O monitoramento de dois navios sancionados pelo Departamento do Tesouro dos Estados Unidos atraiu grande atenção da comunidade marítima devido às suas atividades de inteligência associadas às operações do Irã. No entanto, não são apenas esses dois navios que desempenham papéis críticos na coleta de informações para ataques a embarcações mercantes. Este artigo examina os detalhes dessas atividades, abordando o impacto geopolítico e estratégico.
Navios MV Saviz e MV Behshad: Estacionários e Vigilantes
Os navios MV Saviz e MV Behshad, controlados pelo grupo estatal Islamic Republic of Iran Shipping Line Group (IRISL), mantiveram posições estacionárias próximas ao Banco Dahlak, dentro das águas territoriais da Eritreia, desde 2016 até janeiro de 2024. Indícios sugerem que essas embarcações operavam sob a direção da Marinha do Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica (IRGC Navy, ou Nesda), como demonstrado pela presença de pessoal uniformizado a bordo e por relatos na imprensa israelense.
Essa suposição foi praticamente confirmada quando o Saviz foi danificado por minas lapa em abril de 2021, em um ataque reconhecido por Israel. Depois do incidente, o Saviz foi substituído pelo Behshad, que posteriormente mudou sua posição para o Golfo de Áden em 2024, após um suposto ciberataque realizado pelos EUA. Ambos os navios desempenharam um papel importante na coleta de informações, repassando dados aos aliados houthis do Irã, apoiando ataques a embarcações mercantes.
Capacidades de inteligência
Os Saviz e Behshad estavam equipados com radares marítimos padrão e antenas complexas, permitindo detecção de alvos a até 50 milhas náuticas. Além disso, podiam receber imagens de alta resolução do satélite iraniano Khayyam e do Kanopus-V, da Rússia. Essas embarcações também podiam se comunicar com uma frota de barcos de pesca usados para coleta de inteligência ou lançar seus próprios barcos de reconhecimento.
Embora não diretamente eficientes para orientação de ataques com mísseis ou drones, essas embarcações poderiam manter uma precisão relativa na monitoração das atividades marítimas, auxiliando nos planos de ataque dos houthis.
Reposicionamento e a presença da Marinha Iraniana Regular
Com o afastamento do Saviz e do Behshad da região do Mar Vermelho, a função de coleta de inteligência parece ter sido atribuída à Marinha regular do Irã (Nedaja). A presença atual é mantida pela 100ª Flotilha, composta pela fragata IRINS Dena e pelo navio de apoio IRINS Bushehr. Esses navios, com pintura cinza característica, conferem uma certa proteção soberana às operações iranianas, mas não são imunes a ataques de minas lapa.
O Saviz e o Behshad, por sua vez, foram reposicionados para águas mais seguras. O Behshad agora opera no Estreito de Ormuz, fortalecendo a defesa costeira do Irã, enquanto o Saviz permanece no norte do Mar Arábico. Este último foi implicado no ataque de um drone Shahed-136 contra o navio-químico MV Chem Pluto em dezembro de 2023, embora uma inspeção indiana no Saviz após o ataque não tenha encontrado evidências incriminadoras.
O papel de navios comerciais na inteligência iraniana
Navios comerciais iranianos, como o MV Artenos e o MV Shiba, também foram observados em atividades suspeitas que sugerem um papel auxiliar na coleta de inteligência. Ambos os navios possuem atividades comerciais normais, mas comportamentos como desvios de rota e interações com embarcações militares indicam uma possível função encoberta de apoio às operações do IRGC e da Marinha regular.
Desafios e consequências geopolíticas
As atividades iranianas se baseiam na suposição de que seus adversários hesitarão em violar convenções internacionais e a Lei do Mar. Contudo, ações resolutas, como os ataques cibernéticos e inspeções marítimas, expõem vulnerabilidades iranianas e têm um efeito dissuasório.
Por enquanto, embarcações iranianas mais sofisticadas, como os porta-drones Shahid Mahdavi e Shahid Bagheri, ainda não foram implantadas na região. Entretanto, sua eventual presença pode representar uma ameaça significativa, especialmente se não enfrentarem desafios robustos.
Conclusão
As operações de inteligência naval do Irã no Mar Vermelho, no Golfo de Áden e em áreas adjacentes demonstram uma combinação de estratégias assimétricas e uso de recursos civis e militares. A resposta coordenada de seus adversários tem sido importante para conter as ambições iranianas, destacando a importância de monitoramento constante e intervenções calculadas para proteger interesses internacionais na região.
Artigo original: https://maritime-executive.com/article/iran-s-spy-ship-activity-extends-beyond-the-red-sea