Stormtroopers (Sturmtruppen)

de

Prof. Dr. Ricardo Pereira Cabral

Os Stormtroopers (soldados de choque) eram soldados especializados em realizar infiltração nas linhas inimigas e atacá-las na retaguarda. Estas tropas buscavam fragilizar pontos da linha de defesa inimiga que permitissem uma força atacante mais poderosa rompê-la.

O Estado-Maior (Großer Generalstab) do Exército Alemão (Deutsches Heer) Alemão entrou na guerra certo de que o conflito seria vencido no decorrer de grandes campanhas militares. Tendo em vista essa percepção, o treinamento individual foi deixado em segundo plano. O Estado-Maior alemão, concentrou seus esforços na mobilização, na guerra de manobra e na exploração racional das ferrovias, em vez de se concentrar na condução das batalhas: essa atitude contribuiu diretamente para as vitórias operacionais da Alemanha na Rússia, Romênia, Sérvia e Itália, mas resultou em fracasso na Frente Ocidental. Assim, os oficiais alemães na Frente Ocidental viram-se na necessidade de resolver a situação de falta de mobilidade tática causada pela guerra de trincheiras no campo de batalha.

https://www.defensemedianetwork.com/stories/1917-special-operations-begin/

Analisando os acontecimentos, o EM alemão identificou dois conceitos com os quais se procurou encontrar uma solução para o problema: o primeiro era a crença, sustentada principalmente pelo general Erich von Falkenhayn, de que a ação tática por si só, a mera matança de soldados inimigos, era um meio suficiente para atingir o objetivo estratégico; o segundo: era a ideia, surgida da experiência de inúmeros “ataques a alvos limitados” e incursões nas trincheiras, de que o combate havia se tornado uma tarefa tão difícil que as considerações operacionais tinham que ser subordinadas às táticas. O promotor deste último conceito foi o marechal de campo Erich Ludendorff, que se tornou o comandante de fato do Exército Imperial Alemão após a derrota alemã na Batalha de Verdun, com seu apoio foram desenvolvidos batalhões de assalto como solução para romper as linhas inimigas e retomar a guerra de manobra.

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A criação dessas unidades foi à primeira, e talvez a mais inovadora, tentativa do Heer de sair do impasse da guerra de trincheiras. Com a utilização de soldados bem treinados, comandados por suboficiais com capacidade liderança e autonomia, procuravam se infiltrar nas posições inimigas e romper suas linhas em pontos pré-definidos, de modo a permitir que as tropas de reforço liquidassem, os inimigos isolados, abrindo grandes brechas nos sistemas defensivos e depois retomando a guerra de manobras, o que teria permitido à Alemanha vencer o conflito. O que era improvável, devido a superioridade numérica e de recursos dos Aliados, mas uma sequência de vitórias poderia desmoralizar as tropas inimigas e forçá-los a uma negociação em termos favoráveis ao Reich.

https://www.quora.com/The-WW1-German-Storm-troopers-had-one-of-the-requirements-for-joining-and-that-was-being-aggressive-why-though-Isnt-everyone-going-over-the-top-just-like-they-are

O desenvolvimento das táticas de infiltração

A primeira unidade de assalto experimental do Heers foi formada na primavera de 1915, fundada pelo Major Calsow e mais tarde comandada e refinada por capitão Willy Rohr. Esses métodos evoluíram ainda mais as táticas de guerra originalmente desenvolvidas pelos prussianos, para formar a base das táticas de infiltração alemãs. As tropas envolvidas foram identificadas como Stoßtruppen (literalmente: “tropas de empurrão”), e o termo foi traduzido como “tropas de tempestade” em inglês.

As versões aliadas de táticas de infiltração foram propostas pela primeira vez pelo capitão do Exército francês André Laffargue. Em 1915 Laffargue publicou um panfleto, “O ataque na guerra de trincheiras”, baseado em suas experiências em combate naquele mesmo ano. Ele defendia que a primeira onda de um ataque identificasse as defesas difíceis de derrotar, mas não as atacasse; as ondas subsequentes fariam isso. Os franceses publicaram seu panfleto “para informação”, mas não o implementaram. Os Exércitos do Império Britânico não traduziram o panfleto, e o Exército Britânico continuou a enfatizar o poder de fogo, embora as propostas de Laffargue fossem gradualmente adotadas, informalmente, pelo Corpo Canadense. O U.S. Infantry Journal publicou uma tradução em 1916.

