Para os analistas Evan Montgomery e Julian Ouellet, em artigo publicado no portal War on the Rocks, os Estados Unidos enfrentam o desafio de compensar sua estratégia militar diante da possibilidade de um confronto prolongado com a China, especialmente no caso de uma invasão de Taiwan. Apesar do foco em uma resposta rápida e decisivamente, aumenta as preocupações de que essa abordagem possa deixar Washington vulnerável em um cenário de desgaste contínuo, típico de conflitos entre grandes potências.
Nos últimos anos, a estratégia de defesa americana tem priorizado ações para degradar rapidamente uma invasão chinesa, apostando em objetivos operacionais ambiciosos, como a destruição de forças inimigas durante a travessia do Estreito de Taiwan. A China, por outro lado, promove uma guerra curta, explorando sua proximidade com Taiwan e dificultando a logística dos EUA. Essa dinâmica cria um impasse estratégico: ambos os lados parecem buscar uma vitória rápida, mas é provável que ambos consigam.
Conflitos prolongados geralmente são destruídos por desgaste gradual, em vez de vitórias decisivas. Na história militar, até as mesmas batalhas que parecem ser definitivas, muitas vezes tornam-se apenas o início de hostilidades mais extensas. No caso de um confronto sino-americano, os Estados Unidos precisariam enfrentar desafios logísticos, geográficos e operacionais, enquanto Pequim buscaria explorar vulnerabilidades americanas, como o tempo de mobilização e o distanciamento geográfico.
Para muitos estrategistas, o planejamento atual dos EUA, centrado em uma campanha de negação altamente letal, pode ser insuficiente para lidar com os desafios de uma guerra prolongada. Essa abordagem, que visa infligir enormes perdas às forças chinesas logo no início, não considera a possibilidade de uma escalada prolongada. Além disso, a destruição das forças de linha de frente da China, embora significativa, embora mínima, seria o suficiente para garantir uma vitória e firmeza, dado o vasto poder econômico e militar-industrial de Pequim.
Uma guerra prolongada exigia uma estratégia de preservação e uso eficaz de recursos, além de ataques direcionados a pilares econômicos e industriais do adversário. No entanto, o atual modelo americano, que privilegia respostas rápidas e técnicas, não é otimizado para esse tipo de conflito. A prioridade histórica de manter os danos geograficamente limitados e de minimizar ataques a alvos não militares deixou os EUA mal preparados para importações de custos econômicos substanciais à China em uma longa guerra.
Outro aspecto crítico é a necessidade de equilibrar o uso de recursos. Enviar imediatamente todos os ativos militares para defender Taiwan pode enfraquecer a posição americana em fases posteriores do conflito. Estratégias de longo prazo, como impedir a consolidação de uma presença chinesa em Taiwan por meios indiretos ou posteriores intervenções maiores para momentos estratégicos, devem ser consideradas para evitar danos prematuros.
Esse dilema reflete uma tensão mais ampla na política de defesa americana: a crença de que uma vitória rápida e decisiva é necessária e alcançada, mesmo em um cenário historicamente produzido. O apelo por uma batalha crucial é estratégico, dado o desejo de evitar os custos humanos e financeiros de uma guerra longa. Contudo, a realidade sugere que os EUA precisam estar prontos para cenários prolongados, nos quais o desgaste gradual e a resiliência estratégica desempenhem papéis centrais.
A história oferece lições valiosas. Durante o período entre guerras, os Estados Unidos abandonaram planos de ocorrência imediata no Pacífico, optando por estratégias de desgaste contra o Japão Imperial. Hoje, enfrentar a China pode exigir uma reformulação semelhante, que inclua um foco maior na manipulação da capacidade econômica e industrial do adversário, tanto em seu território quanto em suas operações globais.
Preparar-se para uma guerra prolongada exige não apenas um fortalecimento da base industrial de defesa, mas também um ajuste nos objetivos estratégicos e nas formas de condução de conflitos. Isso implica adotar medidas mais amplas para importação de custos para a China e garantir que os recursos militares americanos sejam preservados e usados de forma estratégica ao longo do tempo.
No fim, o verdadeiro desafio para os EUA pode não ser derrotar rapidamente as forças chinesas no Estreito de Taiwan, mas sim se posicionar para uma competição de longo prazo, em que a resiliência econômica, a flexibilidade tática e a capacidade de desgaste estratégico sejam determinantes. Essa abordagem, embora mais complexa, parece ser a única forma de lidar com o tipo de conflito que Washington é mais provável de enfrentar no futuro.
Texto original: American Defense Planning in the Shadow of Protracted War – War on the Rocks