Por Pedro Moraes
O transporte marítimo de grãos tem sido crucial para o comércio global desde os tempos antigos, como evidenciado pelo transporte de grãos da Grécia antiga para alimentar as cidades em crescimento e o uso de navios de grãos especializados pelo Império Romano para importar grãos do norte da África, Sicília e Egito. O transporte marítimo continua sendo vital para o comércio internacional de grãos e produtos agrícolas hoje, com volumes possivelmente ultrapassando 500 milhões de toneladas anuais considerando diferentes tipos de grãos, principalmente do Brasil, Estados Unidos, Austrália e Argentina para a Europa e o Extremo Oriente.
O comércio internacional de grãos não se limita ao transporte de grãos para consumo humano. A produção global de carne aumentou de 46 milhões de toneladas em 1950 para 368 milhões de toneladas em 2023 (estimativa), levando a um aumento na demanda por grãos para ração animal. Com os animais requerendo boa parte da produção mundial de grãos, o crescimento da produção de carne teve um efeito multiplicador na demanda internacional de grãos.
O comércio de grãos é sensível a fatores geopolíticos, como demonstra a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022. A Ucrânia e a Rússia representam 27% e 10% das exportações de trigo, respectivamente, e a interrupção do comércio devido à guerra levou ao aumento dos preços do trigo e de outros produtos agrícolas e insumos.
Outro evento histórico que destaca como a geopolítica e a dependência do transporte marítimo para o abastecimento de alimentos torna as nações vulneráveis ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial, quando o Reino Unido, isolado geograficamente e dependente da importação de alimentos, sofreu um intenso bloqueio naval imposto pela Alemanha, que visava interromper o fluxo de suprimentos essenciais, incluindo grãos e carnes. A estratégia alemã de utilizar submarinos (U-boats) para atacar navios mercantes no Atlântico quase levou o Reino Unido à fome e causou medo até no primeiro-ministro britânico Wilson Churchil, que em seu livro em seu livro Their Finest Hour (1949) disse: “a única coisa que me amedrontou durante a guerra foram os u-boats”.
Também não podemos nos esquecer do Japão, que (também) durante a Segunda Guerra Mundial sofreu um bloqueio naval semelhante, mas por parte da Marinha dos Estados Unidos, que fez grande estrago na Marinha Mercante Japonesa e levou a fome e a falta de diversos produtos essenciais à máquina de guerra do país.
Estes são somente alguns dos exemplos que ilustram a natureza complexa do comércio internacional de grãos e como ele é afetado pela geopolítica. Será que em um cenário hipotético de uma guerra entre EUA e China no Oceano Pacífico conseguiriamos entregar nossos grãos ao nosso maior parceiro comercial?