Profº. Esp. Pedro Silva Drummond
Contexto do Período
Durante o final do século XIX e o início do século XX, o Japão passou por grandes mudanças, durante esse período teve início a Era Meiji, que levou o País a uma modernização tecnológica, industrial e militar. No período da Era Meiji, a Nação iniciou um processo de disputas militares como as Guerras Sino-Japonesas (1894-1895) e Russo-Japonesa (1904-1905).
Durante os primeiros anos do século XX, os japoneses intensificaram sua expansão com acordos com a Grã-Bretanha e os EUA. No ano de 1902, o Japão assinou um acordo com a Grã-Bretanha, reconhecendo os interesses britânicos na China e em troca os britânicos reconheceram os interesses do Japão na Coreia. Três anos depois, 1905, o País asiático assinou um acordo com os EUA que aprovava a dominação japonesa na península da Coréia em troca da concordância da colonização norte-americana nas Filipinas.
Na primeira década de 1910, o Japão iniciou a dominação na península da Coréia, ocupando a Coreia em 1905, e posteriormente, anexou o território em 1910, controlando a região até a sua derrota na Segunda Guerra Mundial. A colonização japonesa na Coréia foi dividida em 3 momentos, como explica Fabricia Felippe: “o de dominação militar (Budan Seiji, 1910-1920);de dominação cultural (Bunka Seiji, 1920-1931; e de mobilização para a guerra (1931-1945).” (FELIPPE, 2019, P. 2).
Japão na Primeira Guerra Mundial
O Japão iniciou sua participação na Primeira Guerra em 23 de agosto de 1914, quando o País declarou guerra à Alemanha. Quanto à entrada do País Asiático no conflito, “embora a marinha japonesa jamais tenha se engajado em combate contra a esquadra alemã no leste da Ásia, tampouco tenha disparado sequer um tiro contra embarcações alemãs em alto-mar, a entrada do Japão na Primeira Guerra Mundial propiciou o contexto para a precipitada fuga da esquadra do leste da Ásia para as águas ao largo da América do Sul e para o subsequente fracasso de cruzadores alemães em suas manobras contra alvos Aliados no Pacífico. Para os líderes japoneses, a Primeira Guerra apresentava a oportunidade de alcançar objetivos de longo prazo na parte continental do leste da Ásia, onde os japoneses pretendiam substituir a dominação europeia da China pela dominação nipônica e nas ilhas do Pacífico, tidas como valiosas bases na futura competição com os Estados Unidos pela hegemonia no oceano Pacífico.” (SONDHAUS, 2013, P. 120)
As primeiras atitudes japonesas em relação ao conflito começaram: “em 15 de agosto, dois dias depois do início das hostilidades entre Grã-Bretanha e Império Austro-Húngaro, o Japão encaminhou aos alemães um ultimato exigindo o desarmamento ou a retirada de todas as embarcações da marinha alemã das águas do leste asiático e a cessão ao Japão do território da baía de Jiaozhou com a base em Tsingtao. Oito dias depois, dada a recusa dos alemães em responder, os japoneses citaram em sua declaração de guerra “preparativos bélicos” em Tsingtao e ações “ameaçadoras” de navios de guerra alemães. Em 24 de agosto, a marinha japonesa bloqueou a baía de Jiaozhou com uma poderosa força naval que incluía dois couraçados, um cruzador de batalha, um pré-couraçado e cruzadores blindados.” (SONDHAUS, 2013, P. 120)
Nos primeiros meses da Primeira Guerra Mundial, o Japão e os seus aliados tinham conquistado diversas regiões, boa parte eram colônias alemães na Ásia e no Pacifico, como detalha Carol Daróz: “Aliado ao Império Britânico, ambos deslocaram forças para ocupar Tsingtao – a fortaleza alemã da Esquadra do Leste da Ásia -, os territórios ocupados de Shandong na China, bem como as ilhas Marianas, Carolinas e Marshall, que faziam parte da Nova Guiné alemã. O cerco de Tsingtao e uma rápida invasão do território alemão de Jiaozhou foram bem sucedidos, com a rendição das tropas germânicas no início de novembro de 1914.” (DARÓZ, 2011)
Durante todo o período da Primeira Guerra Mundial, o Japão além dos conflitos na Ásia e no Pacifico, o País enviou uma força naval ao Mediterrâneo para ajudar a combater os submarinos adversários, e contribuiu, em 1918, com o envio de tropas para a Sibéria com o objetivo de auxiliar o Exército Branco Russo em sua disputa contra os bolcheviques, após a Revolução Russa.
