O lançamento do navio de assalto anfíbio Tipo 076 “Sichuan” no final de dezembro de 2024 representa um marco significativo para a Marinha do Exército de Libertação Popular da China (PLAN). Com um tamanho superior ao dos convencionais Tipo 075, o Sichuan destaca-se não apenas pela sua capacidade de assalto anfíbio, mas também por seu potencial para operar como um pequeno porta-aviões voltado para veículos aéreos não tripulados (VANTs). Essa inovação é reforçada pela inclusão de um sistema de catapulta eletromagnética (CATOBAR) semelhante ao encontrado no mais recente porta-aviões chinês, o Fujian. Este artigo analisa as capacidades do Sichuan e sua função estratégica como um porta-aviões de guerra especial não tripulada, integrando forças especiais e veículos não tripulados aéreos, marítimos e subaquáticos para operações conjuntas.
1. Características do Navio de Assalto Anfíbio Sichuan
Construído pela Hudong-Zhonghua Shipbuilding, subsidiária da China State Shipbuilding Corporation Limited (CSSC), o Sichuan é o primeiro navio de assalto anfíbio fabricado no novo estaleiro de Changxing Island, Xangai. Sua análise, baseada em imagens de satélite e registros da cerimônia de lançamento, destaca aspectos que o tornam comparável ao mais recente navio de assalto anfíbio da Marinha dos EUA.
Dentre suas principais características, destacam-se:
- Dois elevadores de aeronaves e um deck de veículos único, otimizando sua capacidade aérea.
- Hangar ampliado para aeronaves, reforçando o foco em operações aéreas em detrimento de embarcações de desembarque tradicionais.
- Doca bem equipada, contendo um hovercraft (Landing Craft Air Cushion – LCAC) e um Landing Craft Utility (LCU), embora com espaço reduzido para veículos terrestres.
- Sistema CATOBAR, que permite a operação de aeronaves mais pesadas e com maior carga útil, estendendo seu alcance e poder de fogo.
Com um deslocamento menor do que o da classe Bougainville da Marinha dos EUA, o Sichuan enfrenta desafios para transportar e desembarcar um regimento inteiro de forças convencionais. No entanto, seu design sugere que a China o utilizará para missões de forças especiais, cujo contingente por regimento varia entre 1.000 e 2.000 soldados, compatível com a capacidade estimada do navio.
Além disso, o Sichuan é projetado para atuar como uma plataforma avançada de VANTs militares, ampliando sua letalidade e capacidade de reconhecimento. Relatórios indicam que o navio poderá operar drones furtivos GJ-11, drones de reconhecimento WZ-7 e até mesmo o J-36, uma nova aeronave de sexta geração. Esse conjunto de características o posiciona como uma nave-mãe de operações especiais não tripuladas, combinando forças humanas e drones para operações conjuntas no ar, na superfície e debaixo d’água.
2. Estratégia Chinesa e Operações Previstas para o Sichuan
A China vem expandindo sua frota anfíbia desde 2006, com a construção dos navios de desembarque Tipo 071 e, posteriormente, os navios de assalto Tipo 075. No entanto, o ritmo de construção desacelerou, possivelmente devido à expectativa de que, em caso de conflito com Taiwan, o transporte de tropas do PLA seria complementado por embarcações civis requisitadas.
Neste contexto, o Sichuan se destaca como uma plataforma alternativa voltada para operações especiais, em vez de transporte em massa. As forças especiais do PLA são treinadas para missões de:
- Ação direta – ataques a infraestruturas críticas do inimigo.
- Reconhecimento especial – inteligência e vigilância em profundidade.
- Contraterrorismo – operações táticas de alto risco.
Ao combinar forças especiais com veículos não tripulados, o Sichuan pode ser usado para ações como:
- Infiltração furtiva em território inimigo via drones semissubmersíveis.
- Ataques de precisão, empregando drones armados para neutralizar alvos estratégicos.
- Destruição de infraestruturas de comando, isolando e desestabilizando forças inimigas.
Exercícios militares chineses recentes, como a Operação Joint Sword-2024, já ensaiaram ataques aéreos de longo alcance e infiltração em baixa altitude, reforçando a viabilidade desse tipo de operação contra Taiwan. Além disso, a construção de réplicas de prédios governamentais taiwaneses em áreas de treinamento na China sugere um foco em operações de decapitação – ataques contra líderes políticos e militares.
3. Oportunidades e Desafios para as Forças Militares do Japão
O avanço das capacidades navais da China, incluindo o Sichuan, representa um desafio estratégico para países vizinhos, especialmente o Japão. Atualmente, a Força de Autodefesa do Japão (JSDF) possui capacidades anfíbias avançadas, mas carece de um navio de assalto anfíbio dedicado.
Diante desse cenário, a construção de um navio futurista de assalto anfíbio para a JSDF tem sido considerada, incluindo sua potencial função como plataforma para veículos não tripulados e apoio a forças especiais. Tal desenvolvimento permitiria ao Japão:
- Contrabalancear a ameaça chinesa por meio de capacidades simétricas.
- Aprimorar a defesa contra operações especiais e ataques furtivos.
- Fortalecer sua presença no Pacífico, dissuadindo ações agressivas.
Além disso, a Estratégia Nacional de Defesa do Japão (2022) já aponta a necessidade de defesa contra ativos não tripulados, evidenciando a importância de um contra-ataque tecnológico.
4. Conclusão
A crescente sofisticação da Marinha do PLA, impulsionada pelo lançamento do Sichuan, marca um avanço significativo nas capacidades de guerra especial não tripulada da China. Mais do que um navio de assalto anfíbio convencional, o Sichuan surge como um porta-aviões de guerra especial, combinando forças especiais e veículos não tripulados para missões de ataque furtivo, reconhecimento e destruição de alvos estratégicos.
Para os países vizinhos, em especial o Japão, essa evolução representa um alerta estratégico. A necessidade de desenvolver contramedidas eficazes, incluindo o fortalecimento de suas próprias capacidades anfíbias e de guerra não tripulada, se torna cada vez mais evidente. O futuro das operações militares na região dependerá da capacidade de adaptação das forças oponentes à nova realidade imposta pelo avanço chinês.
*Adaptação do texto original disponível em https://www.spf.org/iina/en/articles/kawakami_05.html