A França está prestes a embarcar em um dos projetos militares mais ambiciosos e caros de sua história: o Porte-Avions de Nouvelle Génération (PANG), um novo porta-aviões nuclear que deve substituir o envelhecido Charles de Gaulle. No entanto, como destacado no artigo “France’s New Aircraft Carrier Summed Up In 5 Words”, publicado em fevereiro de 2025 no portal “The National Interest”, o projeto é alvo de críticas contundentes. A questão central é: em uma era de guerras cada vez mais automatizadas e dominadas por drones, investir bilhões em um porta-aviões tradicional ainda faz sentido?
Contexto sobre a obsolescência dos “Legacy Platforms”
O artigo argumenta que a França está cometendo um erro comum entre as potências mundiais: acreditar que as guerras do futuro podem ser vencidas com as armas do passado. Em um mundo onde a guerra moderna é caracterizada por sistemas menores, ágeis e não tripulados, a construção de plataformas massivas como porta-aviões parece anacrônica. Elon Musk, por meio de seu Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), já criticou projetos como o caça F-35, considerando-os obsoletos diante do avanço dos drones e da inteligência artificial.
A crítica se estende aos porta-aviões, que são vistos como alvos vulneráveis em um cenário de guerra moderna, especialmente diante das redes de defesa antiacesso e negação de área (A2/AD) desenvolvidas por potências como China e Rússia. Essas redes são capazes de neutralizar grandes plataformas navais com mísseis de longo alcance e sistemas de defesa avançados, tornando os porta-aviões potencialmente ineficazes em conflitos de alta intensidade.
PANG: prestígio ou necessidade?
A França, no entanto, insiste no projeto do PANG, que deve ser equipado com dois reatores nucleares K22, permitindo velocidades de até 34 milhas por hora e autonomia limitada apenas pelo abastecimento da tripulação. O porta-aviões também contará com um sistema eletromagnético de lançamento de aeronaves (EMALS) e um sistema avançado de recuperação (AAG), tecnologias que representam um avanço em relação ao Charles de Gaulle.
O PANG está planejado para operar 32 caças de sexta geração do Future Combat Air System (FCAS), além de drones e helicópteros para missões de reconhecimento, guerra antissubmarino e resgate. No entanto, o artigo questiona a viabilidade financeira e estratégica do projeto. O FCAS, desenvolvido em parceria com outros países europeus, ainda está em fase de design e pode nunca sair do papel. Além disso, o custo estimado de US$ 10,3 bilhões é visto como um desperdício de recursos que poderiam ser direcionados para tecnologias mais modernas, como drones, submarinos ou armas hipersônicas.
Críticas ao projeto sobre desperdício de recursos
O autor do artigo resume o PANG em cinco palavras: “A Waste Like No Other” (Um desperdício como nenhum outro). A crítica principal é que a França está investindo em uma plataforma que pode se tornar obsoleta antes mesmo de ser concluída. Em vez de construir um porta-aviões caro e potencialmente vulnerável, o país poderia investir em uma frota de sistemas não tripulados ou em tecnologias emergentes que definirão a guerra no século XXI.
Além disso, a França enfrenta restrições financeiras significativas. O país já subfinancia suas defesas em relação aos compromissos da OTAN, e o custo do PANG pode exacerbar ainda mais essas limitações. A ideia de construir um segundo porta-aviões da classe PANG é considerada irrealista, dada a situação econômica atual.
Questão do prestígio nacional
Por trás do projeto do PANG, há uma questão de prestígio nacional. A França sempre buscou manter sua independência estratégica e projetar poder global, muitas vezes em contraste com os Estados Unidos. O porta-aviões é visto como um símbolo dessa grandeza, uma maneira de afirmar a relevância da França no cenário internacional. No entanto, como o artigo aponta, essa é uma mentalidade do século XX. No século XXI, a guerra é definida por tecnologia, automação e eficiência, não por plataformas grandes e caras.
Um projeto em descompasso com a realidade?
O artigo levanta questões importantes sobre a viabilidade e a relevância do PANG em um mundo onde a guerra está se tornando cada vez mais automatizada e descentralizada. Embora o porta-aviões possa ser um símbolo de poder e prestígio, ele pode não ser a ferramenta mais eficaz para os desafios estratégicos que a França enfrentará nas próximas décadas.
A decisão de investir no PANG reflete uma tensão entre a tradição e a inovação. Enquanto a França busca manter sua posição como uma potência global, ela corre o risco de ficar presa a conceitos ultrapassados de poder militar. Em um mundo onde a tecnologia está redefinindo rapidamente o campo de batalha, o PANG pode se tornar um exemplo caro e ineficaz de como não se preparar para as guerras do futuro.
Texto original do autor Brandon J. Weichert disponível em: https://nationalinterest.org/blog/buzz/frances-new-aircraft-carrier-summed-up-in-5-words