A inovação é um pilar essencial para a manutenção da superioridade militar, especialmente em um cenário global onde as ameaças evoluem rapidamente e os orçamentos de defesa permanecem estagnados. No entanto, um dos maiores desafios enfrentados pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DoD) é a falta de métricas claras para avaliar se as organizações encarregadas de promover a inovação estão, de fato, cumprindo seus objetivos. Este artigo analisa o conteúdo publicado no site War on the Rocks, que discute essa problemática, e propõe uma reflexão sobre como a inovação na defesa pode ser medida de forma eficaz.
O contexto da inovação na Defesa
Desde 2015, o DoD tem criado diversas organizações voltadas para a inovação, como a Defense Innovation Unit (DIU), o Chief Data and Artificial Intelligence Office, o Army Applications Laboratory e o NavalX, entre outros. O objetivo dessas entidades é eliminar barreiras e facilitar a adoção de tecnologias comerciais para resolver problemas militares. No entanto, a pergunta que permanece é: como medir o sucesso dessas organizações?
A dificuldade em medir a inovação não é exclusiva do setor de defesa. No setor comercial, métricas como retorno sobre investimento (ROI) são comumente utilizadas, mas no contexto militar, a avaliação é mais complexa. Cada organização de inovação tem missões específicas e stakeholders diferentes, como o Congresso, lideranças militares, empresas e investidores, cada um com prioridades distintas. Portanto, não existe uma métrica única que atenda a todos os interesses.
Três pilares para medir a inovação na Defesa
O artigo propõe que as organizações de inovação na defesa devem se avaliar com base em três pilares principais:
- Impacto no Combatente (Warfighter): A inovação deve resultar em tecnologias úteis e aplicáveis aos problemas militares em um prazo curto. Isso inclui a transição de tecnologias, a redução de custos e o tempo de desenvolvimento, além da probabilidade de adoção pelos combatentes.
- Impacto na Base de Inovação Civil: As organizações devem ampliar o acesso do DoD a empresas que tradicionalmente não trabalham com defesa, motivando-as a contribuir para a segurança nacional. Isso envolve medir o alcance dessas empresas, a velocidade de contratação e os retornos financeiros para os investidores.
- Impacto no Departamento de Defesa: As melhores práticas desenvolvidas por essas organizações devem ser adotadas por outras entidades do DoD, promovendo uma cultura de inovação em escala.
Impacto no combatente: a utilidade militar como métrica central
O impacto no combatente é o equivalente ao ROI no setor militar. Para medir esse impacto, é essencial definir a utilidade militar de um projeto desde o início. Isso envolve criar um caso de negócios militar que detalhe o problema a ser resolvido, a utilidade da tecnologia proposta e como seu sucesso será avaliado. Métricas como melhoria na capacidade de combate, redução de custos de manutenção e tempo de implementação são cruciais.
No entanto, a utilidade militar não pode ser medida apenas com base em transições de tecnologia ou contratos de acompanhamento. É necessário avaliar se a solução será realmente utilizada pelos combatentes. O Army Applications Laboratory, por exemplo, utiliza a métrica CONEX, que mede a probabilidade de os soldados adotarem uma tecnologia em diferentes estágios de desenvolvimento. Se a métrica permanece baixa ao longo do tempo, pode ser um sinal de que o problema está sendo mal interpretado ou que a solução é inadequada.
Impacto na base de inovação civil: ampliando o ecossistema de Defesa
Muitas empresas, especialmente as menores, relutam em trabalhar com o DoD devido à burocracia e ao tempo prolongado para receber pagamentos. Para atrair essas empresas, as organizações de inovação devem medir a velocidade com que conseguem contratar e pagar pelos serviços, além de garantir retornos financeiros atrativos para os investidores. Além disso, é importante rastrear quantas empresas novas estão sendo integradas ao ecossistema de defesa e como isso está impactando outras partes do DoD.
Impacto no departamento de Defesa: compartilhando melhores práticas
A maioria das organizações de inovação não possui autoridade única, mas seu sucesso reside em encontrar maneiras mais eficientes de trabalhar dentro dos processos existentes. Métricas como a adoção de melhores práticas por outras organizações do DoD são fundamentais. Por exemplo, práticas como o envolvimento precoce de combatentes no desenvolvimento de soluções ou a criação de contratos ágeis devem ser compartilhadas e escaladas.
Conclusão: a necessidade de uma estrutura de medição robusta
À medida que as organizações de inovação na defesa se aproximam de uma década de existência, é crucial desenvolver uma estrutura de medição robusta e quantificável. Ao focar no impacto no combatente, na base de inovação civil e no próprio DoD, essas organizações podem demonstrar seu valor de forma clara e tangível para todos os stakeholders envolvidos. A inovação na defesa não é apenas sobre criar novas tecnologias, mas sobre garantir que essas tecnologias sejam úteis, adotadas e escaláveis. Sem métricas claras, o risco de desperdício de recursos e de oportunidades perdidas permanece alto.
Em um mundo onde a vantagem tecnológica pode definir o sucesso ou o fracasso em conflitos futuros, medir a inovação de forma eficaz não é apenas uma necessidade — é uma obrigação estratégica.
*Análise do conteúdo original publicado em: https://warontherocks.com/2025/02/how-can-we-measure-if-defense-innovation-works/?__s=wp1ih7l42lm54ch7sc6h