Como a Europa pode responder enquanto Trump e Putin desmontam a Ordem Pós-Guerra

de

A semana passada foi descrita pela revista The Economist como a mais sombria para a Europa desde a queda da Cortina de Ferro. Com a Ucrânia sendo abandonada, a Rússia sendo reabilitada e os Estados Unidos, sob a liderança de Donald Trump, mostrando-se cada vez menos confiáveis como aliados em tempos de guerra, a segurança europeia enfrenta desafios sem precedentes. Este artigo analisa as implicações dessa crise e as medidas que a Europa precisa adotar para evitar ser vítima de uma nova desordem global.

A Europa em um Mundo em Transformação

A Europa está enfrentando uma tempestade perfeita de desafios geopolíticos. A guerra na Ucrânia, iniciada pela invasão russa em 2022, expôs as fragilidades da segurança europeia e a dependência do continente em relação aos Estados Unidos. No entanto, a ascensão de Donald Trump à presidência americana em 2025 trouxe consigo uma mudança radical na política externa dos EUA, colocando em xeque décadas de alianças e compromissos transatlânticos.

A Marginalização da Ucrânia e a Reabilitação da Rússia

Um dos aspectos mais preocupantes da nova política externa de Trump é a disposição de abandonar a Ucrânia. Em discursos recentes, Trump culpou falsamente a Ucrânia pela guerra e chamou seu presidente, Volodymyr Zelensky, de “ditador”. Além disso, o governo americano iniciou negociações de paz com a Rússia em Riade, na Arábia Saudita, excluindo a Ucrânia e os líderes europeus dessas conversas. Essa abordagem sugere que os EUA podem impor um cessar-fogo instável à Ucrânia, com garantias de segurança fracas que limitariam o direito do país de se rearmar.

A reabilitação da Rússia é outro ponto crítico. Trump parece disposto a normalizar as relações com Vladimir Putin, abandonando a política de isolamento que vigorava desde a anexação da Crimeia em 2014. O secretário de Estado, Marco Rubio, já falou em “oportunidades históricas de cooperação econômica e de investimento” com a Rússia, sinalizando uma possível reaproximação que beneficia Moscou em detrimento dos interesses europeus.

A Erosão da Confiança na OTAN

A postura de Trump em relação à Rússia e à Ucrânia levantou sérias dúvidas sobre o compromisso dos EUA com a OTAN. A aliança militar, que tem sido a pedra angular da segurança europeia desde a Guerra Fria, baseia-se na garantia de que um ataque a um membro é um ataque a todos. No entanto, a retórica de Trump sugere que ele pode colocar os interesses americanos acima dos compromissos com os aliados, questionando o valor da defesa coletiva.

Essa incerteza é corrosiva. Se a Europa não puder contar com o apoio incondicional dos EUA em caso de um ataque russo, a dissuasão da OTAN perde sua eficácia. A possibilidade de redução das tropas americanas na Europa ou de um recuo estratégico que deixe o leste europeu exposto é um pesadelo para os líderes do continente.

A Fragilidade Europeia: Uma Análise Cruel

A The Economist não poupa críticas à Europa, descrevendo-a como um continente envelhecido, endividado e incapaz de se defender ou projetar poder militar. A dependência excessiva de tratados multilaterais e valores compartilhados, em um mundo onde as regras globais estão sendo desmanteladas, deixou a Europa vulnerável. A revista questiona: se a Rússia invadir um dos Estados Bálticos ou usar desinformação para desestabilizar o leste europeu, o que a Europa fará?

Até agora, a resposta tem sido insuficiente. Os líderes europeus reuniram-se apressadamente em Paris após as declarações de Trump, mas falharam em apresentar uma frente unida. O gasto militar europeu continua abaixo do necessário, e a visão obsoleta de segurança baseada em acordos multilaterais mostra-se inadequada para os desafios atuais.

O Caminho a Seguir: Reaprender a Exercer Poder

A revista argumenta que a Europa precisa urgentemente de uma reavaliação de suas capacidades e ameaças. A Rússia, embora seja uma potência militar com um vasto arsenal nuclear, tem uma economia em declínio. A Europa, por outro lado, é um gigante econômico e comercial, com vastos recursos humanos e tecnológicos. Para enfrentar os desafios atuais, o continente deve:

  1. Nomear um enviado único para negociar com a Ucrânia, a Rússia e os EUA, garantindo que a Europa tenha uma voz unificada nas discussões de paz.
  2. Apertar o embargo à Rússia, mesmo que os EUA afrouxem as sanções, e utilizar os €210 bilhões em ativos russos congelados em bancos europeus para financiar a defesa da Ucrânia.
  3. Investir em uma mobilização militar massiva, incluindo aviões de transporte pesado, logística e sistemas de vigilância. A Europa também deve discutir como os arsenais nucleares do Reino Unido e da França podem ser usados para proteger o continente.
  4. Aumentar os gastos com defesa para 4-5% do PIB, níveis comparáveis aos da Guerra Fria. Isso exigirá uma revolução fiscal, com cortes nos gastos sociais e reformas econômicas para impulsionar o crescimento.

Um Novo Sonho para um Velho Continente

A crise desencadeada por Putin e exacerbada por Trump pode forçar a Europa a repensar sua organização e estratégia. A obsessão com processos burocráticos e a fragmentação em múltiplos grupos, como a zona do euro e a UE, têm retardado a tomada de decisões e marginalizado atores-chave, como o Reino Unido. A Europa precisa adotar uma abordagem mais pragmática e assertiva, priorizando a segurança e a defesa em um mundo cada vez mais desordenado.

A OTAN, embora tenha sido a aliança mais bem-sucedida da história, não pode mais ser considerada um pilar inabalável. A Europa deve enfrentar a realidade de que os tempos mudaram e que sua segurança depende de sua capacidade de agir de forma independente e decisiva. Caso contrário, corre o risco de ser engolida pela nova desordem global.

Conteúdo original: https://www.economist.com/leaders/2025/02/20/how-europe-must-respond-as-trump-and-putin-smash-the-post-war-order

Marcadores:

Deixe um comentário

Gostou dos artigos e postagens?

Quer escrever no site?

Consulte nossas Regras de Publicação e em seguida envie seu artigo.

Siga-nos nas Redes Sociais