Conclusão
O Japão desde a Era Meiji iniciou uma política expansionista, através de conflitos com a China e a Rússia. Com o início da Primeira Guerra Mundial, os japoneses conquistaram diversas regiões e com pouca oposição, como explica Lawrence Sondhaus: “em contraste com os australianos e neozelandeses, os japoneses não enfrentaram qualquer tipo de resistência nas ilhas que ocuparam, e nem sofreram nem infligiram baixas. A bem da verdade, ao longo de toda a guerra, o Japão sofreu menos de 500 mortes em combate, a maior parte no cerco a Tsingtao.” (SONDHAUS, 2013, P. 131)
Durante a Primeira Guerra Mundial a política expansionista do Japão foi revelada pelo Ministro do Exterior japonês, Takaaki Kato, que “revelou a verdadeira extensão dos revolucionários planos de guerra do Japão ao informá-lo de que “a nação japonesa naturalmente insiste na retenção permanente de todas as ilhas alemãs ao norte do Equador”. Ele acrescentou sua expectativa de que a Grã-Bretanha apoiasse essa posição no acordo de paz, assim que a guerra chegasse ao fim. De fato, o Japão receberia todas as Carolinas, as Marianas (menos Guam, possessão norte-americana) e as Marshall em 1919, quando os nipônicos já as estavam tratando como possessões permanentes. De oeste a leste, suas recém adquiridas ilhas na Micronésia se estendiam por cerca de 4.200 km, garantindo ao Japão o controle da maior parte dos 6.400 km de oceano, separando as possessões norte-americanas do Havaí e das Filipinas. Assim, a ocupação japonesa da Micronésia alemã representou um marco particularmente importante na estrada que levou ao teatro do Pacífico na Segunda Guerra Mundial, na medida em que assegurou uma futura deterioração das já tensas relações entre Japão e Estados Unidos. Do mesmo modo, o comportamento do Japão na China depois da queda de Tsingtao apontou o caminho para a Segunda Guerra, uma vez que os japoneses começaram a agir em nome de suas ambições com relação à China continental” (SONDHAUS, 2013, P. 132)
As medidas tomadas pelo Japão na Primeira Guerra Mundial, desde a sua política exterior até a conquista dos territórios, provocou as bases que levaram os conflitos com os Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial no Pacifico.
Imagem de Destaque: Litografia Japonesa no Cerco Cerco de Tsingtao – https://pt.wikipedia.org/wiki/Cerco_de_Tsingtao
Bibliografia
DARÓZ, Carlos. O Japão na 1º Guerra Mundial. Disponível em: <http://darozhistoriamilitar.blogspot.com/2011/09/o-japao-na-1-guerra-mundial.html>. Acessado em: 18/07/2022
FELIPPE, Fabricia. Repensando a Guerra da Coreia: O Papel das Grandes Potências na criação e perpetuação do conflito da Península Coreana. Associação Brasileira de Estuados de Defesa, Encontro Reginal, 2019. Disponível em: <https://www.erabedsudeste2019.abedef.org/resources/anais/12/erabedsudeste2019/1570925331_ARQUIVO_e26b9c6d35d7c83bc8feecc3a75f55af.pdf>. Acessado em: 18/07/2022
LIMA, Diogo Shimizu. O Expansionismo Territorial Nipônico. Disponível em: < https://www.pucsp.br/geap/artigos/diogo-japao.PDF>. Acessado em: 18/07/2022
SONDHAUS, Lawrence. A Primeira Guerra Mundial. São Paulo, Contexto, 2013.
Especialização em História Militar pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), Graduação em História (Bacharel e Licenciatura) pela Universidade Gama Filho (UGF), autor de Artigos em História Militar.