Prof. Esp. Pedro Silva Drummond
Introdução
A história é marcada por diversas guerras, durante todos os períodos históricos aconteceram diversos tipos de conflito e excessos em todas elas, casos como estupros, massacres, drogas e etc., são atitudes que acontecem desde os primórdios da guerra até os dias atuais.
No caso da Segunda Guerra Mundial, não foi diferente, todas essas situações aconteceram em ambos os lados. Durante essa última década, o tema relacionado às Drogas e o Nazismo, cresceram devido o surgimento do livro High Hitler: como o uso de drogas pelo Führer e pelos nazistas ditou o ritmo do Terceiro Reich, lançado em 2015, pelo jornalista alemão Norman Ohler. O livro foi traduzido em diversas línguas e transformou-se em um best-seller em diversos países.
O uso das drogas pelas lideranças nazistas, inclusive por Hitler é reconhecido há diversos anos, a novidade e polêmica surgida no livro de Ohler, é como as drogas interferiram decisivamente nos rumos da Alemanha na Segunda Guerra Mundial. O livro recebeu diversas críticas pela falta de rigor teórico-metodológico e generalização em relação ao tema retratado no livro.
Na visão de João Fábio Bertonha, o problema do trabalho de Ohler está quando “o autor, um romancista de sucesso, menciona, em um momento do livro, que a História não passa de uma forma de ficção. Um viés pós-moderno da História que explica, em boa medida, os defeitos e problemas do seu livro e como e porque suas conclusões se revelam falsas quando confrontadas com a metodologia da disciplina histórica, especialmente no trabalho com as fontes. Inicialmente, é importante considerar que ele baseia sua argumentação em documentos encontrados nos arquivos, especialmente alemães, e não há dúvidas, portanto, que ele fez pesquisa em fontes primárias. O grande problema é que ele parece desconhecer o método histórico e sua pesquisa acaba mais por encobrir a realidade do que revelá-la Ele apresenta, por exemplo, vários documentos nos quais surgem indícios de que soldados alemães utilizavam drogas como a anfetamina e, igualmente, que vários líderes nazistas – como Hitler e Goring – eram dependentes de estimulantes ou de suplementos vitamínicos e alimentares. Não há indícios, contudo, nessa documentação, de que essa utilização era tão ampla como o autor sugere ou que as decisões militares equivocadas de Hitler ou Goring tenham tido relação com seus problemas com entorpecentes, os quais, aliás, são claramente exagerados pelo autor. Ou seja, a partir de uma documentação real, o autor extrapola além do possível, criando uma mitologia vendável, mas falsa, de uma sociedade, uma liderança e um Exército movidos a drogas.” (BERTONHA, 2019, P. 2)
Uso de drogas na Segunda Guerra Mundial
Na Segunda Guerra Mundial, integrantes dos Aliados e Eixo, se apropriaram de diversos subterfúgios para aguentarem as dificuldades enfrentadas no conflito, como explica Lukasz Kamienski, “o abuso minou a capacidade de luta e a disciplina militar. Excessos com álcool eram um dos problemas que punham em risco a disciplina nas fileiras americanas. Entre 1944 e 1945, aconteceram 44.420 casos de dependência do álcool. No entanto, foi a Wehrmacht que sofreu um vício de dimensões epidêmicas. A embriaguez das tropas alemãs foi causa de disputas, brigas, insubordinações, agressões a oficiais superiores, crimes sexuais e até mesmo mortes por ingestão de álcool metílico letal ou metanol (geralmente usado como combustível, solvente e anticongelante).” (tradução KAMIENSKI, 2017, P. 50) O caso alemão não era um caso isolado, norte-americanos, japoneses, soviéticos também ingeriam drogas licitas e ilícitas durante todo o período da Guerra.
