Filme Fomos Heróis (We were soldiers)

de

Prof. Dr. Ricardo Pereira Cabral 

Produção norte-americana de 2002, com direção e roteiro de Randall Wallace, baseado no livro We Were Soldiers Once… and Young, escrito pelo coronel Hal Moore e o jornalista Joseph L. Galloway. O filme foi estrelado por Mel Gibson, Madeleine Stone, Greg Kinnear, Chris Klein e Keri Russel, com duração de 138 min. O filme custou US$ 75 milhões e faturou só nos cinemas US$ 114.7 milhões só nos EUA, não está incluído a bilheteria mundial e a venda de dvds e outros produtos afins

O filme recria, em parte, a batalha de Ia Drang, que ocorreu em 1965, no Vietnã do Sul, dede a chegada do batalhão de Cavalaria Aeromóvel, comandado por Hal Moore, até sua retirada do campo de batalha, na Zona de Pouso de Helicóptero X-Ray.  A película mostra os combates entre norte-americanos e o Exército do Povo do Vietnã, os sacrifícios feitos por ambos os lados e a dor das famílias com as notícias das mortes em combate.

https://theactionelite.com/first-timewatch-we-were-soldiers-2002/

O filme foi apenas, parcialmente, fidedigno ao livro e as acontecimentos históricos. A parte final, que mostra um ataque heroico pelos americanos comandados pelo coronel Hal Moore que destruiu a reserva do regimento norte-vietnamita, encerrando a batalha como uma vitória norte-americana (um fato que o diretor notou em seus comentários). De fato, nenhum ataque heroico no final do combate é descrito no livro e as forças norte-vietnamitas não foram destruídas. O tenente-coronel Nguyen Huu An, o comandante norte-vietnamita, não visitou a zona de desembarque X-Ray no final da batalha, com a luta na região prosseguindo por mais um dia, após a retirada dos homens de Hal Moore, em ZPH Albany. Apesar das diferenças com relação ao livro e mudanças da história real da batalha, o coronel Hal Moore afirmou em um documentário incluído nas versões em vídeo que o filme foi o primeiro “a acertar” com relação a guerra do Vietnã.

https://movies4maniacs.liberty.me/why-we-were-soldiers-is-underrated/

Crítica de Rodrigo Carreiro

Atentados terroristas à parte, a guerra do Vietnã permanece como a maior das feridas morais do povo norte-americano no século XX. É incrível, mas o trauma deixado pela sangrenta guerra de trincheiras no país asiático parece maior até mesmo do que as milhares de perdas humanas da II Guerra Mundial. Talvez essa situação seja decorrente da derrota humilhante para um país subdesenvolvido, não das mortes em si, mas essa é a única conclusão a que se pode chegar depois de assistir a “Fomos Heróis” (We Were Soldiers, EUA, 2002).

O filme, escrito e dirigido por Randall Wallace (ex-seminarista, faixa preta de caratê e roteirista do épico “Coração Valente”) e estrelado pelo australiano Mel Gibson, é mais uma película a retornar ao inevitável filão. “Fomos Heróis” reconta a batalha de Ia Drang, o primeiro confronto de grande porte entre as forças dos EUA e do Vietnã do Norte. Ou melhor, mergulha nas quase 40 horas em que um grupo de 400 soldados de elite dos Estados Unidos ficaram cercados por uma tropa de 2 mil vietnamitas, numa colina adjacente a um descampado considerado estratégico para pousos de helicópteros militares.

A situação básica gerada no enredo – pequeno grupo de soldados dos EUA está cercado por milhares de inimigos – já aproxima “Fomos Heróis” do mais bem sucedido e paparicado filme de guerra da temporada de 2001, “Falcão Negro em Perigo”, de Ridley Scott. Mas isso é só o começo. Os dois filmes são, na verdade, irmãos gêmeos. Ambos dão pouco espaço à ação psicológica, preferindo mostrar a carnificina de forma crua e impactante. A dupla também chega à mesmíssima conclusão: quando a guerra está sendo travada, não se luta exatamente por um país ou por uma bandeira, mas por si próprio. Ocorre que “Fomos Heróis”, a despeito do título bobo, é mais filme do que o épico de Ridley Scott.

Bom, se é melhor, também não chega a ser um grande filme. Na realidade, tudo o que havia para ser dito sobre os horrores do Vietnã já foi dito. Obras como “Nascido para Matar” (Stanley Kubrick), “Apocalypse Now” (Francis Ford Coppola) e “Platoon” (Oliver Stone) exploraram magnificamente as ambiguidades, a complexidade e a violência de conflitos como os bombardeios inumanos que ocorreram na Ásia. E esses clássicos nem precisaram apelar para imagens tão chocantes, tão explícitas, que parecem saídas de alguma exibição dos telejornais do estilo “Cidade Alerta”.

