File:I_US_Marine_Expeditionary_Force_-_Organization_2021.png
O Corpo de Fuzileiros Navais (United States Marine Corps (USMC)
É a principal unidade expedicionária e de assalto anfíbio das Forças Armadas dos Estados Unidos. Atua em alto grau de cooperação com a Marinha, tendo autonomia tática, operacional e estratégica para a condução de suas missões de guerra anfíbia.
Em terra, os Marines realizam suas operações de armas combinadas, semelhantes ao Exército, respeitando as particularidades da guerra anfíbia.
Os Marines estão desdobrados de acordos com os Comandos Combatentes. Internamente estão dividos no Comando Pacífico, Comando Atlântico e em três Forças Expedicionária de Fuzileiros (Marine Expeditionary Force) com sede em Campo Pedleton (San Siego, CA), Campo Lejune (Jacksonville, Carolina do Norte) e Campo Courtney (Okinawa, Japão).
https://www.globalsecurity.org/military/agency/usmc/mef.htm
Cada Força Expedicionária de Fuzileiros Navais (Marine Expeditionary Force, MEF) é composta por;
- 1 Divisão de fuzileiros com 3 regimentos de fuzileiros cada um com 4 batalhões, 1 regimento de artilharia com 4 batalhões de artilharia, 1 batalhão de reconhecimento mecanizado, 3 batalhões de reconhecimento blindado, 1 batalhão blindado de assalto anfíbio e 1 batalhão de engenharia de combate ;
- 1 Brigada Expedicionária;
- 3 unidades expedicionárias (valor batalhão) e companhias de inteligência e comunicações;
- 1 Ala aérea com com 4 grupos de aeronaves dotadas de caças e helicópteros (ataque e transporte), 1 esquadrão de UCAV, 1 regimento de suporte logístico, 1 esquadrão de controle aéreo, 1 esquadrão de apoio logístico, 1 esquadrão de defesa anti-aérea e 1 esquadrão de comunicações;
- 1 Grupo Logístico com companhia de engenharia, combate logístico, transporte, manutenção e médica.
https://www.popularmechanics.com/military/weapons/a20388/how-the-us-marines-fight/
As Forças Especiais estão sob o comando operacional do Marine Forces Special Operations Command (MARSOC) incluindo o Marine Raider Regimento e está diretamente subordinada ao JSOC. O efetivo gira em torno de 3 mil homens. O efetivo total dos Marines é em torno de 180 mil homens.
O quadro abaixo mostra os meios aéreos de combate mais significativos dos Marines.
Aeronave | Função | Qtd | Obs |
AV-8B Super Hornet II | Ataque ao solo | 87 | |
F/1-18E/F Super Hornet | Caça | 138 | |
F-35 Lightning II | Caça | 127 | |
Helicópteros | |||
AH-1Z Viper | Ataque | 159 | |
CH-53E Super Stalion | Transporte pesado | 140 | |
CU-53K King Stallion | Transporte pesado | 9 | |
V-22 Osprey | Multi-missão e Transporte | 289 |
Conclusão
A Marinha dos EUA continua sendo a mais poderosa do mundo e de maior tonelagem, mas a Marinha Chinesa é a mais numerosa e, a cada ano, a distância entre os dois poderes navais diminui.
A primeira vantagem da USN reside no número de porta-aviões, são 11 navios contra 2 da PLAN (a partir de 2025 serão 3). Mas a vantagem do número de porta-aviões não resulta necessariamente em vantagem tática no Mar da China, por causa das capacidades A2/D2 (anti-acesso/negação de área) chinesas, como os mísseis balísticos antinavio, mísseis hipersônicos, mísseis antinavio lançados de navios, aeronaves e submarinos.
Como evidenciado em simulações, devido à vulnerabilidade dos porta-aviões da USN diante dos mísseis balísticos antinavio chineses, eles teriam muita dificuldade de sobreviver operando além da segunda cadeia de ilhas, caso tentem interferir em uma invasão de Taiwan pela China.
A ilustração acima mostra um Carrier Strike Group da USN operando entra primeira e segunda cadeia de ilhas no Oceano Pacífico, dentro do alcance dos mísseis balísticos antinavio chineses DF-21D (1.500 km de alcance) e DF-26 (4.000 km de alcance) e bombardeiros H-6K que podem ser equipados com mísseis de cruzeiro e hipersônicos.
Diante desse cenário, os submarinos de propulsão nuclear seriam as plataformas da USN com maior possibilidade de sobrevivência, podendo empregar seus mísseis de cruzeiro contra alvos chineses.
