O Hamas ataca Israel

de

Prof. Dr. Ricardo Pereira Cabral

Introdução

Na madrugada do dia 7 de outubro de 2023, milícias do grupo terrorista Hammas, conjuntamente com outros grupos como a Jihad islâmica, a Brigada dos Mártires de Al-Aqsa, a Brigada Al-Quds e o Batalhão Tullkarm lançaram um grande ataque coordenado contra Israel, a Operação Al-Aqsa Flood.

O movimento inicial foi o lançamento de um número elevado de foguetes, mísseis e drones (especula-se algo em torno de pelo menos 5 mil) contra o território israelenses, seguido de uma invasão de grupo militantes a partir de vários pontos da Faixa de Gaza.

A medida que o dia foi passando, as informações davam conta da dimensão do ataque: postos de controle na fronteira, assentamentos próximos a Faixa de Gaza, incursões em diversos locais e combate contra as unidades das IDF (Israeli Defense Forces).

Vários vídeos circulam na internet, provavelmente divulgados pelo Hamas e seus aliados, mostrando cenas de massacres contra militares já rendidos e civis, além de terem feito (presumivelmente) centenas de prisioneiros.

A demora na reação, nos permite inferir que o ataque pegou Israel de surpresa, revelando uma falha (no mínimo de avaliação) do sistema de inteligência (Mossad, Aman, Shin bet, da política israelense e do braço operacional Sayeret Matkal) e um alto nível de controle e sigilo por parte do Hamas e seus aliados.

A Operação Al-Aqsa Flood

https://www.bbc.com/news/world-middle-east-67036625

A operação palestina foi muito bem preparada, as milícias terroristas enfrentaram com sucesso pequenas unidades blindadas e mecanizadas, além de bases militares (Re’im). O ataque demonstrou um grau elevado de treinamento. Com relação a este ponto específico, as especulações são de que elementos do Hezbollah e da Guarda Revolucionária Iraniana tenham participado do treinamento, fornecido parte da logística e de inteligência.

As milícias terroristas continuaram sua infiltração e expandiram seu raio de atuação. Outras unidades se esconderam para perpetrar assassinatos, emboscadas e sabotagens dentro do território israelense.

O Hamas tem adotado a estratégia de empregar pequenos grupos de combate (de 10 a 20 combatentes) embarcados em technicals (para dar algum poder de fogo), caminhonetes, SUV entre outros tipos de veículos, explorando a mobilidade e a velocidade a fim de realizar ataques pontuais nas estradas, contra instalações militares, infraestrutura civil etc. Neste caso, esses grupos estão atuando com grande iniciativa e sem muita coordenação. A utilização dessa tática, obriga as IDF a dispersas suas forças para combates esses grupos.

https://www.reuters.com/world/middle-east/sirens-warning-incoming-rockets-sound-around-gaza-near-tel-aviv-2023-10-07/

O governo israelense demorou a se dar conta da extensão dos ataques e a reação veio de ataques retaliatórios da Força Aérea contra alvos em Gaza. Posteriormente, foi decretada mobilização total e o primeiro-ministro Bejamin Netanyahu declarou estado de guerra ao Hamas.

No dia 8 de outubro, o Hamas e seus aliados prosseguiram em suas ações ofensivas com suas milícias dentro de Israel, ataques com foguetes e drones. O Hezbollah fez um ataque pontual e limitado (granadas de artilharia e mísseis guiados) a posições israelenses na fronteira com o Líbano para “demonstrar solidariedade”, sem maiores consequências. Até o momento, não é possível vislumbrar a possibilidade do Hezbollah se engajar em combate contra Israel.

https://www.aljazeera.com/news/2023/10/8/what-is-the-group-hamas-a-simple-guide-tothe-palestinian-group

Neste mesmo dia 8 de outubro, chegaram notícias, já confirmadas do assassinato de Ayman Younes, líder do Hamas em Gaza. Os combates prosseguem com intensidade, com as IDF tentando eliminar os grupos terroristas infiltrados. O Hamas continua a lançar seus foguetes contra Israel que reponde com ataques da força aérea e desdobrando mais unidades do Iron Dome, que está sobrecarregado e algumas localidades foi desativado devido à falta de munição. As primeiras unidades mobilizadas por Israel já estão sendo empenhadas na operação de “limpeza”. Notícias recentes (manhã no horário local) dão conta que uma segunda vaga de infiltrações, a partir de Gaza, está ocorrendo e mais unidades israelenses estão em processo de reorganização para serem desdobradas.

O Hamas também tentou infiltrar grupos de combate por mar, mas as notícias que chegam é que até o momento a Marinha israelense tem conseguido neutralizar, o que, sinceramente, é muito improvável.

O Hamas está recebendo apoio e solidariedade dos países árabes e o Talibã se ofereceu para enviar combatentes afim de reconquistar Jerusalém.

Recebemos notícias de que estão ocorrendo atentados contra israelenses no Egito (confirmado) e em outras parte da região (não confirmado).