O pesquisador Norman Ohler indica em seu livro que boa parte do sucesso das Forças Armada alemãs se deveu ao uso de drogas que garantiam aos militares uma grande quantidade de energia que possibilitaram diversas vitórias. Para o autor, a Blitzkrieg teve um grande sucesso por causa de estimulantes á base de anfetamina, como o Pervitim, que era usado por civis, desde a década de 1920. (OHLER, 2017)
No caso da Alemanha, Hitler tinha uma ligação muito forte com o seu médico pessoal, Dr. Morell, que durante o período da Segunda Guerra Mundial, ministrou diversos medicamentos para o líder Nazista, relata Lukasz Kamienski, “Como o líder nazista era um grande hipocondríaco, Morell lhe forneceu drogas diferentes para curá-lo de suas muitas doenças, reais ou imaginárias. Ao longo de seu mandato à frente da Alemanha nazista, Hitler recebeu oitenta e dois medicamentos diferentes, alguns criados por ele mesmo, como uma mistura de sulfonamida, um composto proibido pelo departamento farmacológico da Universidade de Leipzig por causa de seu impacto negativo no sistema nervoso humano. Outro dos “suplementos” de Morell foi Vitamultin, uma preparação energética feita com vários tipos de vitaminas, também conhecidas como as “pílulas de ouro” (Nobel-Vitamultin) porque estão embrulhados em papel dourado. O otorrinolaringologista de Hitler, Dr. Erwin Giesing lembra que o Führer acreditava cegamente na eficácia dos medicamentos prescritos por Morell e que ele tomava cerca de 150 comprimidos por semana, além de inúmeras injeções, entre outras, de Testoviron, para potência sexual. Morell também deu a Hitler injeções de glicose e testosterona (uma espécie de Viagra precoce) e opiáceos sintéticos prescritos – especialmente Eukodal, primo em primeiro grau da heroína – e, provavelmente, cocaína, como analgésicos.” (tradução KAMIENSKI, 2017, P. 148,)
O uso de drogas conhecidas como lícitas e ilícitas na guerra como indicado por diversos pesquisadores aconteceram durante todo o período do conflito, porém, muitas lideranças militares não acreditavam ser aceitável e combatiam essas práticas, inclusive alemães, como relata João Fábio Bertonha: “O esforço do regime nazista contra as drogas – incluindo lideranças como o dr. Conti e os próprios comandantes militares – também indica que o uso de anfetaminas existia, mas era visto como um problema a ser combatido.” (BERTONHA, 2019, P. 2) O combate ao uso das drogas acontecia por diversas lideranças de todas as Forças Armadas envolvidas no Conflito.
Nesse sentido, muitas das criticas recebidas por Norman Ohler, estão relacionadas às generalizações feitas pelo autor, tais como, o uso em massa de drogas pela grande maioria das Forças Armadas Alemãs, dando a entender, que uma grande maioria dos militares alemães usavam drogas; que as drogas teriam afetado as decisões tomadas por Hitler, inclusive em grandes acontecimentos como o Dia D e etc.
Conclusão
Em qualquer período histórico existem registros de uso de drogas lícitas e ilícitas entre os participantes envolvidos. Na Segunda Guerra Mundial, não é diferente, o tema recentemente ganhou relevância por causa do lançamento do livro de Norman Ohler, que traz uma riqueza de fontes sobre o tema, mas muitas criticas pelas generalizações e exageros.
Norman Ohler com o seu livro contribui para o estudo de um tema que atualmente poderá ganhar novos capítulos através de pesquisas feitas por historiadores militares, historiadores das ciências, químicos e outros pesquisadores sobre o assunto. A pesquisa através de fontes primárias feitas pelo autor contribuiu para o entendimento do papel das drogas no Nazismo e na Segunda Guerra Mundial.
As criticas recebidas por Ohler, entretanto, poderão servir para novos estudos sobre o tema e ajudar nas respostas sobre as lacunas deixadas pelo autor.
Imagem de Destaque: https://www.blogdomello.org/2017/09/quando-soldados-trafico-tomarem-mesmas-drogas-que-soldados-dos-EUA.html
Bibliografia
– BERTONHA, João Fábio. Sexo, Drogas, Armas. A eterna reinvenção cultural do Nazismo. Revista Espaço Acadêmico, nº 218, ano XIX, set./out., 2019.
– SOARES, Ricardo. O percurso das drogas no Império da Anfetamina. História Ciências Saúde-Manguinhos, 2019. P. 707-709.
– KAMIENSKI, Lukasz. Las Drogas en la Guerra; Uma Historia Global. Crítica, 2017.
– OHLER, Norman. High Hitler: como o uso de drogas pelo Führer e pelos nazistas ditou o ritmo do Terceiro Reich. 1. ed. São Paulo: Planeta, 2017.
Especialização em História Militar pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), Graduação em História (Bacharel e Licenciatura) pela Universidade Gama Filho (UGF), autor de Artigos em História Militar.