Como as guerras chegam ao fim

de

As guerras, entendidas como conflitos militares prolongados sustentados pela capacidade combativa das tropas e pelos recursos econômicos das nações envolvidas, costumam terminar de três maneiras: através de uma vitória clara, por meio de um acordo de compromisso ou pela exaustão mútua dos beligerantes. No caso do conflito na Ucrânia, estamos presenciando um cenário onde nenhum dos lados conseguiu alcançar seus objetivos estratégicos completos, levando a um impasse que só pode ser resolvido através de negociações difíceis.

A Rússia iniciou esta guerra com a ambição declarada de conquistar toda a Ucrânia, mas após anos de combates só conseguiu consolidar o controle sobre porções do leste do país. Se o objetivo fosse apenas essas regiões orientais, como alguns agora alegam, Moscou poderia ter declarado vitória muito antes. A realidade é que o exército russo demonstrou ser incapaz de alcançar seus objetivos iniciais mais amplos.

Do outro lado, a Ucrânia e seus aliados ocidentais mantêm a posição de que todo território ocupado deve ser recuperado, incluindo a Crimeia. Porém, a dura verdade é que as forças ucranianas, mesmo com significativo apoio militar ocidental, não demonstraram capacidade de expulsar completamente as tropas russas. Este impasse militar reflete um equilíbrio de forças onde nenhum dos lados pode impor sua vontade ao outro através de meios exclusivamente militares.

A motivação original russa – criar uma zona de amortecimento contra a expansão da OTAN – revelou-se um cálculo estratégico falho. A aliança ocidental nunca teve intenção de invadir a Rússia, e o resultado desta guerra só serviu para fortalecer a presença da OTAN na região. No entanto, Moscou agora se vê presa em uma guerra que não pode vencer militarmente, mas da qual também não pode sair sem garantir algumas conquistas territoriais que justifiquem os enormes custos humanos e materiais já incorridos.

O apoio ocidental à Ucrânia, embora substancial em termos de armamentos e sanções econômicas, sempre teve limites claros. Nem os Estados Unidos nem os países europeus estiveram dispostos a comprometer tropas diretamente no conflito, e o atual esgotamento político em Washington e capitais europeias sugere que o fluxo de ajuda militar pode diminuir antes que a Ucrânia alcance uma posição militar decisiva.

A questão da Crimeia representa particular dificuldade nas negociações. Anexada pela Rússia em 2014, a península tem importância estratégica vital para Moscou, que a considera território russo inegociável. Enquanto isso, a Ucrânia insiste em sua reintegração completa, apoiada por resoluções internacionais. Este impasse territorial, somado à questão do status das regiões do leste, forma o núcleo central das difíceis concessões que ambas as partes terão que considerar.

O fator nuclear acrescenta outra camada de complexidade. A Rússia, como potência nuclear, sempre manteve a dissuasão atômica como última garantia de sua segurança. As potências ocidentais, conscientes deste risco, calibraram cuidadosamente seu apoio para evitar colocar Moscou contra a parede de forma a provocar uma escalada perigosa. Esta dinâmica cria limites naturais para o que pode ser alcançado militarmente pela Ucrânia.

O atual estágio do conflito sugere que estamos entrando na fase final, onde considerações pragmáticas devem superar posições maximalistas de ambos os lados. A Rússia precisa reconhecer que não pode conquistar a Ucrânia por meios militares, enquanto a Ucrânia e seus aliados devem aceitar que a recuperação de todo território ocupado através da força é extremamente improvável. O desafio agora é encontrar uma fórmula diplomática que permita a ambas as partes sair do conflito com sua segurança e dignidade preservadas.

A história mostra que guerras prolongadas frequentemente terminam não quando um lado alcança vitória total, mas quando todos os envolvidos reconhecem que continuar lutando traz mais custos que benefícios potenciais. Na Ucrânia, esse momento de reconhecimento mútuo parece estar se aproximando, marcando o início do fim de um dos conflitos mais devastadores da Europa no século XXI.

Texto analítico adaptado do original: George Friedman

https://geopoliticalfutures.com/author/gfriedman

George Friedman é um analista geopolítico reconhecido internacionalmente e estrategista em assuntos internacionais; fundador e presidente da Geopolitical Futures.

Deixe um comentário

Gostou dos artigos e postagens?

Quer escrever no site?

Consulte nossas Regras de Publicação e em seguida envie seu artigo.

Siga-nos nas Redes Sociais