Os alemães capturaram cópias do panfleto de Laffargue em 1916, traduzindo e distribuindo para as unidades, mas a essa altura os alemães já tinham suas próprias táticas de infiltração mais desenvolvidas e empregadas, mais de dois meses antes do panfleto de Laffargue ser publicado. A principal diferença entre as táticas de infiltração alemã e francesa era que Laffargue recomendou o uso de ondas de infantaria para atacar, apesar das altas baixas que se seguiriam. Já os alemães usavam pequenas unidades pelotões e companhia, combinado fogo e o movimento para avançar, ou seja, um grupo se abriga e faz a base de fogos para o movimento do outro grupo poder avançar e buscar uma posição abrigada onde faram a base de fogos para o grupo avançar, o movimento é repetido até conseguirem conquistar a posição ou ultrapassá-la.

https://militaryhistorynow.com/2014/04/09/achtung-sturmtruppen-10-amazing-facts-about-the-germanys-ww1-stormtroopers/

Os soldados foram treinados para considerar o fogo como um meio de facilitar o movimento em andamento. O movimento seria um chamado para o fogo. N. R. McMahon defendeu o uso de armas combinadas no ataque, particularmente metralhadoras leves (cerca de seis leves e duass pesados por batalhão) usando um controle de fogo descentralizado e sistema de comando tático (conhecido como Auftragstaktik em alemão). Esses métodos, sugeridos em 1909, tinham eram semelhantes com o Stoßtrupptaktik adotado pelos alemães seis anos depois.

Em fevereiro de 1917, o exército britânico emitiu o “Manual SS 143” sobre o assunto. Os britânicos fizeram do pelotão a unidade tática básica em vez da companhia como em 1916. O pelotão era composto de quatro seções, metralhadora leve (Lewis Gun), fuzil lançador de granada, granada e fuzil. A nova organização permitiu ao pelotão fazer o melhor uso do equipamento de combate de trincheiras que havia chegado em quantidade adequada desde o início da Batalha do Somme. Eles também foram apoiados por sofisticados disparos de artilharia e alcance sonoro, algo que o exército alemão nunca aperfeiçoou, confiando no método auditivo com dispositivos de medição cada vez mais precisos.

https://en.wikipedia.org/wiki/Stormtroopers_(Imperial_Germany)#/media/
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O Destacamento de Assalto (Sturmabteilung)

Em 8 de setembro de 1915, o capitão Willy Rohr foi nomeado comandante do Destacamento de Assalto. O Destacamento foi reforçado com um pelotão de metralhadoras, um pelotão de lança-chamas e novos canhões de apoio de infantaria baseados nos canhões russos de 76,2 mm capturados e enviados para o Destacamento.

https://encyclopedia.1914-1918-online.net/article/stormtrooper

O capitão Rohr, a princípio experimentou novos equipamentos de proteção individual, uma armadura e os escudo, mas percebeu que a velocidade era uma proteção melhor do que a armadura. O único item de armadura mantido foi o Stahlhelm, um novo modelo de capacete de aço, que, posteriormente, tornou-se o padrão em todas as unidades alemãs no final da guerra e foi usado durante a Segunda Guerra Mundial.

As novas táticas desenvolvidas por Rohr, baseavam-se em suas próprias experiências no front, no emprego de tropas de assalto, valor esquadrão (“Sturmtruppen” ou “Stoßtruppen”), dotados por uma série de armas pesadas de apoio e artilharia de campo, que deveria ser coordenado no mais baixo nível hierárquico possível e engajando as trincheiras inimigas usando tropas armadas com granadas de mão. Essas táticas foram testadas pela primeira vez em outubro de 1915, em um ataque bem-sucedido a uma posição francesa nas montanhas Vosges.

Em dezembro de 1915, o Destacamento de Assalto começou a treinar homens de outras unidades alemãs nas novas táticas de assalto. Nessa época, o Destacamento de Assalto também mudou alguns de seus equipamentos para melhor atender às suas novas necessidades: calçados mais leves, uniformes e forçados com remendos de couro nos joelhos e cotovelos (para o soldado ao engatinhar e rastejar), sacos especiais para transportar granadas,  e o rifle padrão Gewehr 98 foi substituído pela Karabiner 98. A pistola / carabina do municiador/atirador, a Lange Pistole 08 de 9 mm, passou a ser usada em conjunto com um carregador de tambor com capacidade de 32 munições para aumentar o poder de fogo de curto alcance da unidade. A longa e impraticável baioneta Seitengewehr 98 foi substituída por modelos mais curtos e complementada com facas de trincheira, porretes e outras armas brancas.

Enquanto continuava a treinar outras unidades, o Destacamento de Assalto também participou de várias pequenas incursões de trincheiras e ataques com objetivos limitados. A primeira grande ofensiva liderada pelo Destacamento de Assalto foi o ataque inicial em Verdun em fevereiro de 1916. As tropas de assalto estavam na primeira onda, levando algumas unidades às trincheiras francesas, atacando segundos após a barragem de artilharia ter cessado. Isso normalmente funcionou muito bem, embora tenha funcionado muito melhor contra a primeira linha de trincheira, do que contra a área de retaguarda inimiga menos conhecida.