Os submarinos de propulsão nuclear da PLAN são em menor número e qualidade inferior em relação aos da USN, mas a vantagem americana também tende a diminuir nos próximos anos, devido ao aumento do ritmo de construção de submarinos chineses e também da sua qualidade.
Atualmente a PLAN opera 6 submarinos nucleares de mísseis balísticos (SSBN), seis submarinos nucleares de ataque (SSN) e 44 submarinos diesel-létricos (SSK), incluindo unidades dotadas de sistemas de propulsão independentes da atmosfera (AIP).
A PLAN deve manter um inventário de 65 a 70 submarinos durante os anos 2020, substituindo unidades mais antigas por mais modernas.
Nos últimos 15 anos, a PLAN construiu 12 submarinos de propulsão nuclear, 6 SSBN Type 094, 2 SSN Type 093 e 4 SSN Type 093A.
Os próximos submarinos chineses de propulsão nuclear deverão ser os Type 093B, dotados de lançadores verticais (VLS) para mísseis de cruzeiro. Fotos de satélite revelaram que a China ampliou sua capacidade de construção de submarinos e poderá atingir a capacidade de lançar ao mar pelo menos dois SSN ao ano.
A questão para a USN não é apenas tentar manter a superioridade tecnológica ou a superioridade qualitativa dos meios, mas de chegar também a uma paridade numérica com PLAN, que não para de se expandir.
Um outro ponto que não podemos esquecer é que a Marinha russa, em que pese a prioridade da Guerra da Ucrânia, também não para de crescer e tem retomado a postura mais agressiva do período soviético.
Diante de novo cenário estratégico na região do Extremo Oriente, Japão, Coreia do Sul e Austrália, tradicionais aliados e dependentes da panóplia militar dos EUA, tem se empenhado em ampliar suas capacidades militares.
A tendência de médio prazo é uma ampliação significativa dos gastos militares na região do Extremo Oriente com o objetivo de dissuadir os chineses. Por outro lado, o aumento dos gastos militares também pode indicar a redução da capacidade dos EUA de encontrar uma solução política para o xeque estratégico que Beijing aplicou em Washington.
FONTES
– https://www.navy.mil/
– https://cimsec.org/wp-content/uploads/2020/08/NDP1_April2020.pdf
– https://www.msn.com/en-us/news/world/the-age-of-american-naval-dominance-is-over/ar-AA18yGOr
– https://www.theatlantic.com/magazine/archive/2023/04/us-navy-oceanic-trade-impact-russia-china/673090/
– https://historiamilitaremdebate.com.br/a-era-do-dominio-naval-norte-americano-acabou/
– https://www.naval.com.br/blog/2023/02/28/marinha-dos-eua-lamenta-supremacia-na-construcao-naval-da-china/
– https://www.naval.com.br/blog/2021/01/02/os-navios-da-marinha-chinesa-incorporados-em-2020/
– https://velhogeneral.com.br/2023/04/04/marinha-americana-um-tigre-de-papel-moeda/
– https://www.defensenews.com/naval/2023/04/18/navy-long-range-plan-shows-minimal-growth-in-many-warship-programs/
– https://www.naval.com.br/blog/2022/11/11/destroier-ddgx-pode-custar-ate-us-34-bilhoes-por-casco-submarino-de-ataque-ssn-x-ate-us-72-bilhoes-diz-relatorio/
-https://news.usni.org/2023/04/18/cno-very-important-to-add-2nd-constellation-class-shipyard-build-4-frigates-a-year
– https://www.defensenews.com/naval/2023/04/12/us-navy-aims-to-field-manned-unmanned-fleet-within-10-years/
– https://www.navalnews.com/naval-news/2022/03/u-s-navys-future-large-scale-combatant-force-level-goals/
– https://www.defensenews.com/opinion/commentary/2023/04/25/beyond-ship-counts-training-readiness-and-capabilities-count-too/?utm_source=linkedin&utm_medium=social&utm_campaign=dfn-rss-zap
– https://thediplomat.com/2020/12/hints-of-chinese-naval-ambitions-in-the-2020s//
– https://digital-commons.usnwc.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1009&context=cmsi-maritime-reports
– https://thediplomat.com/2019/02/predicting-the-chinese-navy-of-2030/
– https://thediplomat.com/2021/11/growing-naval-imbalance-between-expanding-chinese-and-aging-us-fleets/
– https://www.naval.com.br/blog/2023/04/27/ordem-de-batalha-de-submarinos-e-grandes-navios-de-superficie-da-marinha-chinesa/
– https://www.andrewerickson.com/2023/04/modern-chinese-maritime-forces-1-april-2023-ed-order-of-battle-for-worlds-largest-navy-coast-guard-maritime-militia-by-number-of-ships/
Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.