Interesse americano pela Groelândia pode não ser um bom negócio

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O debate sobre o futuro geopolítico da Groenlândia ganhou novo fôlego após declarações controversas do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que em ocasiões passadas manifestou interesse em adquirir a ilha. O tema abordado por especialistas, incluindo o professor associado ao Royal Danish Defence College, Jon Rahbek-Clemmensen, em artigo no portal War on The Rocks, reflete as complexidades e os desafios de tal proposta, especialmente no contexto das relações internacionais entre os EUA, a Dinamarca e a Groenlândia.

Contexto Geopolítico e Propostas de Aquisição

Em uma coletiva de imprensa em 7 de janeiro, Donald Trump, ainda como presidente eleito, não descartou o uso de força militar para adquirir a Groenlândia. Anteriormente, ele declarou que a “posse e controle” americanos da ilha semi-autônoma, parte do Reino da Dinamarca, eram uma “necessidade absoluta”. Essas declarações reacenderam especulações sobre a possibilidade de outra tentativa de aquisição da ilha, após a fracassada iniciativa de 2019.

Em meio às discussões, ex-funcionários da administração Trump sugeriram planos mais realistas, como a ideia de um Pacto de Livre Associação com uma Groenlândia independente, similar aos acordos entre os EUA e micro-nações do Pacífico, como Palau, Micronésia e Ilhas Marshall. Sob esse acordo, a Groenlândia se tornaria independente da Dinamarca, mas permitiria aos EUA acesso ao seu território em troca de garantias de segurança e suporte econômico-administrativo, incluindo transferências anuais de recursos, serviços diplomáticos e judiciais, e apoio da guarda costeira.

Benefícios e críticas à proposta

Embora os defensores do pacto argumentem que ele traria vantagens estratégicas aos EUA, o professor associado questiona sua viabilidade e relevância. Para ele, os EUA já alcançam seus principais objetivos geopolíticos na região sem a necessidade de tais medidas. Esses objetivos incluem:

  • Presença militar: A Base Espacial Pittufik (antiga Base Aérea de Thule) desempenha um papel crucial em missões de alerta de mísseis, defesa antimísseis e vigilância espacial. Embora a região tenha potencial para maior envolvimento militar, os acordos existentes já garantem acesso adequado.
  • Minerais críticos: A cooperação firmada em 2019 entre os EUA e a Groenlândia promove o desenvolvimento de recursos minerais, incluindo elementos terras-raras, sem a necessidade de reconfigurações políticas complexas.
  • Controle da influência chinesa: Entre 2014 e 2018, empresas e instituições chinesas tentaram, sem sucesso, estabelecer presença na Groenlândia. Isso se deve às medidas eficazes dos governos dinamarquês e americano para limitar essas iniciativas.

Por outro lado, a livre associação acarretaria custos elevados, estimados em pelo menos US$ 700 milhões anuais para substituir o suporte econômico e administrativo da Dinamarca. Além disso, poderia gerar tensões desnecessárias com a Dinamarca, um aliado vital na Europa e membro da OTAN, comprometendo a cooperação bilateral.

A estratégia atual e suas vantagens

Atualmente, os EUA adotam uma estratégia mais pragmática e custo-efetiva para engajar-se com a Groenlândia, sem interferir diretamente nas relações entre a ilha e a Dinamarca. Essa abordagem inclui:

  • Diplomacia pública: Ações conduzidas pelo consulado americano em Nuuk promovem laços culturais e políticos.
  • Incentivos econômicos: Contratos com empresas groenlandesas, apoio aos setores de mineração, turismo e educação, além de pacotes de suporte financeiro modesto, estimados em menos de US$ 50 milhões anuais.
  • Respeito à soberania: Evitar interferência em debates sobre independência da Groenlândia, mantendo-se dentro dos limites das normas dinamarquesas.

Essa estratégia permite aos EUA alcançar seus objetivos sem criar atritos diplomáticos ou assumir encargos financeiros excessivos.

Recomendações e conclusão

O professor associado recomenda que os EUA mantenham e expandam sua estratégia atual, explorando iniciativas de baixo custo para fortalecer os laços com a Groenlândia e a Dinamarca. Sugestões incluem:

  • Investimentos adicionais em turismo, educação e mineração.
  • Criação de esquemas de empréstimos ou fundos especiais para incentivar empresas americanas no ártico.
  • Apoio a um fórum político ártico norte-americano para fortalecer o diálogo entre países e comunidades indígenas da região.

A adoção de esquemas complicados, como a livre associação, seria um erro evitável. Washington deve preservar o que é descrito como um arranjo quase perfeito: atingir seus objetivos geoestratégicos enquanto permite que a Dinamarca arque com os custos de administração da Groenlândia. Dessa forma, os interesses americanos na região permanecerão seguros e sustentáveis, sem comprometer alianças ou onerar recursos.

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