Em 1 de abril de 1916, o Destacamento de Assalto foi redesignado “Batalhão de Assalto Rohr”. Nessa época foi ampliado de duas para quatro companhias. Ao mesmo tempo, vários batalhões Jäger começaram a treinar novamente como novos Batalhões de Assalto (Sturmbataillon).

https://militaryhistorynow.com/2014/04/09/achtung-sturmtruppen-10-amazing-facts-about-the-germanys-ww1-stormtroopers/

As inovações do general Oskar von Hutier

O general Oskar von Hutier, comandante o VIII Exército e originário da Arma de Infantaria, empregou uma abordagem um pouco diferente nas suas tropas de assalto, combinando alguns táticas antigas e novas em uma estratégia complexa: um bombardeio de artilharia curto, empregando projéteis pesados ​​misturados com vários projéteis de gás venenoso, para neutralizar as linhas de frente inimigas e não tentar destruí-las. Sob uma barragem de artilharia que alongava seus fogos na medida do avanço das tropas de assalto, Stoßtruppen então avançaria, em ordem dispersa. Eles evitariam o combate sempre que possível, se infiltrando nas defesas aliadas em pontos fracos previamente identificados e destruiriam ou capturariam o quartel-general inimigo e os pontos fortes da artilharia. Em seguida, batalhões de infantaria com metralhadoras leves extra, morteiros e lança-chamas, atacariam em frentes estreitas contra qualquer ponto forte aliado que as tropas de choque perdessem. Morteiros e canhões de campanha (um problema de ser deslocado no terreno irregular) estariam no local para disparar conforme necessário para acelerar o avanço. No último estágio do ataque, a infantaria regular acabaria com qualquer resistência aliada remanescente.

O novo método de assalto tinha homens correndo para a frente em pequenos grupos usando qualquer cobertura disponível e lançando fogo supressivo para outros grupos na mesma unidade enquanto avançavam. As novas táticas, destinadas a alcançar a surpresa, eram atacar as partes mais fracas da linha inimiga, contornar seus pontos fortes e abandonar a tentativa fútil de ter um grande e detalhado plano de operações controlado de longe. Em vez disso, os líderes de pelotão e companhia poderiam exercer a iniciativa no local. Quaisquer pontos fortes inimigos que não tenham sido invadidos por stormtroopers poderiam ser atacados pelas tropas do segundo escalão que seguia na esteira dos stormtroopers. As táticas de infiltração e suas unidades especializadas foram disseminadas pelos Exércitos Aliados e dos Impérios Centrais.

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:US_Marines_on_reconnaissance_exercise_2003.jpg

Conclusão

As táticas de infiltração e unidades especializadas em realizar esse tipo de procedimento tático ultrapassando, sem ser percebido, as linhas inimigas e atacando pontos estratégicos na retaguarda inimiga não são novidades. No entanto, durante os primeiros dois anos da 1ª Guerra Mundial, os Estados-Maiores parecem ter esquecido algo básico dos Exércitos.

Escaramuçadores, esclarecedores, caçadores, hussardos entre outras tropas, organizados em pequenas unidades eram tradicionais e coexistiam com grandes unidades de infantaria e cavalaria regular empregadas em ataques frontais. Essas forças leves eram usadas não só para infiltração, mais reconhecimento e desorganizar as forças e a ação do comando durante os combates. No entanto, no período da Grande Guerra, os generais e seus estados-maiores insistiam em ataques frontais.

As Stoormtropers surgiram diante da necessidade de se romper as linhas inimigas sobre pujando a defesa em camadas, algo que só conseguiram em poucas ocasiões, devido à dificuldade da infantaria regular de acompanhar o seu ritmo de avanço. Seu desempenho foi notável, mesmo diante das maiores dificuldades. Tal fato foi reconhecido e foi uma lição aprendida para os Exército, que passaram a ter esse tipo de unidade em sua organização.

Pelotão de Reconhecimento do Exército britânico
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Atualmente essas pequenas frações (pelotões e companhias) são imprescindíveis. As configurações são as mais diversas desde tropas leves no valor esquadrão, até companhias dotadas de blindados leves. São tropas de elite, altamente especializadas, com alto grau de treinamento, capazes de atuar em qualquer terreno, de cumprir uma variada gama de missões, com grande mobilidade, alto grau de letalidade e eficácia em combate, resumindo um recurso valioso para o Comando.

Imagem de Destaque: https://militaryhistorynow.com/2014/04/09/achtung-sturmtruppen-10-amazing-facts-about-the-germanys-ww1-stormtroopers/

Fontes:

Stormtroopers! — 10 Surprising Facts About Germany’s Elite Assault Soldiers of WW1

https://encyclopedia.1914-1918-online.net/article/stormtrooper

1917: Special Operations Begin

https://en.wikipedia.org/wiki/Stormtroopers_(Imperial_Germany)

Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.

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