Até o momento as IDF estão empenhadas em eliminar as infiltrações dos terroristas em seus territórios e pelo limitar a ameaça representada pelo drones, mísseis e foguetes. A possibilidade de ações de grande envergadura por parte das IDF são enormes tendo em vista a ordem para evacuação dos assentamentos próximos a Gaza e a fronteira com o Líbano.

Israel não tem profundidade estratégica, é um país muito pequeno, então o grau de vulnerabilidade é muito alto. A tendência é uma crescente de violência nos próximos dias, principalmente, se as IDF invadirem Gaza para reformular a região como prometido por Tel Aviv.

O site russo Rybar trouxe as seguintes atualizações (até as 18h, hora local)

“Os palestinos continuam a sua ofensiva, expandindo a zona de controle em torno da Faixa de Gaza. Às 18h, começaram as marchas e eclodiram os combates na Cisjordânia

  • Direção Norte:

▪ Os confrontos continuam em Sderot, onde as FDI conseguiram expulsar os palestinos de uma delegacia de polícia, mas vários grupos militantes ainda se movimentam pela cidade.

▪ Os palestinos controlam com confiança o troço da estrada que liga a Faixa de Gaza através de Netiv Ha’Asara – Mav’akim – Bat Hadar – os subúrbios orientais de Ashkelon. O destino da base militar das FDI a oeste de Zikim é desconhecido; o assentamento Karmia está atualmente sendo invadido por grupos palestinos.

▪ A julgar pelas imagens vagas de Ashdod, existem células adormecidas e grupos separados de militantes disfarçados de refugiados operando ali.

  • Direção Leste:

▪ Em Ofakim, grupos militantes palestinos são destruídos de tempos em tempos. Não há controle palestino sobre a cidade.

▪ Fontes palestinas afirmam que as forças principais chegaram à Rodovia 232. Anteriormente, a atividade do DRG foi relatada nos assentamentos de Beeri e Reim localizados perto desta rodovia (depois que as IDF anunciaram uma operação de limpeza, que, aparentemente, não deu um resultado sustentável).

▪ Nenhum dos lados tem controle sobre o trecho de Kifushima a Ofakim .

  • Direção Sul:

 ▪ Os palestinos lançaram um ataque a Ami’oz, expandindo a sua zona de controle no sul. Os combates continuam em Tkuma e Be’eri, onde militantes conseguiram fazer vários israelenses como reféns.

  • Cisjordânia:

 ▪ Às 18h00, os palestinos começaram a invadir postos de controle e postos de segurança. A geografia das batalhas se expandirá bastante nas próximas horas.

  • Fronteira com o Líbano:

▪ Até agora, o Hezbollah tem-se distinguido com slogans ruidosos e bombardeamentos esporádicos. Os israelenses responderam ao fogo e estão desdobrando tanques para a fronteira.

▪ As evacuações estão sendo realizadas em assentamentos fronteiriças no norte”

Algumas considerações geopolíticas:

– Os EUA e seus aliados ocidentais praticamente não tem capacidade de apoiar Israel, tendo em vista terem quase que esgotado seus recursos com a Guerra da Ucrânia, só restando aqueles para a sua autodefesa;

– Washington, Riad e Tel Aviv estavam desenvolvendo esforços para “normalizar” as relações diplomáticas e reduzir as tensões. A principal dificuldade era obter de Netanyahu maiores concessões aos palestinos, mas devido ao enfraquecimento do governo havia uma perspectiva positiva em relação a um acordo. O ataque do Hamas vai no mínimo atrasar o processo, que está vinculado diretamente ao nível de destruição que Israel pretende impor aos palestino;

– A operação do Hamas mais do que a própria causa palestina, serve muito bem aos interesses de Teerã;

– o apoio árabe aos palestinos é formal e retórico, em poucas ocasiões passou disso, ainda mais quando se percebe a influência de Teerã nas ações. No entanto, por prudência é melhor esperar o desenrolar dos acontecimentos;

– Não podemos descartar a possibilidade de que grupos radicais expandam o conflito ou provoquem Israel a ponto de que as IDF tenha que desenvolver operações fora de suas fronteiras.

Imagem de Destaque: https://www.thenationalnews.com/mena/2023/10/07/palestinian-militants-launch-dozens-of-rockets-into-israel/

Fontes

https://www.thenationalnews.com/mena/2023/10/07/palestinian-militants-launch-dozens-of-rockets-into-israel/

https://www.bbc.com/news/world-middle-east-64423267

https://t.me/s/rybar?before=52914#:~:text=12%3A19-,Pescador,As%20evacua%C3%A7%C3%B5es%20est%C3%A3o%20sendo%20realizadas%20em%20aldeias%20fronteiri%C3%A7as%20no%20norte,-.%0A%0AMapa%20em

https://www.haaretz.com/israel-news/2023-10-08/ty-article/.premium/six-significant-failures-that-lead-to-one-point-collapse-vs-hamas/0000018b-0f15-dfff-a7eb-afdd0bb80000

https://www.aljazeera.com/news/liveblog/2023/10/8/israel-palestine-escalation-live-israeli-forces-bombard-gaza

https://www.aljazeera.com/news/2023/10/8/what-is-the-group-hamas-a-simple-guide-tothe-palestinian-group

Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.

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