Aliás, é preciso apontar uma tendência dos filmes contemporâneos que tentam denunciar a condição sub-humana da guerra. Depois que Steven Spielberg inaugurou a ultra-violência cinematográfica na abertura de “O Resgate do Soldado Ryan”, em 1998, todo mundo resolveu fazer igual — ou pior. Se o espectador tem estômago fraco, portanto, é melhor ficar longe de “Fomos Heróis”. A violência, nesse caso, beira o grotesco. Embora não tenha a montagem alucinada da obra de Ridley Scott e use o som de forma brilhante, quase pondo o espectador no meio da batalha, a película exagera na crueza de algumas sequências. Em determinada cena, o sangue literalmente pinga na câmera.

https://www.imdb.com/title/tt0277434/

O tradicional ufanismo propagado nesse tipo de filme, claro, também dá as caras, embora esteja bem disfarçado. O verdadeiro subtexto do trabalho parece ser mesmo uma crítica à política externa norte-americana. Fomos Heróis condena políticos e burocratas dos EUA. Acusa-os de arrogância e cegueira estratégica, quando os mostra mandando ao front uma tropa inexperiente, que desconhece a geografia complicada do território. O objetivo do filme parece ser esse: mostrar que a sucessão de equívocos que viriam a provocar a derrota norte-americana já podiam ser percebidos desde o começo do conflito. Como nem tudo é perfeito, os soldados dos EUA são sempre descritos como bons rapazes, fiéis às esposas, sempre dispostos ao sacrifício pelo colega mais próximo. Tanta bondade chega a ser nauseante, mas é exatamente isso que o espectador norte-americano gosta de ouvir: nosso povo continua a ser o melhor, nossos soldados eram todos heróis e só perderam a guerra por causa da burrice dos políticos. A simplificação de causas e consequências, afinal, é a regra que impera em Hollywood.

Por outro lado, a câmera de Wallace também não comete o pecado de Ridley Scott. O experiente diretor de Blade Runner fotografou o povo da Somália, no neurótico “Falcão Negro em Perigo”, como um bando de ignorantes esfomeados e/ou corruptos, a típica boiada pronta para levar bala. Já os vietnamitas de Wallace lutam uma guerra ética (isso existe?), brigam apenas pela sobrevivência e – surpresa! – também têm esposas esperando em casa. De qualquer forma, o pouco tempo de tela grande dado aos asiáticos já depõe contra a imparcialidade do trabalho. O ufanismo indesejável reside nesse detalhe, o desequilíbrio do roteiro, que praticamente só vem a focalizar os vietnamitas quando eles estão no front. A maior nota patriótica do filme, porém, veio do Brasil mesmo, na tradução idiota do título (“Fomos Soldados” virou “Fomos Heróis”, um exemplo de como uma palavra mal empregada por gerar um grande absurdo, já que o título traduzido faz o desfavor de julgar o filme antes que o espectador o veja).

https://www.youtube.com/watch?v=b5F9eGdStm8

Isso posto, resta dizer que a interpretação de Mel Gibson parece um tanto deslocada, sem sal. O elenco de coadjuvantes também carece de brilho. Madeleine Stowe (irreconhecível, com os lábios turbinados, parecendo ter sido picada por alguma abelha antes das filmagens) está fraca, e a dupla Greg Kinnear/Chris Stein ainda precisa tomar muito leite para ganhar pose de militar. No final, fica a sensação de que “Fomos Heróis” é um trabalho no máximo razoável, cujo discurso não acrescenta absolutamente nada ao que já sabemos sobre o Vietnã. Faltou carisma e energia – algo que existe no estúpido “Falcão Negro em Perigo”, por mais absurdos que ele cometa – para desenterrar o filme da vala comum. Sem trocadilhos.

O DVD nacional do filme é ruim; nem apela para documentários de bastidores e nem sequer utiliza uma trilha sonora de alta qualidade, algo que filmes de guerra sempre proporcionam. Nesse caso, o filme vem limpo, sem extras, e inclusive com imagens em fullscreen (ou seja, com cortes laterais feitos para preencher a imagem das TVs comuns por inteiro).

O filme recebeu 64% de aprovação no Rotten Tomates

Bem, na minha opinião é um bom filme de guerra e que merecer visto. Você tira boas lições de liderança, a edição preservou alguns pontos táticos do combate, que podemos observar e foi bem fiel em algumas cenas de ação, que às vezes se parece com as reportagens que passavam nas televisões norte-americanas com as notícias dos combates.

Imagem de Destaque: https://www.adorocinema.com/filmes/filme-35139/

Fonte: https://cinerreporter.wordpress.com/2003/09/23/fomos-herois/

Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.

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